Dá Deus nozes...
Falar da Bairrada desperta-me sempre ideias contraditórias. Por um
lado, uma região que tem tanto para mostrar e, por outro, tão pouca
coisa mostrada…
Vejamos se me explico melhor. Temos uma região
riquíssima e tão pouco publicitada. Já imaginaram o que é ter uma oferta
de excelentes produtos como o leitão, o espumante, o vinho, a doçaria e
uma costa que se estende da Figueira da Foz até Ovar e não aproveitar
este filão para trazer o mundo até cá? Algo devia ser feito para atrair
cada vez mais pessoas em busca de um paraíso gastronómico único em
Portugal. E não me venham dizer que isto já está a ser feito ou que não
há dinheiro para investir. O que talvez não exista mesmo é pessoas que
saibam fazê-lo…
Deixado este desabafo, vamos à procura de quem sabe, por
exemplo, fazer vinho. E entre os muitos produtores entramos hoje no
reino das históricas caves Messias, com sede na Mealhada. Numa jornada
gastronómica começámos pelo Espumante Quinta do Valdoeiro Baga &
Chardonnay 2011, seguimos para o Quinta do Valdoeiro Chardonnay (que
evidenciou mineralidade e a prometer grande longevidade), e chegámos ao
Messias Vinha Stª Bárbara 2011, uma incursão das gentes bairradinas num
terreno duriense, entre o Douro Superior e o Cima-Corgo, sendo a última
quinta desta sub-região. É um tinto feito a partir das castas Touriga
Franca e Touriga Nacional que cresceram em solo xistoso, estagiou 18
meses em barricas de carvalho e mostrou-se muito fresco, com notas de
chocolate amargo e cacau e muitos frutos silvestres. Mineral e muito
elegante leva agora a marca Messias, outrora usada apenas nos Portos
desta casa.
Outra novidade que veio para a mesa, esta sim já nada e criada em
solo argilo-calcário bairradino e com uma casta que não esconde o seu
berço; a Baga. De repente, ao provarmos o Messias Baga Clássico 2010
recordamo-nos da proximidade da Bairrada ao Atlântico e sentimos
intensas notas de iodo e salinas. Acidez equilibrada e taninos presentes
na boca, teve dois anos a estagiar em barrica, evidencia grande
estrutura e promete um grande envelhecimento. Terminámos com um Porto
Messias Colheita 1964 e louvámos a terra que o deu e quem o fez!
Mas o que não nos sai da cabeça é haver isto tudo (e muito mais) e não
haver engenho nem arte para promover a sério região tão rica. É pena!
IN "SOL"
28/05/14
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