ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
Violência doméstica contra as mães
afeta desenvolvimento dos bebés
Logo no primeiro ano de vida, os bebés de mulheres vítimas de violência doméstica apresentam atrasos no seu desenvolvimento
Os bebés de vítimas de violência doméstica durante a gravidez
apresentam atrasos no desenvolvimento logo no primeiro ano de vida,
concluiu o doutoramento, da psicóloga Clementina de Almeida, na
Universidade de Coimbra.
Segundo o estudo desenvolvido, os bebés apresentam "mais ansiedade,
mais comportamentos agressivos, mais comportamentos de desregulação e
muita irritabilidade", referiu Clementina de Almeida. A psicóloga
conseguiu, também, observar que estes não conseguem alcançar algumas
metas no desenvolvimento da "linguagem, locomoção ou coordenação".
A avaliação cognitiva e emocional dos bebés foi feita aos três meses e
meio e aos 12 meses, tendo sido possível observar atrasos no
desenvolvimento mental do bebé e perturbações "sócio-emocionais" nos
dois momentos de análise, sublinhou Clementina de Almeida.
Ao todo, foram analisadas em 2010 204 grávidas com uma média de
idades de 29 anos, tendo 58% sido alvo de pelo menos um ato de violência
doméstica durante a gravidez.
Das mulheres vítimas de violência, 59% sofreram de violência psicológica, 25% de coerção sexual e 18% de agressão física.
A gravidez surge como factor que pode "aumentar a agressividade da
violência que já existe ou pode até iniciá-la", disse à agência Lusa
Clementina de Almeida, sublinhando que "a violência física e a
psicológica são factores de risco" para o bebé.
A própria violência doméstica afecta também a "auto-estima" das
mulheres, que apresentam "mais quadros depressivos moderados e graves"
do que as mães não vítimas, sendo que a debilidade da saúde mental
materna acaba por determinar "um atraso ainda maior" no bebé, salientou.
Segundo as conclusões do doutoramento, a violência doméstica também
"parece ter um efeito negativo ao nível das atitudes maternas durante a
gravidez", não afectando, porém, "o nível de envolvimento" entre mãe e
bebé.
"Nos resultados, todos os bebés apresentaram melhorias no seu
desenvolvimento, da primeira avaliação para a segunda. No entanto, os
bebés filhos de mulheres que sofreram violência durante a gravidez obtêm
consistentemente níveis ligeiramente inferiores", constata ainda
Clementina de Almeida, considerando que a violência pré-natal, apesar de
não afectar "directamente" o desenvolvimento do bebé, acaba por ser um
factor que pode dificultar "o desenvolvimento do pleno potencial" do
mesmo.
Clementina de Almeida defendeu ainda que os bebés "deveriam ter um
acompanhamento específico", sendo "fundamental uma intervenção precoce".
"Um bebé vítima de violência está mais predisposto a encontrar-se com
situações abusivas", notou, criticando a inexistência por parte do
Estado de um mecanismo que possa ser accionado para um acompanhamento
dos filhos de vítimas de violência doméstica.
* É urgente legislação que "assuste" os infractores e que os tribunais executem.
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