Só há uma maneira eficaz e rápida de combatermos esta fome de virtudes: mudar as regras dos jogos de poder.
Para quem julgava cara a separação entre política e
negócios, pois bem, a factura aumentou: para além de políticos,
empresários e banqueiros, chegou a hora de se alargar a defesa deste
princípio ético aos dirigentes da Administração Pública. São estas duas,
as lições a retirar deste caso dos Vistos Dourados.
A demissão
de Miguel Macedo é oportuna e recta, e até pode ser uma jogada
estratégica para o próprio ou mesmo de auto-ajuda para o Governo, mas,
se a demissão afasta a mancha sobre o Governo, não sobrevive à percepção
negra generalizada sobre o Estado, a Administração Pública e as
recentes políticas e preconceitos governamentais e mediáticos dirigidos à
Função Pública, seus funcionários, e ao serviço público.
A par
do Estado e demais instituições públicas, as elites públicas estão a
degradar-se, quando, sobretudo na era da desburocratização,
simplificação e ‘outsourcing' da administração e serviços públicos, elas
são mais necessárias. E estão a degradar-se por dentro, por via de um
sistema autopoiético de jogos, conluios, amiguismos, facilitadores e
intermediários, que se auto-reproduz, precisamente pela contratualização
de redes e favores informais através do preenchimento de lugares, que
não só afasta o mérito, como dificulta e afasta os melhores e mais
dedicados líderes à causa pública, que não têm fome de poder(es),
estatuto ou carreirismo.
É certo que este prisma de governância
pública é apenas um corolário desta predita tragédia, mas tão certo
quanto o definhar das lideranças públicas. Faltam referências éticas,
ligações limpas e transparência e integridade na acção e vida públicas e
administrativas. Só há uma maneira eficaz e rápida de combatermos esta
fome de virtudes: mudar as regras dos jogos de poder. Para começar, pelo
princípio: criar um programa governamental visionário, codificado,
prioritário e participado de boa governação pública para o país.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
20/11/14
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