29/09/2014

JOANA FERREIRA DA SILVA

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‘Tenho em mim todos
 os sonhos do mundo’

Os jovens que eu conheço rejeitam o rótulo que teimam em pôr-nos de uma geração (à) rasca. Têm grandes sonhos. Querem ter um assento na Europa. Querem fazer a diferença. 
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São inúmeras as notícias que nos chegam todos os dias de cérebros portugueses que vingam nas suas áreas de trabalho, no estrangeiro. No Reino Unido, eles organizam-se numa associação de investigadores que dá cartas na Ciência e na Tecnologia. A PARSUK, que pretende fomentar a comunicação académica entre Portugal e o Reino Unido, organiza, entre muitas outras actividades, a PARSUK Xperience, uma oportunidade que é dada a alunos portugueses de frequentar estágios remunerados em instituições inglesas. Eu tive a sorte de ser um desses alunos. 

A verdade é só esta: temos a mania que somos pequeninos. A PARSUK Xperience permitiu-me abrir os olhos para uma realidade que é a do português no estrangeiro. E deixem-me que vos diga, somos muito bem-vindos. É verdade que o conhecimento geográfico é muito limitado ao Algarve e existem todos aqueles estereótipos das mulheres portuguesas terem bigode, mas no que toca ao trabalho, a opinião europeia é unânime: gostamos de portugueses, aprendem as línguas num instante e não têm medo de trabalhar.

Os jovens que eu conheço rejeitam o rótulo que teimam em pôr-nos de uma geração (à) rasca. Têm grandes sonhos. Querem curar o cancro. Querem resolver o problema da energia. Querem que a cultura volte a ser valorizada. Querem ter um assento na Europa. Querem fazer a diferença. Os jovens que eu conheço acordam de manhã com os sonhos já hipotecados e travam uma luta desleal com um mundo que nunca ouviu falar deles. Mas não desistem. Fazem malas e despedem-se da família e dos amigos sem bilhete de retorno, tudo em conquista de um sonho.

 E não, isso não faz de nós uns coitadinhos porque tivemos de emigrar. Emigramos porque acreditamos em investir na formação que nem sempre o país que nos viu nascer tem capacidade para dar. E emigramos, muitas vezes, com a esperança de poder voltar com as experiências vividas e novas ferramentas para aplicar. Afinal de contas, o conhecimento não tem fronteiras.

A PARSUK é o espelho do potencial intelectual e empreendedor português. Torna-se o reflexo de uma capacidade de iniciativa brilhante que convida outros a fazer o mesmo. Comigo resultou. Foi uma oportunidade fantástica que me ‘abriu os horizontes’, um chavão que aqui se adequa tão bem, e por isso só me posso sentir profundamente grata.

Não somos pequeninos, ou inferiores. Não é assim que vêem o nosso cantinho à beira-mar plantado, porque não são assim as pessoas que dele saem. Conheço um exemplo próximo de uma portuguesa, que na eminência de mudar de emprego no Reino Unido, lhe pediram uma lista de colegas de curso portugueses que poderiam estar interessados em ocupar o seu lugar. Ora, com evidências destas, parece estar mais que na altura de quebrar alguns preconceitos. E quebre-se já agora também o de que a mulher portuguesa tem bigode!

Fernando Pessoa dizia “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Nós sabemos, Fernando. Nós sabemos.


IN "OBSERVADOR"
24/09/14

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