26/01/2015

ANTÓNIO COSTA

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O que o plano 
de Draghi não é

O mega plano de Mário Draghi não é a resposta mágica para resolver todos os problemas, sobretudo de um país como Portugal.

O mega plano de Mário Draghi para promover a procura nos países do euro e para nos livrar dos riscos, aterradores, de uma deflação, é um grande passo político, é um pequeno passo na mutualização da dívida pública europeia, é uma ajuda à economia, não é a resposta mágica para resolver todos os problemas, sobretudo de um país como Portugal.

Em primeiro lugar, é evidente que este programa de ‘quantitative easing' dá confiança aos consumidores e às empresas e, por isso, está a merecer uma reacção positiva dos investidores. É a sua primeira, e talvez maior, virtude, numa Europa estagnada do ponto de vista económico, mas também psicológico.

O BCE, na sua estratégia de pequenos passos, para vencer as resistências da Alemanha, tem hoje uma posição no mercado muito mais activa. Não esperou, e bem, pelos políticos, que têm uma dificuldade ainda maior do que o BCE para tomarem decisões à medida das necessidades. A dificuldade de convencer eleitores e ganhar eleições, por contraponto às exigências dos mercados, dos que financiam os países com défice orçamental.

Mário Draghi cedeu à Alemanha quando definiu que 80% do que vier a ser comprado até Setembro de 2016, à velocidade de até 60 mil milhões de euros por mês, serão da responsabilidade dos bancos centrais, leia-se, dos Estados. O risco é mínimo porque não diz respeito às taxas de juro mas ao eventual ‘default' de um Estado do euro. E, como já todos percebemos, quando esse risco sucede, o balanço do respectivo banco central é o menor dos problemas. Ainda assim, 20% do valor do programa será assumido pelo BCE, numa lógica de risco partilhado entre todos os países da moeda única. A mutualização, mais um passo, está aí.

O BCE vai despejar muito dinheiro no mercado, mas é necessário que chegue à economia. Este programa é sobretudo para puxar pelo consumo das famílias e, só depois, pelo investimento. Em qualquer dos casos, sendo os potenciais efeitos diferentes de país para país, alguma coisa vai resultar.

Qual é o risco, até em função das primeiras reacções? Do ponto de vista europeu, a integração e coordenação das políticas do euro têm de ir muito além das políticas monetárias, tem de passar também, e sobretudo, pelas políticas económicas e orçamentais. Depois, seria uma ilusão, triste, que o discurso político não aproveitasse a oportunidade, e os incentivos à procura, para reformar a oferta. Sim, não nos livramos da necessidade de reformas estruturais, da mesma forma que continuamos a precisar de reduzir a despesa e a carga fiscal, apesar das leituras flexíveis da Pacto de Estabilidade.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
23/01/15


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