Democracia
arrisca tornar-se
tecnocracia populista
Vejo a Europa ser ameaçada pela ação dos tecnocratas, que nos querem convencer de que o caminho é só um
As recentes sondagens à beira das eleições europeias indiciam factos
deveras alarmantes para as democracias europeias, pondo em risco tudo o
que se construiu nas últimas décadas na Europa, ameaçando não apenas o
bem-estar imediato das populações, mas que abalam sobretudo os
princípios (igualdade, tolerância, respeito pela diversidade,
fraternidade, etc) que sustentaram o desenvolvimento humano e social
deste lado do mundo.
Refiro-me à perspetiva de ser criado um bloco parlamentar de partidos
xenófobos e populistas nestas próximas eleições europeias com expressão
considerável. Preocupa-me que a veia fascizante de alguns nos arraste,
sem que consciência e/ou responsabilidade tenhamos, para um novo
paradigma de organização social e política na Europa, que cria cada vez
mais desigualdades, assimetrias e injustiças.
Por isso, nunca é demais recordar e comemorar o momento histórico que
derrubou o fascismo em Portugal e avivar a memória dos valores que a
democracia permitiu: liberdade, igualdade de direitos, solidariedade,
pluralidade de pensamento, participação cívica.
Numa altura em que as políticas educativas, de cariz cada vez mais
ultraliberal, ameaçam os valores de abril, sobretudo no que respeita à
escola pública e à igualdade de oportunidades, somos todos convocados a
refletir e a lutar pela manutenção e reforço desses valores.
Vejo ainda a Europa ser ameaçada pela ação dos tecnocratas, que no seu
discurso populista de rigor, de eficiência e de mérito nos quer
convencer de que o caminho é só um e que o desenvolvimento só se
constrói em concorrência constante, em paralelo com o individualismo
exacerbado e com atropelos às liberdades e garantias dos Estados de
Direito.
E a verdade é que esse discurso parece fazer eco em muitos cidadãos e em
diversos países da Europa, que fazem ascender democraticamente aos
lugares de decisão política, partidos e pessoas que defendem a
manutenção de hierarquias e desigualdades sociais, sobretudo se servirem
para a competição nas economias de mercado.
Mais grave ainda é que o discurso também se dirige às classes etárias
mais baixas, a quem se procura incutir esses padrões individualistas,
classistas e competitivos para bem dos que acumulam privilégios.
Será isto que queremos da Europa, do nosso país, da nossa sociedade?
Presidente do Sindicato dos Professores da Madeira
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
15/05/14
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