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E agora?
Era
presumível, depois da baixa notação das eleições, que António José
Seguro tivesse o destino marcado. Mas não era previsível que o
bota-abaixo ocorresse a escassas horas da minguada vitória. A verdade é
que Seguro não era o homem indicado para as circunstâncias. António
Costa sê-lo-á? É uma escolha evidente, e ele próprio manifestou reservas
quanto ao resultado da votação e não entrou na pública ufania de
Seguro. A estocada final foi desferida por Mário Soares (ontem, em
artigo publicado no DN), que não leva desaforo para casa, e fora
deliberadamente ignorado pelo pobre secretário-geral, cuja
imprevidência, neste e em outros casos, roça a infantilidade.
As
eleições para as europeias constituem uma espécie de "primárias" das
legislativas, destinadas, historicamente, a tomar o pulso à situação. A
direita cá do sítio sofreu um abanão e os semblantes dos seus mais
distintos expressavam a dor dos sentidos afectados. Porém, os quatro
pontos que separam o PS da Aliança Portugal não podiam deixar de
desassossegar quem se interessa pelas regras da arte. No interior do
próprio partido ganhador, a bonança não criou morada. E tornou-se cada
vez mais evidente que Seguro não era o homem adequado à situação, tanto
mais sabendo-se que a coligação já começou a preparar a contra-ofensiva.
Ante
esta conjuntura problemática e a ambiguidade sem expectativa, a vitória
de Marinho e Pinto e a queda do Bloco não são de estranhar. Ambos
representam epifenómenos comuns a um desespero institucional que procura
salvação. O Bloco perdeu porque talvez houvesse claudicado na sua
genuinidade inicial, e Marinho e Pinto ganhou ao encarnar essa
genuinidade perdida. A CDU sobe, embora cercada por uma imprensa
desfavorável e por uma televisão
que quase a ignora, minimizando deliberadamente uma voz que possui a
força de uma filosofia, uma doutrina e uma convicção imprescindíveis
pela sua própria história. Além de caracterizar quase dois milhões de
militantes, adeptos e simpatizantes.
Ante tudo isto, os "barões"
do PS ergueram sombras ao que Seguro queria fazer no partido. A escolha
de Assis não foi muito bem aceite entre os socialistas mais "à
esquerda", porque ele designa a continuidade de uma política de
subserviência aos "mercados", e pouco ou nada difere das orientações
proclamadas pela direita europeia.
A experiência democrática,
trabalhada pela incerteza dos seus actuais dirigentes e pela
inextrincável ignorância dos que dizem representá-la nos diversos
parlamentos, está a conduzir o mundo a uma irrefragável desgraça. O ovo
da serpente foi reanimado e a deputada Ana Gomes não escondeu, no
programa Prós e Contras, o horror que eventualmente nos espera. A queda
de Seguro pode ser um sinal moderador. Mas a Europa? Tudo nos conduz ao
desespero
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/05/14
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