Passos: por que não te calas?
Passos Coelho inaugurou uma agressão ao Estado de
direito democrático, com a chantagem repetida sobre o Tribunal
Constitucional (TC). Disse coisas escandalosas como esta: "como é que
uma sociedade com transparência e maturidade pode conferir tamanhos
poderes a alguém que não foi escrutinado democraticamente" (referindo-se
ao TC, Agência Lusa, 05.06.2014).
.
.
Com o mesmo espírito antidemocrático, faz agora
encomendas à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES. Diz o
inocente primeiro-ministro que a comissão de inquérito parlamentar deve
focar-se na "gestão do BES".
.
.
Os deputados da maioria, que exercem um mandato
constitucional livre, e não de serviço, logo mudaram, e abruptamente, de
posição sobre a atuação do governador do Banco de Portugal.
.
.
Em vez de fazerem um trabalho sério, com os
constrangimentos de haver arguidos ouvidos, dirigido à atuação de
gestores anteriores e atuais do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo
Espírito Santo (GES), ao Governo de coligação PSD/CDS e aos reguladores,
sobretudo ao Banco de Portugal (BdP), os deputados do PSD iniciaram os
trabalhos na comissão de inquérito parlamentar com uma atitude agressiva
relativamente à regulação, particularmente no que respeita ao Banco de
Portugal, mas, de um dia para o outro, escutando o mandante (Passos),
ficaram bipolares e o mundo parou no BES. Repentinamente, o governador
do Banco de Portugal teve uma intervenção "irrepreensível" ou
"rigorosa". Do ataque ao governador do Banco de Portugal, o PSD passou
para a sua defesa.
.
.
Se parece claro que Ricardo Salgado é o maior o
responsável por aquilo que se passou no banco, não podemos permitir que
se apaguem as responsabilidades de administradores executivos do BES.
.
.
Exige-se também aos deputados, para bem do prestígio do
Parlamento e da Política, que se apure da atuação de Carlos Costa entre
o final de 2013 e o início de agosto de 2014 e da do Governo.
.
.
O Governo apoiou primeiro a estratégia de não
substituição de Salgado antes de julho de 2014 e foi o ator principal da
resolução política que implicou a injeção de 3,9 mil milhões de euros
do erário público. Esta intervenção foi boa? É que inicialmente
baseou-se na existência de um buraco financeiro de 1,5 mil milhões de
euros, mas que acabou em 4,9 mil milhões de euros. Como afirmou e bem o
meu camarada Pedro Nuno Santos "o que explica essa diferença três vezes
superior à prevista é muito provavelmente o crédito concedido pelo BES
ao Banco Espírito Santo de Angola (BESA). Ao colocar o BESA no BES mau, a
resolução [do Governo] facilitou a revogação da garantia [do Estado
angolano] ".
.
.
Ora, tudo isto, sem agendas, deve ser apurado e do apurado devemos tirar lições para o futuro.
A não ser assim, ficará mais uma comissão de inquérito descredibilizada e nesse descrédito a democracia.
Era recomendável que alguém se dirigisse a Passos Coelho, qual ex-Rei de Espanha:- por que não te calas?
.
Sem comentários:
Enviar um comentário