A purga
O processo de transição em curso proporciona a oportunidade de elevar os desígnios da autonomia
Estamos perante um momento de transição. Assumido e esperado por
muitos, ainda que desencadeado a partir de um núcleo restrito. O sujeito
e o objecto deste momento de transição é o mesmo – Alberto João Jardim.
A partir de dentro, o PSD-Madeira, organizou o momento de viragem na
política regional.
A antecâmara do “fim de ciclo” foram as Eleições
Regionais de 2011, onde o partido maioritário perde pela primeira vez a
maioria absoluta no parlamento (em % de votos e número de mandatos, em
relação a 2007), e reforçada com as eleições internas de 2012, onde
Miguel Albuquerque desafia, pela primeira vez em democracia, a liderança
do partido. Apesar de se constituir, até à data, parte do núcleo
restrito da elite partidária, assume a ruptura com o estilo dominante.
Por uma margem mínima, a liderança manteve-se inalterada, mas o processo
abriu o seu curso. As Eleições Autárquicas de 2013 reiteraram o
declínio de um paradigma, de um núcleo duro de vitórias eleitorais.
Chegados a 2014, é o próprio AJJ que desencadeia a forma, o dia e a
hora da própria saída. A forma é clara: “não deixem cair o partido nas
mãos de maus companheiros”, isto é, ao mesmo tempo que abandona a casa
que fez sua nos últimos quase 40 anos (o PSD), inicia o “movimento de
moradores” na Rua dos Netos e prescreve a receita da purga: a
“eliminação de indivíduos considerados indesejáveis ou pouco seguros por
certos partidos políticos” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). O
registo não é novo, a História tem vários episódios. O prólogo está
marcado para dia 12 de Janeiro, depois da consagração de um dos seis
candidatos perfilados à “sucessão”. O final de ano de 2014 pertence aos
militantes do PSD-Madeira.
A transição para um novo ciclo convoca todos os cidadãos eleitores
madeirenses. O teste à cultura política, à maturidade democrática, à
performance e aos resultados governativos estarão em cima da mesa, mas
também a avaliação da própria oposição, que foi incapaz de desafiar o
poder instituído ao nível regional. O processo de transição em curso
proporciona a oportunidade de elevar os desígnios da autonomia e da
democracia, abandonando os utilitarismos e oportunismos que prevalecem
(ou prevaleceram) ao longo do tempo nos sectores públicos e privados da
vida pública regional. Aos que fazem e aos que deixam fazer, não vale
fingir que não são daqui!
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
16/12/14
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