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IN "DINHEIRO VIVO"
26/02/14
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Estou mais zangada
com os portugueses
do que com Tordo
Quando achava que a polémica à volta da emigração de Fernando Tordo para o Brasil e da sua curta reforma já estava prestes a morrer, como acontece em Portugal com todas as polémicas que não nos levam a lado nenhum - este é um caso típico - o desabafo do vocalista dos Moonspell no seu blog, ou melhor a utilização que tem sido feita do seu texto, leva-me a querer escrever sobre o tema.
Porque, tal como Fernando Ribeiro, também eu estou
zangada com os portugueses. Aliás, estou mais zangada com os portugueses
do que com Fernando Tordo. O que se assistiu ao longo destes dias foi
uma inútil troca de acusações, que, como já vem sendo hábito, nos
afastaram do essencial.
De um lado, os que embirram com o músico,
provavelmente porque, conforme lembra o vocalista dos Moonspell,
Fernando Tordo tocou para partidos e assumiu publicamente, após o 25 de
abril, a sua militância no PCP. Acusaram o músico português de uma
tentativa de vitimização, de contratos milionários e de uma vida
despreocupada e de regabofe, que agora, claro, se reflete numa reforma
de miséria e numa inevitável ida para o Brasil para tentar manter uma
vida de jeito.
Estes aproveitam ainda para a prática de uma moda
relativamente recente, que consiste na exibição de um pensamento
pseudo-alternativo de defesa dos poderes públicos. Por oposição aos que
cascam a torto e a direito no Governo, reagem discriminado negativamente
os cidadãos, atribuindo a estes a responsabilidade e culpa por tudo o
que lhes acontece nesta vida.
Se Fernando Tordo não tem uma
reforma digna é porque, obviamente, não fez os devidos descontos para a
Segurança Social. Assim, sem mais nem menos. Estamos cada vez mais
ideológicos, como é bom de ver.
Do outro lado desta discussão
estão os que atacam o governo, mesmo que não saibam muito bem porquê, os
que atacam os que criticam Tordo, fazendo do músico uma bandeira da
esquerda contra as políticas liberais de Passos Coelho.
Tristes
lados, que se entretêm assim, esquecendo-se do que importa e que não se
resolve com a defesa do indefensável, nem com a persistente desconfiança
em relação ao vizinho do lado.
Nem este governo é o direto
responsável pelo valor da pensão de Fernando Tordo, nem tão pouco pela
sua decisão de abandonar o país. Nem os cidadãos podem exigir direitos,
esquecendo as suas obrigações, como a de pagar impostos. Posto este
pressuposto base, chegamos à real situação de quem é quase velho ou
velho neste país. De quem é quase velho e ainda para mais foi, enquanto
novo, artista e escolheu uma profissão precária. Neste país cheio de
Mirós é sempre surpreendente o valor que se atribui à arte.
Mas
esqueçamos então os artistas, que tanta alergia têm causado. Basta ter
pais ou avós para perceber que o fim da vida, neste país, é tudo menos
uma razão de debate, é, aliás, penosamente consensual.
E lamento,
mas o que este governo fez até agora pelos que tentam escapar ao
destino de Fernando Tordo foi exatamente o mesmo, senão pior, que
fizeram todos os governos que têm governado o país. Valerá a pena falar
dos cortes previstos no Orçamento do Estado Retificativo, que entrará em
vigor brevemente, para quem tenha uma reforma superior a mil euros?!
Ah, desculpem, mas como alguém disse: "A vida das pessoas não está
melhor, mas o país está muito melhor".
Pronto, e agora proponho
que deixemos Fernando Tordo em paz e que nos concentremos no mais
importante. No meu caso, desculpem-me o egoísmo, trata-se da miserável
reforma dos meus.
IN "DINHEIRO VIVO"
26/02/14
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