06/12/2014

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HOJE NO
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Hong Kong. 
Dez semanas de protestos vão
 acabar sem honra e glória

Com cada vez menos adesão e popularidade, os protestos dos estudantes parecem estar a terminar sem nada ter sido alcançado nestas dez semanas

Parece estar próximo o tempo de os manifestantes que ocuparam as ruas de Hong Kong nas últimas dez semanas pegarem nos seus guarda-chuvas e irem para casa. O movimento pró-democracia iniciou-se com o anúncio do governo central da China sobre a eleição democrática do chefe do executivo de Hong Kong, em 2017. No fim de Agosto ficou esclarecido que isto se traduziria em sufrágio universal, em vez de a eleição ser feita por um colégio eleitoral, como acontecia anteriormente. No entanto, a lista de candidatos à actual posição de Leung Chun-ying, chefe executivo da região administrativa especial, está restrita aos nomes aprovados por Pequim. 
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 Assim, no fim de Setembro, cidadãos de Hong Kong começaram a revoltar-se contra esta lista restrita, revolta que desaguou no movimento de desobediência civil Occupy Central with Love and Peace. Com este intuito, mais de 200 mil pessoas ocuparam as ruas de Hong Kong, em protesto, nos últimos dois meses. 

"Vão para casa "
 Hoje não estão 200 mil pessoas nos protestos, que foram perdendo entusiasmo à medida que nada se atingia. Esta semana, o trio que liderou o Occupy e idealizou o início da ocupação decidiu terminá-la. Na quarta entregaram-se à polícia, dizendo-se prontos a enfrentar as consequências da desobediência civil, e foram libertados sem acusações. Anunciaram que esta não era a forma de continuar a protestar e pediram a todos os manifestantes que também se retirassem das ruas e fossem para casa. 

MOVIMENTO PACÍFICO? 
  As razões para estes líderes terminarem a ocupação devem-se também ao facto de os protestos terem mudado de forma. Se a matriz original era pacífica ("with Love and Peace") e os manifestantes protestariam sentando-se nas ruas, não oferecendo resistência se fossem detidos pela polícia, isto não se verifica nas ruas da cidade. O facto é que esta semana se viveram os piores confrontos entre os manifestantes e a polícia.
Na última semana, a polícia removeu os acampamentos da zona comercial de Mong Kok, um dos principais locais de protesto. A acção resultou em cerca de 100 detenções.
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 A resposta dos manifestantes foi aumentar a violência. Na noite de domingo, a Hong Kong Federation of Students organizou uma tentativa de cerco aos edifícios do governo, na zona de Admiralty.
Esta tentativa foi rapidamente sustida: os manifestantes foram removidos pela polícia com jactos de água, gás-pimenta e cassetetes - sem paz. E os estudantes também não a esperavam. Foram equipados com capacetes e óculos das obras, escudos improvisados e os guarda-chuvas que usam para se defender do gás lacrimogéneo e que deram o nome ao movimento. Na madrugada de segunda-feira, mais de 40 haviam sido detidos e vários estavam feridos.
Depois deste fracasso, C. Y. Leung avisou os manifestantes que não poderiam voltar às ruas, ou a resposta policial seria "enérgica". 

ÚLTIMO RECURSO 
  Este é um protesto confuso de vários grupos com vários líderes, sem um porta-voz único. Agora, se alguns desistiram, outros não retiram as sua tendas coloridas das avenidas de Admiralty. Se a tentativa de violência correu mal, tentam-se agora outras coisas.
O jovem líder do grupo Schlolarism iniciou uma greve de fome que promete terminar apenas quando for agendada uma reunião com o governo. Já passaram seis dias e outros activistas juntaram-se a Joshua Wong. Este jovem de 18 anos diz compreender que a sua greve de fome pode não ser determinante nas opções do governo, mas espera colocar-lhes alguma pressão e, sobretudo, "chamar a atenção" para a causa.
C. Y. Leung - cuja demissão é pedida pelos grupos de manifestantes, juntamente com a de Tsang Wai-hung, chefe da polícia de Hong Kong - já classificou a greve de fome de inútil. 

POPULAÇÃO FARTA 
  Os protestos parecem ter caído em saco roto. O governo não mostra quaisquer sinais de desistência e, da única vez que aceitou conversar com os manifestantes, as conversações terminaram rapidamente, sem nenhum compromisso. 
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 No entanto, os governantes querem que os manifestantes se retirem e o movimento colapse sem ser preciso usar de violência, sem parecerem agressores. Por isso, se a tentativa de cerco foi veementemente reprimida, alguns acampamentos coloridos mantêm-se pacíficos.
Para lá das tendas, a população de Hong Kong mostra-se farta. A maioria não apoia os manifestantes, concordando até com as acções policiais para retirar as barricadas, segundo a sondagem da Universidade de Hong Kong. 

No último domingo, a acção dirigia-se aos edifícios do governo, mas muitos edifícios públicos e lojas fecharam e, na segunda-feira, as pessoas não puderam ir trabalhar.
Se ao princípio o movimento era visto como algo novo e interessante, passaram-se dez semanas que resultaram em prejuízos económicos, além de as pessoas estarem impedidas de trabalhar e de circular, achando que a cidade foi tomada como refém por protestos que incidem principalmente nos centros administrativo, financeiro e comercial.
Michael Chugani, colunista do "South China Morning Post", jornal de Hong Kong, especifica que o movimento perdeu apoio porque as pessoas perceberam que é um movimento sem liderança e sem organização que apenas atingiu o quotidiano dos cidadãos de Hong Kong, sem respeito pelo Estado de direito.
Já em Pequim, o governo chinês não vê a hora de os protestos terminarem. A publicação "Global Times", do Partido Comunista Chinês, defende que "se os violentos protestos de rua se tornarem factos normais e a polícia local não for autorizada a tomar uma atitude dura, Hong Kong ficará provavelmente reduzida à desordem", pressionando Hong Kong para acabar com os protestos.
O FIM? Depois de dois meses de um braço-de-ferro entre o governo de Hong Kong e os manifestantes na rua, os activistas parecem estar a perder.
Quando os líderes dos protestos se retiraram, disseram fazê-lo "para que a comunidade crie maiores raízes e se estenda o espírito do Umbrella Movement", através de debates públicos, de educação na comunidade e da fundação de grupos democráticos.
A Umbrella Revolution mostrou à própria cidade, à China e ao mundo que em Hong Kong há cidadãos dispostos a lutar pelas reformas democráticas a que aspiram. Esta geração mais jovem está acordada e, se acabaram as ocupações nas ruas, o movimento poderá ser continuado por outros manifestantes noutros lugares. 

* Com honra e muita glória talvez os estudantes regressem a casa. Com honra e glória porque não se imagina a coragem necessária para enfrentar o comitê central do sinistro partido comunista chinês. Talvez regressem porque muitas centenas deles serão perseguidos, proíbidos de continuar o curso, obrigados a mudar de território e até acontecer uma ida prolongada para o cárcere.
Com honra e glória porque germinaram uma semente de revolta, a ditadura chinesa há-se implodir, só pode.

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