Descobri que
os passaportes electrónicos
. não são seguros
Um dos problemas que havia na Europa
há dez anos era a utilização do mesmo passaporte para a entrada de
vários asiáticos. A sério. Disse-me um especialista em segurança que os
funcionários das fronteiras, normalmente caucasianos, tinham sérias
dificuldades em distinguir passageiros asiáticos, mesmo que tivessem dez
ou mais anos de diferença.
Eles entravam e iam de
imediato enviar o passaporte via FedEx para o primo no país de origem,
que depois entrava e fazia o mesmo. O interesse nos documentos de
identificação com chip e dados biométricos estava a crescer nessa altura
e esta era uma das questões que resolvia - aparentemente.
Recordei-me
desta informação, obtida numa conferência sobre a autenticação
biométrica há uns bons anos, quando Krishna Rajagopal falou dos ataques a
passaportes biométricos no evento eID,
co-organizado pela portuguesa Multicert em Budapeste. Rajagopal é
especialista neste sector e professor do MIT. Informou que há, neste
momento, 483 milhões de passaportes electrónicos activos, e que as
tentativas de fraude continuam frequentes. Mas nenhuma foi tão descarada
quanto esta: em 2008, um quiosque de identificação no aeroporto de
Schiphol reconheceu e deixou passar Elvis Presley, usando um passaporte
electrónico com dados biométricos.
Perguntei a Rajagopal se
afinal os passaportes electrónicos eram ou não seguros, esperando a
conversa de sempre - nada é 100% seguro, é preciso ter cuidado, etc. Ele
respondeu que não. Não são seguros. Porque nem todos os países
aderiram, porque nem todos incluíram os dados biométricos e porque, de
facto, é sempre possível bater o mais titânico sistema de encriptação.
Disse que os passaportes tradicionais vão durar mais uns dez anos, e que
haverá sempre países que precisam de ver o carimbo nas páginas, e não
ler um chip.Judit Hazai, directora do serviço de segurança nacional da
Hungria, acrescentou: é muito frequente serem apanhados passaportes
electrónicos e cartões do cidadão que foram roubados e adulterados no
chip ou na imagem. O desafio é identificar melhor estas fraudes.
"A
tecnologia está sempre a mudar, e infelizmente os maus da fita estão
sempre na vanguarda", disse Rajagopal. Há aqui um problema de abordagem,
também: não vale a pena ter os quiosques mais sofisticados se a empresa
que desenvolve a tecnologia for atacada. Não vale a pena ter os
funcionários mais treinados do mundo, se ninguém percebe que o Elvis
Presley acabou de chegar à Holanda, e não veio de vassoura.
A
visão holística que é necessária está muito longe de ser atingida, e o
assunto não é coisa apenas para preocupar uns cromos num departamento de
TI. O mundo está muito mais perigoso hoje do que estava há um ano (não
foi a Ministra da Justiça que admitiu que podemos ser um alvo do Estado
Islâmico?) e a reacção é muito mais lenta que a ameaça. Deixei de me
queixar com os procedimentos lentos e rigorosos de segurança nos
aeroportos (uma vez, levei cerca de duas horas para conseguir sair de
Israel, tal foi o escrutínio). Passei a ficar preocupada é quando eles
são sempre a despachar.
IN "DINHEIRO VIVO"
21/10/14
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