O que o plano
de Draghi não é
O mega plano de Mário Draghi não é a resposta mágica para resolver todos os problemas, sobretudo de um país como Portugal.
O mega plano de Mário Draghi para promover a procura nos países do
euro e para nos livrar dos riscos, aterradores, de uma deflação, é um
grande passo político, é um pequeno passo na mutualização da dívida
pública europeia, é uma ajuda à economia, não é a resposta mágica para
resolver todos os problemas, sobretudo de um país como Portugal.
Em primeiro lugar, é evidente que este programa de ‘quantitative
easing' dá confiança aos consumidores e às empresas e, por isso, está a
merecer uma reacção positiva dos investidores. É a sua primeira, e
talvez maior, virtude, numa Europa estagnada do ponto de vista
económico, mas também psicológico.
O BCE, na sua estratégia de pequenos passos, para vencer as
resistências da Alemanha, tem hoje uma posição no mercado muito mais
activa. Não esperou, e bem, pelos políticos, que têm uma dificuldade
ainda maior do que o BCE para tomarem decisões à medida das
necessidades. A dificuldade de convencer eleitores e ganhar eleições,
por contraponto às exigências dos mercados, dos que financiam os países
com défice orçamental.
Mário Draghi cedeu à Alemanha quando definiu que 80% do que vier a
ser comprado até Setembro de 2016, à velocidade de até 60 mil milhões de
euros por mês, serão da responsabilidade dos bancos centrais, leia-se,
dos Estados. O risco é mínimo porque não diz respeito às taxas de juro
mas ao eventual ‘default' de um Estado do euro. E, como já todos
percebemos, quando esse risco sucede, o balanço do respectivo banco
central é o menor dos problemas. Ainda assim, 20% do valor do programa
será assumido pelo BCE, numa lógica de risco partilhado entre todos os
países da moeda única. A mutualização, mais um passo, está aí.
O BCE vai despejar muito dinheiro no mercado, mas é necessário que
chegue à economia. Este programa é sobretudo para puxar pelo consumo das
famílias e, só depois, pelo investimento. Em qualquer dos casos, sendo
os potenciais efeitos diferentes de país para país, alguma coisa vai
resultar.
Qual é o risco, até em função das primeiras reacções? Do ponto de
vista europeu, a integração e coordenação das políticas do euro têm de
ir muito além das políticas monetárias, tem de passar também, e
sobretudo, pelas políticas económicas e orçamentais. Depois, seria uma
ilusão, triste, que o discurso político não aproveitasse a oportunidade,
e os incentivos à procura, para reformar a oferta. Sim, não nos
livramos da necessidade de reformas estruturais, da mesma forma que
continuamos a precisar de reduzir a despesa e a carga fiscal, apesar das
leituras flexíveis da Pacto de Estabilidade.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
23/01/15
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