Guerra sangrenta
É um momento histórico. Ricardo Salgado sai da
liderança do BES. Não é uma cadeira que muda, é uma cabeça. Não é uma
pessoa que sai, é um regime de poder. É uma saída forçada e ao mesmo
tempo consentida pelo Banco de Portugal. É uma guerra que entra nas
batalhas finais. A sucessão está por definir. Vazios de poder? Não
existem. Antes de correr bem ainda vai correr mal.
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Como o Expresso
Diário revelou, a guerra entre Salgado e Ricciardi está completamente
extremada. Porque se um já aceitou sair, o outro não aceitou não ficar.
E, sobretudo, Ricciardi não aceita que Salgado controle a sua própria
sucessão, colocando a sua própria gente no leme que ele entrega. É isso
que Salgado quer.
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Os cinco ramos da família Espírito Santo vão definir
entre duas correntes que se confrontam. De um lado, Ricardo Salgado, que
quer escolher Morais Pires para presidente da comissão
executiva e ficar como presidente de um novo comité estratégico, um
conselho não executivo mas que mantém Salgado "dentro". Ricciardi verá
nisso uma absolvição de Salgado e, no fundo, uma derrota para si. Os
três outros líderes dos ramos familiares desempatarão. Mas não custa
antecipar: em caso de cisão, haverá duas listas a concorrer ao poder no
BES. Até à assembleia geral, no final de julho, vão se matar uns aos
outros. Não vai ser bonito.
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O maior risco é fazer do BES o que foi o velho BCP. Se a
Morais Pires ficar como presidente executivo e Ricardo Salgado como
presidente do comité estratégico, então Salgado vai mandar por
interposta pessoa. É uma má solução. Como se viu no passado no BCP. O problema não é Morais Pires, que ainda agora liderou o aumento de capital
do banco. O problema é Salgado, que tem de sair do poder. Mas
sobretudo: porque ao lado há um monstro falido chamado Grupo Espírito
Santo, onde uma auditoria encontrou irregularidades gravíssimas nas
contas.
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O papel do Banco de Portugal é essencial. Tem sido. Ao
longo do último ano, sem nunca levantar ondas públicas, o supervisor já
isolou o banco dos problemas do grupo; já retirou o controlo do banco à
família; e já forçou a saída de Salgado. Em troca, permitiu-lhe uma
saída airosa: sair pelo seu próprio pé e não correr o risco de perder a
idoneidade.
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Ricciardi tem contra o apelido, o facto de ser arguido em processos judiciais
e ter sido administrador da ES International. Mas tem outro fator, que é
ao mesmo tempo a sua maior força e a sua maior fraqueza: o
temperamento. Irascível, enérgico, é um homem inderrubável. Não vai
desistir nunca. E isso é a sua maior força porque não desiste e a sua
maior fraqueza porque o torna imprevisível.
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Um consenso na família, que eventualmente passasse por
terceiros nomes, é menos provável que uma cisão. Dentro da família. E
talvez dentro do banco. O poder pode cair para qualquer um dos dois
lados. Na rua o poder não cai. Mesmo que para lá arraste o banco.
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Não vai ser bonito.
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