HOJE NO
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Seis perguntas chegaram para
Sócrates cair em contradição
Na entrevista à TVI, o ex-primeiro-ministro insiste que a prisão do motorista teve como objectivo pressionar, confessa que teve problemas de dinheiro em Paris e admite ter ido várias vezes a Espanha
Em
apenas seis respostas a partir da cadeia de Évora, José Sócrates tentou
explicar, detalhadamente e por escrito, como foi detido de forma
“injusta e injustificada”. Garantiu que o seu carro nunca passou de
Espanha e admitiu que pediu empréstimos ao amigo Carlos Santos Silva –
igualmente detido – para fazer face a “algumas dificuldades de
liquidez”.
Na entrevista à TVI – que o advogado de defesa diz não ter
sido uma entrevista –, o ex-primeiro-ministro caiu várias vezes em
contradição. Com declarações suas, dos seus advogados e da defesa do
motorista João Perna. O i passou as respostas do ex-governante a pente
fino e comparou-as com factos e declarações anteriores.
Prender para falar
Na entrevista que deu ao i a 27
de Dezembro, Ricardo Candeias, advogado do motorista João Perna,
rejeitou a tese de que as detenções da Operação Marquês fossem ilegais
ou tivessem como finalidade fazer os arguidos falar – ao contrário do
que dissera o advogado de Sócrates. “Não, nunca. Não senti isso em tempo
algum”, afirmou o advogado, acrescentando que o tribunal “está proibido
de prender alguém para que fale”.
Menos de uma semana depois, e na carta enviada à TVI, José Sócrates
voltou a defender que a sua prisão, a do amigo Carlos Santos Silva e a
do motorista são “injustas e injustificadas”. “No fundo, essas prisões
foram ordenadas, como a minha, sem factos que as possam fundamentar”. No
caso da detenção de Perna, o ex-primeiro-ministro foi até mais longe:
“Tratou-se de utilizar a prisão para aterrorizar uma pessoa que julgavam
vulnerável de modo a tentar obter-se sabe-se lá que informação. Um
abuso”. Já Ricardo Candeias, na entrevista ao i, assegurou que o
motorista nunca foi pressionado: “Do que sei, nunca me apercebi que
tenha havido qualquer pressão fosse a que nível fosse”.
As idas ao estrangeiro
A versão apresentada por
José Sócrates sobre as idas do motorista ao estrangeiro também colide
com as explicações de Ricardo Candeias e até com as justificações do
próprio advogado de defesa, João Araújo. O ex-primeiro-ministro garantiu
que João Perna nunca lhe foi entregar malas com dinheiro a Paris.
“Nunca o meu motorista foi a Paris; nunca me levou nenhuma mala de
dinheiro; e nunca o meu carro foi além de Espanha (onde fui passar
curtos períodos de férias e pouco mais)”.
A versão do advogado do motorista é outra. Ricardo Candeias admitiu
que o seu cliente “saiu várias vezes de Portugal” para “fazer recados,
transportar pessoas, etc.” a José Sócrates. Há ainda uma terceira
versão: a do advogado do ex-primeiro-ministro. Numa recente entrevista à
TVI, João Araújo reafirmou que João Perna nunca terá saído de Portugal
como motorista de Sócrates “Foi uma vez a Badajoz fazer a revisão do
carro. É aqui ao lado”, ironizou.
Os empréstimos do amigo
Nas seis perguntas enviadas
da prisão, Sócrates contou que, devido a “algumas dificuldades de
liquidez” que atravessou “em certos momentos”, recorreu “várias vezes” a
empréstimos concedidos pelo amigo Carlos Santos Silva. “Sinceramente,
não me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime”,
acrescentou.
As “dificuldades de liquidez”, segundo a carta do
ex-primeiro--ministro, aconteceram quando teve “parte da família em
Paris” e no período em que viveu entre a capital francesa e Lisboa.
Porém, em 2013, numa entrevista à RTP, Sócrates admitiu ter pedido um
empréstimo à Caixa Geral de Depósitos (CGD), depois de sair derrotado
das eleições legislativas de 2011. “A primeira coisa que fiz quando saí
de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver
um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade a nível profissional”,
contou. O empréstimo rondou os 100 mil euros e, segundo o jornal “Sol”, o
ex-governante gastou 95 mil num Mercedes pago a leasing.
Em Paris, onde estudava Filosofia Política, e apesar das
“dificuldades de liquidez”, Sócrates gastaria, de acordo com as contas
do “Correio da Manhã”, 15 mil euros por mês. E, diz o “Sol”,
frequentava os mais caros restaurantes da capital francesa.
A proibição das entrevistas
As contradições de José
Sócrates não se ficam pela carta à TVI. No fim-de-semana, o advogado de
defesa Pedro Delille disse aos jornalistas que as seis respostas do
ex-primeiro-ministro “não foram uma entrevista”. Porém, Sócrates escreve
várias vezes, na carta, que se trata de uma entrevista e a primeira
frase é mesmo: “Dou esta entrevista em legítima defesa”.
Pedro
Delille também disse que “não há nenhuma decisão do director geral” dos
Serviços Prisionais” no sentido de proibir José Sócrates de dar
entrevistas. Contudo, a defesa do ex-primeiro-ministro, sabe o i, foi
informada por Rui Sá Gomes do impedimento de o fazer.
Após a detenção em
Évora, o “Expresso” e a RTP apresentaram pedidos formais para
entrevistas, que foram encaminhados ao director-geral. Rui Sá Gomes
consultou o juiz Carlos Alexandre e o Ministério Público – que, ao
abrigo da Lei de Execução de Penas, declinaram os pedidos. E Rui Sá
Gomes comunicou esse facto à defesa de José Sócrates.
* Não nos apetece muito dar notícias sobre o aldrabão do Socrates, aldrabão é, criminoso a justiça há-de apurar, mas esta notícia até tem piada.
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