HOJE NO
"i"
PSD e CDS vetam discurso de militares
de Abril no parlamento
Capitães
de Abril querem falar nas comemorações oficiais na Assembleia da
República.Direita é contra. PS prefere não tomar posição até o assunto
ser discutido no parlamento
.
O
PSD e o CDS rejeitam a exigência dos militares de Abril de discursarem
nas comemorações oficiais dos 40 anos do 25 de Abril na Assembleia da
República. O PS e os comunistas aguardam que o assunto seja debatido
formalmente no parlamento para tomarem uma posição e o BE entende que é
possível "dar voz" aos protagonistas da revolução.
A proposta foi feita por Vasco Lourenço e aguarda ainda uma resposta
da presidente da Assembleia da República, que contactou o presidente da
Associação 25 de Abril para tentar convencer os "capitães de Abril" a
marcarem presença na sessão solene no parlamento, ao contrário que
aconteceu em 2012 e 2013.
"Não iremos se não formos convidados para usar da palavra. Queremos
usar da palavra de pleno direito com usam os deputados e o Presidente",
diz ao i Vasco Lourenço.
O assunto será debatido numa das próximas conferências de líderes,
mas PSD e CDS não simpatizam com a proposta dos capitães de Abril. Nuno
Encarnação, deputado do PSD e do grupo de trabalho que está a preparar
as comemorações no parlamento, defende que "as cerimónias sempre se
realizaram com este formato e é assim que devem continuar". Questionado
sobre a hipótese de os militares voltarem a estar ausentes na cerimónia,
Encarnação responde que "só vai quem quer". "As portas estão abertas a
toda a gente que queira participar", diz ao i o deputado do PSD.
Na mesma linha, João Rebelo, deputado do CDS e do grupo de trabalho
que está a organizar as comemorações, classifica a exigência dos
militares como "um pedido inusitado e muito estranho". Rebelo defende, a
título pessoal, que os capitães de Abril "têm de se sujeitar ao modelo
que sempre vigorou" e é claro na defesa de que "o parlamento não devia
aceitar" esta proposta.
Os socialistas e o PCP estão à espera que o assunto seja debatido em
conferência de lideres para assumirem uma posição. Já o líder
parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, defende que deve
ser ponderada a possibilidade de os militares terem uma participação
interventiva. "É possível dar voz aos militares. Há um momento de
intervenção dos órgãos de soberania, mas a sessão solene tem um conjunto
de momentos onde é possível enquadrar a intervenção dos militares de
Abril", diz ao i Filipe Soares.
A deputada do PS e constitucionalista Isabel Moreira apresenta outra
hipótese: "Devido à data simbólica justificar-se-ia a realização de uma
sessão na Sala do Senado em que os militares pudessem discursar".
Não é a primeira vez que os militares de Abril estão ausentes das
comemorações oficiais da revolução de 1974. Nos últimos dois anos, os
capitães não foram ao parlamento em sinal de protesto contra um poder
que "deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril".
Este ano, a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves,
antecipou-se a uma decisão dos capitães de Abril e contactou Vasco
Lourenço para o sensibilizar para a importância da presença dos
militares que fizeram, há 40 anos, a revolução que mudou o regime.
O presidente da Associação 25 de Abril respondeu com a garantia de
que estariam presentes se pudessem usar da palavra, tal como o
Presidente da República e os deputados. Mas o presidente da Comissão de
Assuntos Constitucionais, Fernando Negrão, considera que a proposta
choca com o regimento da Assembleia da República, que só permite aos
"deputados, membros do governo e ao Presidente da República" usarem da
palavra. "Não vejo como ultrapassar este problema", diz Negrão ao i, garantindo que a "presença deles é muito importante e um motivo de orgulho".
Vasco Lourenço apresenta outros argumentos. "Já houve situações em
que pessoas estranhas ao parlamento falaram no plenário. Se é uma
situação excepcional pode ter uma solução excepcional". O capitão de
Abril diz, porém, que a sua convicção é que os militares voltarão a
estar ausentes nas comemorações oficiais.
* Costuma dizer-se que as excepções confirmam as regras, dar a palavra a quem lhes entregou o poder de bandeja, seria um acto de bom senso dos parlamentares portugueses. Nenhum deputado poderia estar no hemiciclo, em democracia, se não fossem os capitães de Abril.
De que têm medo? De algum inconseguimento?
.
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