ESTA SEMANA NO
"SOL"
OCDE avisa que exames de 4.º ano
têm potencial de exclusão social
Os exames de 4.º e 6.º ano em Portugal podem ter sido introduzidos
demasiado cedo no percurso escolar dos alunos, tendo "potencial
penalizante" para agravar o risco de reprovação e de exclusão social,
alertou um analista português da OCDE.
No final de uma conferência subordinada ao tema "Compromissos
na Educação", que decorreu na sexta-feira na Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa, o analista chefe da Direcção da Educação e das
Competências da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico), Paulo Santiago, em declarações à Lusa, sublinhou que os
exames têm uma importante função de validação de conhecimentos no
sistema de ensino, mas que só fazem sentido quando os alunos são
confrontados com mudanças e escolhas, como na definição de uma área de
interesse do 9.º para o 10.º ano, ou no final do ensino secundário, para
prosseguir estudos superiores.
A OCDE entende que entre os mais jovens os testes devem ter uma
função de diagnóstico, para permitir a orientação dos alunos e a
superação de dificuldades, retirando o peso de um exame final, com
consequências para o percurso escolar dos alunos.
Frisando que a nível europeu apenas existem exames de 4.º ano na
Bélgica e na Turquia, Paulo Santiago sublinhou o potencial de exclusão
social que estes exames podem ter.
"O que mostra a investigação a nível de educação é que o factor mais
importante é a envolvente socioeconómica do aluno: se tem um quarto para
estudar, se tem pais que o empurram para estudar, tudo isso vai
aparecer na nota do aluno. Se o exame é penalizante, no sentido que
conta para a potencial reprovação, a proporção dos que vão reprovar é
bastante mais significativa, e o que isso quer dizer é que o exame pode
eventualmente ter uma função de exclusão social", afirmou o analista da
OCDE.
Paulo Santiago referiu que em Portugal há uma tendência para
equiparar as notas dos exames aos resultados das aprendizagens e que em
muitos países apenas se introduzem notas quantitativas no percurso
escolar dos alunos a partir dos 13, 14 anos.
"[Até essas idades] o que é preciso é fazer um diagnóstico sobre a
progressão do aluno e reflectir sobre os conselhos que se podem dar para
que possa melhorar a sua aprendizagem", disse.
Paulo Santiago deixou ainda alertas sobre as escolhas precoces de uma
via profissionalizante, sublinhado também o "potencial de penalização"
para a carreira e o futuro dos jovens que escolhem este caminho
demasiado cedo.
Por uma questão de maturidade dos alunos, a OCDE entende que essa escolhe nunca deve ser feita antes dos 14, 15 anos.
"O que analisamos em muitos outros países é que quando essa escolha é
feita de uma maneira muito precoce, aos 10, 11, 12 anos, que pode ter
implicações em termos da carreira futura e das oportunidades laborais.
Os alunos ainda não estão suficientemente maduros. O que notamos na
análise nos outros países é que há uma proporção maior de alunos nessas
vias profissionalizantes que vêm de famílias mais desfavorecidas. Há o
risco de ter um impacto negativo em termos de equidade, de dar
oportunidades", disse.
Paulo Santiago disse ainda que considera "surpreendente que não haja
mais políticas de acção para desenvolver as competências e aprendizagens
dos alunos", mas não quis fazer comentários sobre as situações
concretos do programa Novas Oportunidades e dos nos centros de
qualificação, por não terem sido objecto de análise da OCDE.
"Portugal está a fazer um projecto com a OCDE sobre estratégias para
desenvolver competências e o tema da aprendizagem dos adultos está
incluído, mas ainda não há resultados", adiantou.
* Quanto a nós exames de 4º e 6º ano não serão factores de exclusão se forem bem estruturados e dimensionados, é importante que as crianças sintam algum clima de exigência.
A exclusão tem outras origens, a discrepância entre muito ricos e muito pobres, a pulverização da classe média e a incompetência do governo.
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