Recalibrar
a idade do sexo
No particular dos telemóveis não sou
exemplo para ninguém. Já tinha 42 anos quando comprei o meu primeiro
Nokia. Claro que tenho a atenuante de ter crescido na idade das trevas
da tecnologia, em que a RTP emitia a preto e branco - e estava longe de
ser inventada a maneira de o telefone sobreviver ao corte do cordão
umbilical que o ligava a uma pequena caixa prata escondida entre o chão e
a parede.
Hoje em dia, é cada vez mais cedo que os miúdos começam
a chatear os pais para lhes darem um telemóvel. Ainda não sabem fazer
uma conta de cabeça e já nos estão a moer o juízo para lhes comprarmos
um smartphone. Somando leituras, a minha experiência e conversas com
amigos, tirei a bissetriz de que a altura certa para ter o primeiro
telemóvel é quando a idade chega aos dois dígitos e eles acabam o que
dantes se chamava a 4.ª classe.
No assunto da iniciação na brutal
perda de privacidade que representa andar sempre com um telemóvel no
bolso, não sou exemplo para ninguém. Mas acho que já o posso ser na
questão da idade da iniciação sexual, colocada em cima da mesa pela
repreensão pública que a Ordem dos Psicólogos fez a um dos seus pares, o
Quintino Aires, por este ter classificado como um problema de saúde
pública o rapaz da "Casa dos segredos" que se orgulha de ter chegado
virgem aos 26 anos.
Tinha 16 anos, acabadinhos de fazer, quando
molhei pela primeira vez o pincel, e ao contrário do George Clooney, que
perdeu a virgindade com a mesma idade que eu, não acho que tenha sido
demasiado cedo. Muito antes pelo contrário.
O tal rapazola da
"Casa dos segredos" pode não ser um caso de saúde pública, como
proclamou o Quintino, mas ou é mentiroso ou anormal. A idade legal do
consentimento está nos 16 anos (no Reino Unido, onde 1/3 dos
adolescentes têm relações sexuais antes dos 16 anos, está em debate
recuá-la para os 15 anos) e a idade média do início da vida sexual das
raparigas estabilizou nos 17 anos.
Como a normalidade é aferida
estatisticamente, o alegado virgem de 26 anos não é normal. Há gente
para tudo. Todos diferentes, todos iguais. Mas ele não é normal.
O
meio da adolescência parece-me ser a idade recomendável para a
iniciação nos prazeres do sexo. Não só porque o sexo é bom, mas também
porque é benéfico para a nossa saúde física e mental. De acordo com um
estudo de uma equipa da Universidade de Michigan, recentemente publicado
na "Science", o sexo regular é um dos segredos para ter uma vida longa e
saudável.
E não podemos perder de vista a questão da qualidade. É
consensual entre os gurus da Gestão que só após dez mil horas de treino
se atinge o patamar da excelência em qualquer atividade. O que me leva a
pensar se não seria boa ideia seguir o exemplo dos ingleses e
recalibrar para os 15 anos a idade do consentimento. Inglês aos seis
anos, telemóvel aos dez e sexo aos 15. O que é que acham?
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/01/14
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