23/04/2014

NUNO SANTOS

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Notícias do futuro

Esta semana foram conhecidas em Paris duas notícias muito reveladoras dos caminhos da indústria do audiovisual. Vamos por partes: um estudo da Ipsos, Open Thinking Exchange revelou que 86% dos consumidores de televisão à escala planetária são ainda espectadores "ao vivo" mas que o chamado streaming e outras formas de visionamento estão em ritmo de crescimento acelerado. Em relação ao último estudo o dado principal, que não constitui exatamente uma novidade, é o aumento do visionamento em dispositivos móveis como os tablets ou os smartphones, que hoje são já uma ameaça real ao computador portátil e que no futuro poderão ser ao próprio ecrã de televisão, sobretudo em conteúdos de visionamento mais rápido como as notícias. 

Apesar de Portugal não estar referido no documento principal, os números conhecidos na audimetria da GFK não diferem muito do estudo da Ipsos - no mercado televisivo português a categoria "outros" que junta gravações e vídeo on demand, por exemplo, vale, por regra, 10% do consumo diário. A medição que ainda não existe em Portugal, pelo menos de maneira sistematizada, e que é uma ferramenta importante é a do visionamento fora do ecrã. Hoje, com as redes sociais, esse visionamento cresceu exponencialmente e vale dinheiro. É curioso verificar ainda que nas economias ditas emergentes, como a russa ou a chinesa, há mais gente a consumir conteúdos fora do ecrã em contraste com as economias que, mesmo em crise, tiveram um desenvolvimento mais sustentado no pós-guerra. 

De Paris chegou também a outra notícia que merece ser lida com atenção. Em França o filme sobre o escândalo que envolveu Dominique Strauss-Khan num hotel de Nova Iorque não vai ter exibição nas salas de cinema. O filme do realizador Abel Ferrara, que tem Gerard Depardieu como protagonista, será disponibilizado diretamente em vídeo on demand. Os produtores rejeitam a tese de terem sido alvo de qualquer pressão. Dizem apenas que o filme anterior de Ferrara fez 20 mil espectadores em sala e teve três milhões de visionamentos no YouTube. "Isso obriga-nos a refletir." Está aberto um novo caminho. 

Voz afinada
Vi finalmente, com olhos de ver, o The Voice Portugal com que a RTP tem vindo a mudar nas últimas semanas o panorama televisivo das noites de domingo. O programa está de facto bem conseguido, o júri é um achado, os apresentadores estão no tom certo, e isso é tanto mais notável no caso de Catarina Furtado, que anda há quase 20 anos a fazer programas de novos talentos sabendo encontrar sempre o registo adequado. O The Voice da RTP perturbou pouco a TVI, mas tirou muitos espectadores à SIC, captando muitos espectadores entre os 4 e os 54 anos. 

Um excesso
Foi no dia do Benfica-Porto, mas há muitos dias assim no calendário deste ano e temos outros pela frente, desde logo no Mundial do Brasil. Existe uma overdose de futebol falado na oferta televisiva em Portugal. Demasiado peso nos telejornais em canal aberto e um verdadeiro massacre nos canais informativos do cabo, onde a imaginação não abunda. O futebol é um fenómeno socialmente relevante, os canais privados em particular vivem das receitas, mas há um exagero no tempo que o futebol ocupa. 

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
20/04/14


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