ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Ricos (pouco) solidários
Uma em cada cinco empresas portuguesas fez, pelo menos, um donativo
de cariz social, segundo um estudo da Sair da Casca e da InformaDB.
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Num
universo de 294 mil sociedades, 54 mil contribuíram monetariamente para
causas sociais, num total de 112,6 milhões de euros, o que representa
0,07% da faturação anual ou 1,9% dos resultados líquidos antes de
impostos.
O estudo, que se refere a dados de 2012, salienta ainda que a
grande maioria (96%) dos donativos foram inferiores a 5 mil euros.
Apenas 22 empresas doaram montantes superiores a meio milhão de euros.
As grandes empresas representam apenas 0,7% do número de donativos,
mas, em contrapartida, 54% do seu valor. Ou seja, mais de 60 milhões de
euros foram entregues por grandes corporações.
Segundo o mesmo documento, entre 2010 e 2012, registou-se uma
quebra de 11% no número de empresas que fizeram contribuições de cariz
social e uma redução de 15% no respetivo valor.
No entanto, na mesma análise, que envolveu somente grandes grupos, a
quantidade de empresas que fez doações em dinheiro baixou 5 por cento.
Mas, por outro lado, o valor dos donativos cresceu 16 por cento. Em
suma, há menos grandes corporações nacionais a fazer contribuições para
instituições sociais, mas os valores são mais generosos.
Filantropos
Entre os que mais gastam em responsabilidade social estão os homens
mais ricos de Portugal. Mas isso não significa que o valor da sua
fortuna seja diretamente proporcional aos montantes que dedicam à
filantropia.
Américo Amorim, por exemplo, que é considerado o homem mais rico do
País, é apenas o terceiro maior contribuinte para ações de
solidariedade, segundo um levantamento feito pela revista Exame, com
base nos relatórios de sustentabilidade das empresas onde estes
milionários têm uma posição dominante.
Por outro lado, Belmiro de Azevedo, o maior acionista da Sonae,
contribuiu com 5,6 milhões de euros para causas sociais, mais do dobro
da doação prestada por Alexandre Soares dos Santos, da Jerónimo Martins,
o segundo maior filantropo de Portugal.
É preciso referir, porém, que, como esta análise se baseia apenas
nos relatórios de sustentabilidade das empresas, não é possível saber,
com exatidão, qual o investimento total que cada um deles fez em ações
de responsabilidade social.
Entre os vários projetos apoiados por Belmiro de Azevedo, como a
Missão Sorriso do Continente, encontra-se também o Instituto de
Imunologia Molecular da Universidade do Porto e a Junior Achievement
Portugal, uma instituição que promove o empreendedorismo de jovens em
idade escolar.
Por seu turno, Alexandre Soares dos Santos dedica parte dos suas
aplicações em responsabilidade social na área da alimentação, quer em
Portugal, quer noutros mercados onde a Jerónimo Martins desenvolve
atividade. Um exemplo é o da Biedronka, a cadeia de supermercados da
Polónia, que tem um largo investimento no combate à má nutrição infantil
e juvenil.
Quanto a Américo Amorim, os seus apoios estão mais centrados na área da educação.
O empresário, ou as suas empresas, apostam muito no desenvolvimento de bolsas de estudo para jovens licenciados.
António Mota, presidente não executivo da Mota Engil, é outro dos
milionários portugueses que desenvolvem, há vários anos, ações de apoio a
instituições sociais. Ao todo, o empresário aplica cerca de 2,1 milhões
de euros por ano em ajudas às comunidades mais carenciadas.
A filantropia não se esgota nestes grandes magnatas. Existem outras
grandes empresas que também fazem uma clara aposta na responsabilidade
social. A Caixa Geral de Depósitos é um dos exemplos, no que toca ao
setor público empresarial. O banco público é muito ativo em projetos de
apoio a desempregados com mais de 40 anos que queiram regressar ao
mercado de trabalho.
A EDP, outra das grandes corporações nacionais,
desenvolve, há vários anos, um programa de apoio a projetos de inclusão
social em bairros problemáticos.
Mais instruído, menos solidário
Pode parecer uma contradição, mas um outro estudo, feito pela
Universidade Católica e pelo Instituto Luso-Ilírio para o
Desenvolvimento Humano, mostra que os portugueses com maiores
habilitações e mais rendimento são os que dão menos importância às
questões de solidariedade.
Uma das conclusões deste trabalho é que, quando questionados sobre a
importância de ajudar o próximo, 86,5% das pessoas com o primeiro ciclo
respondem afirmativamente. Mas a percentagem baixa para 83,4% quando os
inquiridos têm o segundo ciclo e para 73,5% no caso dos que completaram
o terceiro ciclo. Esta percentagem sobe ligeiramente para 76,2%,
tratando-se de pessoas que possuem o secundário e volta a baixar para
59,2% quando as respostas são de bacharéis. Quanto aos licenciados e
doutorados, o resultado fica-se pelos 53,1 por cento.
Ao cruzar a mesma pergunta com o nível de rendimento das pessoas, o
estudo mostra que 86,4% dos que ganham menos de 500 euros mensais acham
ser muito importante ajudar os outros. E, à semelhança do nível de
literacia, esta percentagem vai baixando à medida que o rendimento
disponível sobe. Por exemplo, apenas 46,7% dos inquiridos que ganham
mais do que 4 mil euros mensais acham importante a ajuda aos mais
necessitados.
O estudo mostra, ainda, que, apesar de existir uma maior tolerância
a grupos discriminados pela sociedade, o individualismo cresceu cerca
de 10% nos últimos dez anos, em Portugal.
Uma análise que colide, em parte, com o estudo da Sair da Casca e
da InformaDB, mas que complementa a realidade da sociedade portuguesa no
que toca à responsabilidade social.
Apoios
1,9% dos lucros das empresas são para causas sociais
Banca e Seguros
€24,2 milhões - Os montantes dos donativos provenientes destes setores
Grandes empresas
€2,15 milhões - Média dos donativos das 22 maiores sociedades portuguesas - €2,6 milhões
Soares dos Santos - €2,6 milhões
Apoia vários projetos que promovem a cidadania e o empreendedorismo, tanto em Portugal como noutros países, onde tem negócios
Américo Amorim - €2,3 milhões
Apesar de ser o homem mais rico de Portugal, o industrial do Norte é o terceiro na lista dos maiores filantropos
Belmiro de Azevedo - €5,6 milhões
É através da Sonae SGPS que o empresário desenvolve uma boa parte das ações de caráter social.
* Quanto mais instruído mais forreta em relação aos mais necessitados e a maioria vai à missa.
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