HOJE NO
"OBSERVADOR"
Investigador português ganha bolsa
de um milhão e meio de euros
Vítor Cardoso, 40 anos, é físico, professor e investigador no Instituto Superior Técnico. Estuda o comportamento das equações de Albert Einstein em condições extremas.
“O objetivo não é ganhar o dinheiro, é fazer a ciência.” Diz quem
acaba de somar a um milhão que já tinha conseguido em 2010 mais milhão e
meio, agora para um projeto que há-de começar em janeiro de 2016 e
estender-se até dezembro de 2020.
.
Vítor Cardoso
é investigador e professor do CENTRA, Centro Multidisciplinar de
Astrofísica, no Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, em
Lisboa, e conseguiu a segunda bolsa do European Research Council (ERC).
“É uma bolsa muito especial, é a mais prestigiada da Europa.” O feito
do português que completou 40 anos a meio de janeiro, se não é inédito,
é, pelo menos, muito raro – “não conheço mais físico nenhum na Europa
que tenha conseguido duas bolsas destas”.
Em 2010 Vítor Cardoso viu o projeto que liderava ser distinguido com
uma bolsa do mesmo ERC, mas no valor de um milhão de euros. “Deu para
muita coisa. Instituiu em Portugal o primeiro grupo que trabalhou em
gravitação, nas teorias de Einstein”. O caminho a seguir nos próximos
anos será o da continuidade, “estamos a falar de tentar perceber quais
os processos mais violentos que existem no universo, e isso também já
era objeto de estudo em 2010.” Ora, esses processos extremamente
violentos “envolvem objetos que são extremamente massivos e que se
deslocam à velocidade da luz: os buracos negros.”
E é o próprio
investigador que lança a pergunta: “Porque é que haveríamos de nos
interessar por isto?” Vítor Cardoso explica que há duas razões –
“teóricas e observacionais” – centrando-se na segunda: “Entender a
colisão de buracos negros é importante porque estamos a perceber que a
grande maioria das galáxias tem um buraco negro no meio. Imagine uma
teia, no centro está uma aranha, neste caso a aranha é o buraco negro.
Temos curiosidade de perceber como é que uma galáxia cresce, como cresce
o buraco negro. Duas galáxias colidem uma com a outra. Que tipo de
radiação é emitida? Como se comportam os dois buracos negros? Isto é
observável.”
Para entender o que se passa no espaço, cá na terra
há que contar com o talento e a inteligência dos humanos e a ajuda de
uma supermáquina. Com os fundos da bolsa atribuída em 2010 Vítor Cardoso
formou uma equipa – “contratámos dois pós-doutorados japoneses e um
italiano – e adquiriu um supercomputador – “chamámos-lhe Baltazar Sete
Sóis, como a personagem do livro de Saramago”.
A potente máquina,
“algumas das simulações dos cálculos que fazemos levam um mês neste
supercomputador, no seu levaria anos, se ele não derretesse a meio do
processo”, ajuda a resolver alguns dos mais complexos cálculos das
equações de Albert Einstein, mas o professor português admite que o
maior investimento é humano, “é o pessoal, o “know how”. A
equipa para trabalhar com os novos fundos terá entre 10 a 15 pessoas,
um ou dois alunos de doutoramento, um mestrando e vários investigadores.
“São sobretudo estrangeiros, franceses, alemães ou italianos.” Aos
gastos com tecnologia e pessoas há ainda que acrescentar várias viagens
para participação em conferências internacionais.
Vítor Cardoso considera que a bolsa que lhe permitirá, e à equipa,
continuar a investigar as equações de Einstein em condições extremas,
nomeadamente, na física e astrofísica de buracos negros e na geração e
deteção de ondas gravitacionais, “é muito importante. A Europa
apercebeu-se que os melhores investigadores estavam a fugir para os EUA e
Canadá. Então lançou estas bolsas. E até já está a conseguir captar
investigadores norte-americanos e canadianos.”
* O homem é forçosamente um "crânio", sentimos orgulho por ser português!
.
Sem comentários:
Enviar um comentário