HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Impostos verdes permitem redução
da sobretaxa do IRS até 2,75%
Reforma fiscal verde pode dar ‘boleia' à baixa do IRS.
O conjunto de receitas e poupanças para o Estado
decorrentes das medidas propostas pela comissão para a fiscalidade
verde, cujo mandato prevê a neutralidade fiscal que passa pela redução
de outros impostos, permite ajudar a baixar a sobretaxa de IRS de 3,5%
para 2,75%.
Este é um dos cenários que consta do relatório da
fiscalidade e que implicaria uma estratégia simples de reciclagem: o
aumento de 150 milhões de euros de receitas de impostos verdes
compensado de forma integral na redução do IRS.
De acordo com as
contas da Comissão liderada por Jorge Vasconcelos, esta é a estratégia
que produz um maior impacto ao nível do emprego de 0,22%, em 2030,
contra um cenário de 0,11% - se a compensação da maior cobrança de
impostos verdes for via redução da TSU a cargo dos empregadores - e
0,03% - se for via IVA.
A decisão política está agora nas mãos do
Executivo face à proposta técnica avançada pelo grupo de peritos que
incide, antes, numa estratégia composta de reciclagem: utilizar 50%
receita adicional de impostos verdes para créditos fiscais ao
investimento, 25% para redução da TSU paga pelas empresas e 25% para
redução do IRS. Uma proposta que conduz a uma menor redução da sobretaxa
extraordinária do IRS para 3,25% (efeito de 37,5 milhões de euros).
Caso
a opção do Governo recaia na compensação integral via IRS, as famílias
portuguesas sentirão, em 2015, um alívio da carga fiscal de 0,75 pontos
percentuais na factura do IRS, através da redução da sobretaxa, por onde
a Comissão do IRS já sinalizou dever começar uma eventual redução de
impostos. Isto porque se trata de um mecanismo extraordinário que foi
aplicado com o OE/ 2013 (em 2011 começou a ser aplicada através da
retenção de 50% no subsídio de Natal) e, desde então, perdurou.
Quando
foi lançada a sobretaxa, o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da
Silva, chegou a defender, na apresentação das medidas da Plataforma para
o Crescimento Sustentável, que a sobretaxa de IRS "deveria ser
substituída por uma taxa de carbono", que produzia uma receita igual de
"700 milhões de euros" [receita estimada para 2013]. Já em Novembro de
2013, em declarações ao ‘Público', sobre a pretendida neutralidade
fiscal de aumentar impostos verdes e reduzirem-se outros, Moreira da
Silva, assegurava: "A lógica é desviar a fiscalidade sobre o trabalho".
No
momento em que se prepara o OE/2015, os centristas defendem que o
Governo devia "dar um sinal" de que os tempos "excepcionais" dos últimos
três anos chegaram ao fim. Resta agora saber se a moeda de troca para
avançar fiscalidade verde passa por uma redução mais tímida ou integral
da sobretaxa de IRS.
Neutralidade da reforma da fiscalidade verde é difícil de assegurar
O impacto das propostas da comissão numa
redução do IRS será limitado, dizem os especialistas. Além disso, o
objectivo de neutralidade fiscal é incerto e difícil de prever.
A reforma da fiscalidade verde tem, num dos pratos da
balança, o aumento de impostos e taxas ambientais, mas no outro o alívio
do IRS, do IRC e da Taxa Social Única (TSU), e a palavra de ordem da
reforma apresentada ontem é neutralidade. Mas os especialistas afirmam
que o impacto das propostas será limitado nos impostos sobre o
rendimento (de famílias e empresas) e que a neutralidade é muito difícil
de medir e de garantir no futuro.
O grupo de peritos liderado
por Jorge Vasconcelos sugere por exemplo a criação de uma taxa sobre o
carbono, que representará uma subida do preço dos combustíveis, de uma
taxa sobre o sector da aviação, um aumento do Imposto Sobre Veículos
(ISV) ou uma taxa sobre os sacos de plástico, entre outras. Tudo somado,
o Estado contará em termos líquidos com cerca de mais 150 milhões de
euros. Mas a estes aumentos da carga fiscal contrapõe-se a proposta que
representa um alívio noutros impostos, que se reparte em 50% para as
empresas, através do créditos fiscal do investimento, 25% para o IRS,
através de uma redução da sobretaxa extraordinária de 3,5%, para 3,25%, e
em 25% através da redução da TSU (paga pelas empresas e não pelos
trabalhadores).
Contudo, para os especialistas ouvidos pelo
Diário Económico os resultados são incertos. O fiscalista Nuno Oliveira
Garcia adverte que "o que se diz é que a reforma vai ser neutra, mas
isso é muito difícil de perceber: é muito difícil de prever qual será o
andamento das receitas fiscais nos próximos anos". A opção deveria ter
passado por "tentar garantir que a neutralidade ocorresse dentro da
fiscalidade verde e dos impostos ambientais sem implicações noutros
impostos, o que torna tudo mais difícil de prever". Além disso, desta
forma aumenta-se a carga fiscal de forma definitiva enquanto a sobretaxa
em IRS é extraordinária e deixaria de existir a prazo.
Por sua
vez, para o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Sérgio
Vasques, o impacto será limitado, sobretudo no IRS. Os efeitos teriam de
ser na ordem "das centenas de milhão na área da fiscalidade verde, o
que só é conseguido através dos impostos sobre os combustíveis e sobre
os automóveis". "Mas nesta área-chave a proposta de reforma foi tímida e
perdeu por disparar em todas as direcções", refere.
Já o também
ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Carlos Lobo - que faz
parte da comissão da reforma para a fiscalidade verde - defende que os
cálculos em que se baseia o pressuposto de neutralidade "assenta em
modelos matemáticos o mais exactos possível". "O que se tentou perceber
foi qual a melhor opção para garantir a neutralidade e não houve
arbitrariedade", assegurou o fiscalista. Por outro lado, "a sobretaxa,
apesar de ser extraordinária, não se prevê a sua eliminação total no
próximo ano", argumenta ainda. Além disso, a principal fonte de receita
desta reforma é a taxa de carbono, cujo valor de mercado é actualmente
de cinco euros por tonelada. "Mas se este valor de mercado subir, haverá
mais receita e mais margem para descer o IRS", rematou ainda Carlos
Lobo.
Caberá agora ao Governo analisar as propostas e decidir
quais serão adoptadas. O presidente da comissão, Jorge Vasconcelos,
afirmou ontem citado pela agência Lusa que "se o Governo entregasse
amanhã o nosso documento ao Parlamento e o Parlamento a aprovasse
amanhã, a partir de 2015 a neutralidade fiscal ficaria garantida na
lei".
* A segunda notícia "escalpeliza" a primeira, alguém nos quer enganar uma vez mais.
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