30/09/2014

VIRIATO SOROMENHO MARQUES

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Prova de vida

Os venenos de que Maquiavel nos fala a propósito das maquinações políticas de César Bórgia na Itália renascentista eram apenas de ação mais rápida do que a denúncia a uma revista que despertou um episódio incómodo do passado do primeiro-ministro (PM). 

Quanto mais a longa amnésia do PM o faz empurrar para o Parlamento, para a PGR, para o regaço protetor da Presidência da República uma responsabilidade que é apenas sua, mais a letalidade do veneno (sempre despejado na taça do príncipe por aqueles que lhe são próximos) se manifestará como não tendo antídoto. 

A PGR disse o óbvio: um eventual ato ilegal que já prescreveu não pode ser investigado. A PGR não pode também medir o grau de moralidade da conduta do PM (Kant considerava até essa competência como fora do alcance das faculdades humanas) nem lhe irá explicar que uma suspeita de ilegalidade prescrita pode deixar um cidadão comum tranquilo, mas continua a ser uma ferida aberta para um PM. É um princípio básico da ética pública. 

Quem lançou sobre os contribuintes um dilúvio fiscal ímpar, quem "vasculhou" nos direitos constitucionais básicos dos cidadãos não pode esperar complacência com qualquer laxismo no cumprimento estrito das suas obrigações como deputado da Nação. O que está em causa na necessidade de suprir os insuficientes esclarecimentos prestados pelo PM sobre a natureza dos "reembolsos" recebidos enquanto era deputado em exclusividade não é um striptease hostil à privacidade de um cidadão, mas sim a realização de uma prova de vida à qualidade da nossa democracia. 

Importa saber se Portugal é um império da lei, ou se continuamos a merecer, como lamentava Rodrigues Lapa em 1949, ser desprezados como "os cafres da Europa".

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/09/14

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