ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Quem é o puto que ameaça Pequim?
Joshua Wong tem apenas 17 anos, uma longa carreira de ativismo e é um dos líderes da "revolução dos chapéus de chuva", um dos maiores desafios políticos que a China enfrenta desde o massacre de Tiananmen
De T-shirt e calções pelo joelho, com os seus óculos de lentes
grossas e armações retangulares, parece um meia leca incapaz de
incomodar quem quer que seja. Mas Joshua Wong Chi-fung é uma estrela
mediática global, tem milhares de amigos e seguidores nas redes sociais
e, na última semana, teve muito pouco tempo para dormir, estudar e jogar
na Playstation.
Os motivos são conhecidos. Além das inúmeras
entrevistas - CNN e Financial Times incluídos - ele foi um dos rostos da
campanha de "desobediência civil" promovida pelos estudantes de Hong
Kong contra as autoridades da antiga colónia britânica e também contra a
República Popular da China. Não aceitam que o território tenha de
submeter-se às regras de Pequim e não possa eleger os seus
representantes por sufrágio direto e universal até ao final desta
década. No final de agosto, o Governo de Pequim fez saber que só
poderiam apresentar--se candidatos cujo currículo e credenciais
patrióticas estivessem acima de qualquer suspeita. Ou seja, fossem da
confiança do Partido Comunista chinês.
Joshua percebeu então que era tempo de mobilizar mundos e fundos. O
miúdo de 17 anos tinha mais uma oportunidade para ser reconhecido pelos
seus compatriotas. Afinal, não era a primeira vez que assistiam ao que
ele era capaz de fazer com um microfone na mão, apesar da dislexia que
lhe foi diagnosticada na infância. Em 2011, ele e um grupo de amigos
criaram o movimento "Scholarism" e, no ano seguinte, lideraram os
protestos contra a intenção das autoridades locais introduzirem nas
escolas uma disciplina de Educação Moral e Nacional. Uma ideia que seria
abandonada graças a Wang e aos que a consideravam uma tentativa de
doutrinar politicamente os alunos.
A favor do ovo, contra a parede
Ainda com 15 anos, escreve a sua autobiografia - "Não sou um herói"
- e critica de forma implacável Leung Chun-ying, o líder da região
administrativa especial de Hong Kong, pela (má) gestão de um acidente
marítimo, em que 39 pessoas perderam a vida. A fama faz com que receba
convites para escrever na imprensa, para ter o seu programa de rádio e
lhe traçarem o perfil e objetivos de vida. "Se um ovo se partir contra
uma parede, não me importa quem tem razão - se a parede, se o ovo. Eu
estarei sempre do lado do ovo", disse ele, citando o escritor japonês
Haruki Murakami, numa conversa com um jornalista do South China Morning
Post.
Nos últimos dias, ele próprio esteve por diversas vezes encostado à
parede. Na noite de 26 de setembro, o miúdo a que muitos já chamam o
herdeiro de Tiananmen e que tem como ídolo Wang Dan - um dos líderes da
revolta de 1989 foi detido pela polícia. A sua prisão e a de 77 outros
ativistas foi decisiva para o avolumar dos protestos desde então.
Acusado de subversão, de radicalismo e até de ser um peão dos serviços
de espionagem dos EUA, Joshua Wong está agora sob prisão domiciliária
mas ninguém duvida que ele continuará a ser presença assídua na vida
publica de Hong Kong. Quanto mais não seja porque a atual crise está
longe de resolvida e sem garantias de que os ativistas pró-democracia
sejam bem sucedidos.
* Temos a maior admiração por pessoas sem medo.
O regime chinês, a quem estamos a vender Portugal à fatia, e o qual Passos Coelho e Paulo Portas tanto apreciam, é medonho.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário