16/12/2014

TERESA RUEL

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A purga 

O processo de transição em curso proporciona a oportunidade de elevar os desígnios da autonomia

Estamos perante um momento de transição. Assumido e esperado por muitos, ainda que desencadeado a partir de um núcleo restrito. O sujeito e o objecto deste momento de transição é o mesmo – Alberto João Jardim. A partir de dentro, o PSD-Madeira, organizou o momento de viragem na política regional. 

A antecâmara do “fim de ciclo” foram as Eleições Regionais de 2011, onde o partido maioritário perde pela primeira vez a maioria absoluta no parlamento (em % de votos e número de mandatos, em relação a 2007), e reforçada com as eleições internas de 2012, onde Miguel Albuquerque desafia, pela primeira vez em democracia, a liderança do partido. Apesar de se constituir, até à data, parte do núcleo restrito da elite partidária, assume a ruptura com o estilo dominante. Por uma margem mínima, a liderança manteve-se inalterada, mas o processo abriu o seu curso. As Eleições Autárquicas de 2013 reiteraram o declínio de um paradigma, de um núcleo duro de vitórias eleitorais.

Chegados a 2014, é o próprio AJJ que desencadeia a forma, o dia e a hora da própria saída. A forma é clara: “não deixem cair o partido nas mãos de maus companheiros”, isto é, ao mesmo tempo que abandona a casa que fez sua nos últimos quase 40 anos (o PSD), inicia o “movimento de moradores” na Rua dos Netos e prescreve a receita da purga: a “eliminação de indivíduos considerados indesejáveis ou pouco seguros por certos partidos políticos” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). O registo não é novo, a História tem vários episódios. O prólogo está marcado para dia 12 de Janeiro, depois da consagração de um dos seis candidatos perfilados à “sucessão”. O final de ano de 2014 pertence aos militantes do PSD-Madeira. 

A transição para um novo ciclo convoca todos os cidadãos eleitores madeirenses. O teste à cultura política, à maturidade democrática, à performance e aos resultados governativos estarão em cima da mesa, mas também a avaliação da própria oposição, que foi incapaz de desafiar o poder instituído ao nível regional. O processo de transição em curso proporciona a oportunidade de elevar os desígnios da autonomia e da democracia, abandonando os utilitarismos e oportunismos que prevalecem (ou prevaleceram) ao longo do tempo nos sectores públicos e privados da vida pública regional. Aos que fazem e aos que deixam fazer, não vale fingir que não são daqui! 

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
16/12/14


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