05/01/2015

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HOJE NO
"i"

Seis perguntas chegaram para
 Sócrates cair em contradição 

Na entrevista à TVI, o ex-primeiro-ministro insiste que a prisão do motorista teve como objectivo pressionar, confessa que teve problemas de dinheiro em Paris e admite ter ido várias vezes a Espanha

Em apenas seis respostas a partir da cadeia de Évora, José Sócrates tentou explicar, detalhadamente e por escrito, como foi detido de forma “injusta e injustificada”. Garantiu que o seu carro nunca passou de Espanha e admitiu que pediu empréstimos ao amigo Carlos Santos Silva – igualmente detido – para fazer face a “algumas dificuldades de liquidez”. 


Na entrevista à TVI – que o advogado de defesa diz não ter sido uma entrevista –, o ex-primeiro-ministro caiu várias vezes em contradição. Com declarações suas, dos seus advogados e da defesa do motorista João Perna. O i passou as respostas do ex-governante a pente fino e comparou-as com factos e declarações anteriores. 

Prender para falar  
Na entrevista que deu ao i a 27 de Dezembro, Ricardo Candeias, advogado do motorista João Perna, rejeitou a tese de que as detenções da Operação Marquês fossem ilegais ou tivessem como finalidade fazer os arguidos falar – ao contrário do que dissera o advogado de Sócrates. “Não, nunca. Não senti isso em tempo algum”, afirmou o advogado, acrescentando que o tribunal “está proibido de prender alguém para que fale”. 

Menos de uma semana depois, e na carta enviada à TVI, José Sócrates voltou a defender que a sua prisão, a do amigo Carlos Santos Silva e a do motorista são “injustas e injustificadas”. “No fundo, essas prisões foram ordenadas, como a minha, sem factos que as possam fundamentar”. No caso da detenção de Perna, o ex-primeiro-ministro foi até mais longe: “Tratou-se de utilizar a prisão para aterrorizar uma pessoa que julgavam vulnerável de modo a tentar obter-se sabe-se lá que informação. Um abuso”. Já Ricardo Candeias, na entrevista ao i, assegurou que o motorista nunca foi pressionado: “Do que sei, nunca me apercebi que tenha havido qualquer pressão fosse a que nível fosse”. 

As idas ao estrangeiro  
A versão apresentada por José Sócrates sobre as idas do motorista ao estrangeiro também colide com as explicações de Ricardo Candeias e até com as justificações do próprio advogado de defesa, João Araújo. O ex-primeiro-ministro garantiu que João Perna nunca lhe foi entregar malas com dinheiro a Paris. “Nunca o meu motorista foi a Paris; nunca me levou nenhuma mala de dinheiro; e nunca o meu carro foi além de Espanha (onde fui passar curtos períodos de férias e pouco mais)”. 

A versão do advogado do motorista é outra. Ricardo Candeias admitiu que o seu cliente “saiu várias vezes de Portugal” para “fazer recados, transportar pessoas, etc.” a José Sócrates. Há ainda uma terceira versão: a do advogado do ex-primeiro-ministro. Numa recente entrevista à TVI, João Araújo reafirmou que João Perna nunca terá saído de Portugal como motorista de Sócrates “Foi uma vez a Badajoz fazer a revisão do carro. É aqui ao lado”, ironizou. 

Os empréstimos do amigo 
  Nas seis perguntas enviadas da prisão, Sócrates contou que, devido a “algumas dificuldades de liquidez” que atravessou “em certos momentos”, recorreu “várias vezes” a empréstimos concedidos pelo amigo Carlos Santos Silva. “Sinceramente, não me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime”, acrescentou. 

As “dificuldades de liquidez”, segundo a carta do ex-primeiro--ministro, aconteceram quando teve “parte da família em Paris” e no período em que viveu entre a capital francesa e Lisboa. Porém, em 2013, numa entrevista à RTP, Sócrates admitiu ter pedido um empréstimo à Caixa Geral de Depósitos (CGD), depois de sair derrotado das eleições legislativas de 2011. “A primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade a nível profissional”, contou. O empréstimo rondou os 100 mil euros e, segundo o jornal “Sol”, o ex-governante gastou 95 mil num Mercedes pago a leasing. 

Em Paris, onde estudava Filosofia Política, e apesar das “dificuldades de liquidez”, Sócrates gastaria, de acordo com as contas do “Correio da Manhã”, 15 mil euros por mês. E, diz  o “Sol”, frequentava os mais caros restaurantes da capital francesa. 
 
A proibição das entrevistas  
As contradições de José Sócrates não se ficam pela carta à TVI. No fim-de-semana, o advogado de defesa Pedro Delille disse aos jornalistas que as seis respostas do ex-primeiro-ministro “não foram uma entrevista”. Porém, Sócrates escreve várias vezes, na carta, que se trata de uma entrevista e a primeira frase é mesmo: “Dou esta entrevista em legítima defesa”. 

Pedro Delille também disse que “não há nenhuma decisão do director geral” dos Serviços Prisionais” no sentido de proibir José Sócrates de dar entrevistas. Contudo, a defesa do ex-primeiro-ministro, sabe o i, foi informada por Rui Sá Gomes do impedimento de o fazer. 

Após a detenção em Évora, o “Expresso” e a RTP apresentaram pedidos formais para entrevistas, que foram encaminhados ao director-geral. Rui Sá Gomes consultou o juiz Carlos Alexandre e o Ministério Público – que, ao abrigo da Lei de Execução de Penas, declinaram os pedidos. E Rui Sá Gomes comunicou esse facto à defesa de José Sócrates. 

* Não nos apetece muito dar notícias sobre o aldrabão do Socrates, aldrabão é, criminoso a justiça há-de apurar, mas esta notícia até tem piada.


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