09/04/2014

NICOLAU SANTOS

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O negócio da morte em Portugal
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O preço médio de um funeral ronda, no nosso país, a módica quantia de 1500 euros.
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É claro que num momento de luto e dor, os familiares aceitam pagar esta quantia sem pestanejar.
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Por isso, o mercado da morte tem evoluído bem: diminuem as empresas, aumentam os proveitos. Em 2010, havia 1178 empresas a trabalhar no sector, que facturavam 179 milhões de euros. Nos dois anos a seguir os valores foram os seguintes: 1167 empresas e 180 milhões (2011); 1141 empresas e 189 milhões (2012).
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Ou seja, há concentração no sector. E como os resultados aumentam, isso quer dizer que em média, cada um dos operadores está agora a ganhar mais que em 2010. O que também quer dizer que, das duas uma: ou há mais gente a morrer ou os funerais estão mais caros. Ou podem ser mesmos as duas hipóteses.
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Certo é que se trata de um bom negócio. Os clientes pagam e não protestam. Talvez por isso as IPSS (instituições de solidariedade social) também querem entrar no negócio. Para quê, eis a questão.
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Com efeito, as funerárias são obrigadas, desde 2001, a terem no seu cardápio um fineral social que ronda os 400 euros. Por isso, coloca-se de novo a questão: o que querem as IPSS? Fazer funerais gratuitos? Ou serem fiunanciadas pelo Estado para executarem essas funções?
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É que, convém lembrar, as IPSS recebem todos os anos 1,2 mil milhões de euros (não, não estou enganado - são mesmo 1,2 mil milhões de euros) para desenvolver actividades de solidariedade social em nome do Estado. Digamos que não é pouco. E digamos que pouca gente sabe que as IPSS recebem esta verba para fazerem o que o Estado deveria fazer.
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Daí a estas actividades passarem a ter um teor vagamente mercantilista é um passo de anão. Agora as IPSS querem fazer funerais. Com um fim social, junto do público alvo das IPSS, dizem os seus responsáveis. Mas agora é que descobriram isso? Não morreu ninguém desse público alvo até agora? Ou morreu e não foi enterrado por falta de dinheiro dos familiares?
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Convenhamos que o intuito do Governo abrir o negócio dos funerais às IPSS (passe a piada de mau gosto) não cheira bem. As IPSS já são um lobby que faz enorme pressão sobre a área de solidariedade social dos Governos. Agora vai aumentar o seu poder. 
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Esperemos que um dia destes não sejamos confrontados com a canalização de mais dinheiros públicos para as IPSS para desempenhar uma função que está assegurada pelo mercado. 
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IN "EXPRESSO"
09/04/14


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