08/06/2014

EDUARDO DÂMASO

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O mundo dos acautelados

Há uns anos, António Nogueira Leite, então no Grupo Mello, escreveu um artigo invulgarmente contundente no 'Correio da Manhã'. Dizia: “Parte da classe política dessa geração sacrificada [nascida em 60 e 70] até já se acautelou pessoalmente à custa do dinheiro de todos.”

Nogueira Leite sinalizava urbi et orbi o seu conhecimento sobre o enriquecimento meteórico de boa parte da classe política. Não estavam lá todos nesse mundo dos acautelados. Falava dos nascidos nas décadas de 60 e 70, deixando de fora os barões de direita e de esquerda que moldaram o regime. Os que fizeram milhares de leis entre dois cafés, que moldaram os sectores económicos à medida dos interesses que depois serviram como advogados ou gestores. Estes são mais velhos e mais sábios do que os jovens lobos das jotas, que fazem da impunidade uma arma de arremesso e não um refúgio.

Essa gente que “pessoalmente se acautelou à custa do dinheiro de todos” está há décadas no topo dos partidos, ministérios, direcções-gerais e sector empresarial do Estado. Essa é gente que cobra percentagem para concessionar, atribuir, adjudicar, desbloquear e facilitar. Se querem procurar as razões que levam 6,4 milhões a não votar e mais uns 250 mil a votarem branco e nulo procurem no mundo vasto da ciência política. Mas se quiserem ser verdadeiros, procurem bem nesse mundo de acautelados, imune às crises e que ganha muito, mesmo muito, até com os resgates.

IN "SÁBADO"
01/06/14

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