ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
Os britânicos cortaram com
os três grandes
Houve um terramoto político no Reino Unido. Aconteceu noite dentro, agitou o Twitter e é preciso contar tudo.
Afinal, dos desertores também reza a história. Douglas Carswell, que
passou das fileiras dos conservadores para as do Partido para a
Independência do Reino Unido (UKIP), tornou-se às primeiras horas desta
sexta-feira o primeiro deputado eleito ao Parlamento Britânico pelos
euro-fóbicos. O terramoto político que o líder Nigel Farage tanto previu
e pediu que acontecesse em Clacton-on-Sea, uma pequena cidade na costa
sudeste de Inglaterra, e só por milagre não se repercutiu até Heywood
and Middleton, Manchester, coração dos trabalhistas, aconteceu. O que,
em termos eleitorais, significa ganhar por meia centena de votos.
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Douglas Carswell |
Fez-se história e o meio político passou uma madrugada agitada a
destilar reações e a traçar planos eleitorais em cima do joelho - que é
como quem diz, no Twitter. John Mann, deputado pelos trabalhistas, disse
que "é preciso levar a luta para o território do Ukip" e que "Ed
Miliband precisa de alargar a sua influência". Mas o também trabalhista
Luke Akehurst foi mais longe: "O partido trabalhista precisa de uma
mudança total na política eleitoral e na equipa que a está a desenhar".
O
que é estranho é que poucas horas depois de ter defendido que as
pessoas portadoras do vírus do VIH deveriam ser banidas de entrar no
Reino Unido, o UKIP tenha conseguido ganhar uma eleição com 60% dos
votos e quase roubar aos trabalhistas um assento no Norte,
tradicionalmente um bastião trabalhista. E tudo isto a meio ano de umas
eleições em que os trabalhistas procuram não só ganhar como alcançar uma
maioria.
Pulverização partidária?
Será que estamos a assistir à pulverização partidária que os analistas
garantem ser o primeiro sintoma de uma democracia madura? Se juntarmos o
UKIP, os Verdes - que já estão em pé de igualdade, nos 7%, com os
liberais-democratas -, e o partido nacionalista escocês, que foi a
surpresa das últimas eleições gerais na Escócia, aos tradicionais
trabalhistas e conservadores, podemos de facto estar a assistir a uma
corrida a seis.
"É a completa ruptura com o estabelecimento. Os
britânicos cortaram com os três grandes", argumentava George Galloway no
Twitter, também ele um inconformado que deixou os trabalhistas para
formar o seu próprio partido, Respect, em 2004, e tendo sido eleito para
Westminster em 2012 pelo seu novo partido.
Mas os conservadores também têm alguma auto-análise a fazer. Perderam
no Sul, onde não estão habituados a ter de disputar o seu domínio.
Andrew Grimson, editor da página de análise política "Conservative
Home", explicou assim o sucedido: "David Cameron quis ser um conservador
liberal e com isso conseguiu roubar terreno moral aos
liberais-democratas, que não serve para muito, e abrir uma fenda no
eleitorado conservador que agora sente que precisa de um partido de
protesto".
Nick Clegg e Ed Miliband perdem apoio das bases
Em mais uma demonstração da autêntica esquizofrenia que reina na
coligação entre conservadores e liberais-democratas, Nick Clegg,
vice-primeiro-ministro e líder dos últimos, fechou a época de
conferências com um discurso em que não só acusou os conservadores de
"plagiarem" as medidas do seu partido, como garantiu que a "criação de
um parlamento inglês é mais que um embuste proposto por David Cameron
para dar mais poderes aos seus próprios deputados".
Aproveitando
a onda mediática, Ed Davey, responsável pela pasta da Energia dos
liberais-democratas, pôs em causa da liderança de Nick Clegg e disse que
a "Cleggmania" que se apoderou do país em 2009 e 2010 está a esfriar e
que "os cidadãos já não estão apaixonados pelo partido". É preciso uma
nova cara, garante Davey - isto se o partido pensa em reverter a
terrível prestação nas eleições europeias e em todas as sondagens desde
aí.
Para Ed Miliband, líder dos trabalhistas, as coisas também
não estão fáceis. Um dos seus deputados, não identificado pelos jornais,
terá dito que Miliband é "uma tragédia para o partido e nunca ganhará
as eleições".
Outras críticas, mais específicas, chegam de Simon
Danczuk, deputado por Rochdale, uma cidade na periferia de Manchester
que acusou o líder de ter de se revelar "anti-mercado" e de se manter
dentro "da sua bolha liberal no Norte de Londres". Sítio de onde "nunca
fala dos problemas da emigração nem da necessidade de reforma do sistema
de segurança social". Diz Danczuk que se Miliband não apontasse só para
a massa urbana educada "que lê o Guardian" e fosse passar um tempo a
Rochdale, os problemas da imigração seria muito mais claros.
Quando
até os trabalhistas reconhecem a necessidade de enfrentar a imigração
de frente não custa muito entender qual será o tema desta campanha.
* Também gostaríamos que acontecesse um terramoto político em Portugal, os partidos com assento "paralamentar" aburguesaram-se, formaram uma elite, precisam de que se lhes tite o tapete.
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