12/10/2014

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ESTA SEMANA NA
"VISÃO"

Quem é o puto que ameaça Pequim? 

Joshua Wong tem apenas 17 anos, uma longa carreira de ativismo e é um dos líderes da "revolução dos chapéus de chuva", um dos maiores desafios políticos que a China enfrenta desde o massacre de Tiananmen

De T-shirt e calções pelo joelho, com os seus óculos de lentes grossas e armações retangulares, parece um meia leca incapaz de incomodar quem quer que seja. Mas Joshua Wong Chi-fung é uma estrela mediática global, tem milhares de amigos e seguidores nas redes sociais e, na última semana, teve muito pouco tempo para dormir, estudar e jogar na Playstation. 


Os motivos são conhecidos. Além das inúmeras entrevistas - CNN e Financial Times incluídos - ele foi um dos rostos da campanha de  "desobediência civil" promovida pelos estudantes de Hong Kong contra as autoridades da antiga colónia britânica e também contra a República Popular da China. Não aceitam que o território tenha de submeter-se às regras de Pequim e não possa eleger os seus representantes por sufrágio direto e universal até ao final desta década. No final de agosto, o Governo de Pequim fez saber que só poderiam apresentar--se candidatos cujo currículo e credenciais patrióticas estivessem acima de qualquer suspeita. Ou seja, fossem da confiança do Partido Comunista chinês.

Joshua percebeu então que era tempo de mobilizar mundos e fundos. O miúdo de 17 anos tinha mais uma oportunidade para ser reconhecido pelos seus compatriotas. Afinal, não era a primeira vez que assistiam ao que ele era capaz de fazer com um microfone na mão, apesar da dislexia que lhe foi diagnosticada na infância. Em 2011, ele e um grupo de amigos criaram o movimento "Scholarism" e, no ano seguinte, lideraram os protestos contra a intenção das autoridades locais introduzirem nas escolas uma disciplina de Educação Moral e Nacional. Uma ideia que seria abandonada graças a Wang e aos que a consideravam uma tentativa de doutrinar politicamente os alunos.

A favor do ovo, contra a parede Ainda com 15 anos, escreve a sua autobiografia - "Não sou um herói" - e critica de forma implacável Leung Chun-ying, o líder da região administrativa especial de Hong Kong, pela (má) gestão de um acidente marítimo, em que 39 pessoas perderam a vida. A fama faz com que receba convites para escrever na imprensa, para ter o seu programa de rádio e lhe traçarem o perfil e objetivos de vida.  "Se um ovo se partir contra uma parede, não me importa quem tem razão - se a parede, se o ovo. Eu estarei sempre do lado do ovo", disse ele, citando o escritor japonês Haruki Murakami, numa conversa com um jornalista do South China Morning Post. 

Nos últimos dias, ele próprio esteve por diversas vezes encostado à parede. Na noite de 26 de setembro, o miúdo a que muitos já chamam o herdeiro de Tiananmen e que tem como ídolo Wang Dan - um dos líderes da revolta de 1989  foi detido pela polícia. A sua prisão e a de 77 outros ativistas foi decisiva para o avolumar dos protestos desde então.  Acusado de subversão, de radicalismo e até de ser um peão dos serviços de espionagem dos EUA, Joshua Wong está agora sob prisão domiciliária mas ninguém duvida que ele continuará a ser presença assídua na vida publica de Hong Kong. Quanto mais não seja porque a atual crise está longe de resolvida e sem garantias de que os ativistas pró-democracia sejam bem sucedidos.

* Temos a maior admiração por pessoas sem medo.
O regime chinês, a quem estamos a vender Portugal  à fatia, e  o qual Passos Coelho e Paulo Portas tanto apreciam, é medonho.


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