25/01/2014

JORGE FIEL

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Recalibrar 
a idade do sexo

No particular dos telemóveis não sou exemplo para ninguém. Já tinha 42 anos quando comprei o meu primeiro Nokia. Claro que tenho a atenuante de ter crescido na idade das trevas da tecnologia, em que a RTP emitia a preto e branco - e estava longe de ser inventada a maneira de o telefone sobreviver ao corte do cordão umbilical que o ligava a uma pequena caixa prata escondida entre o chão e a parede.

Hoje em dia, é cada vez mais cedo que os miúdos começam a chatear os pais para lhes darem um telemóvel. Ainda não sabem fazer uma conta de cabeça e já nos estão a moer o juízo para lhes comprarmos um smartphone. Somando leituras, a minha experiência e conversas com amigos, tirei a bissetriz de que a altura certa para ter o primeiro telemóvel é quando a idade chega aos dois dígitos e eles acabam o que dantes se chamava a 4.ª classe.

No assunto da iniciação na brutal perda de privacidade que representa andar sempre com um telemóvel no bolso, não sou exemplo para ninguém. Mas acho que já o posso ser na questão da idade da iniciação sexual, colocada em cima da mesa pela repreensão pública que a Ordem dos Psicólogos fez a um dos seus pares, o Quintino Aires, por este ter classificado como um problema de saúde pública o rapaz da "Casa dos segredos" que se orgulha de ter chegado virgem aos 26 anos.

Tinha 16 anos, acabadinhos de fazer, quando molhei pela primeira vez o pincel, e ao contrário do George Clooney, que perdeu a virgindade com a mesma idade que eu, não acho que tenha sido demasiado cedo. Muito antes pelo contrário.

O tal rapazola da "Casa dos segredos" pode não ser um caso de saúde pública, como proclamou o Quintino, mas ou é mentiroso ou anormal. A idade legal do consentimento está nos 16 anos (no Reino Unido, onde 1/3 dos adolescentes têm relações sexuais antes dos 16 anos, está em debate recuá-la para os 15 anos) e a idade média do início da vida sexual das raparigas estabilizou nos 17 anos.
Como a normalidade é aferida estatisticamente, o alegado virgem de 26 anos não é normal. Há gente para tudo. Todos diferentes, todos iguais. Mas ele não é normal.

O meio da adolescência parece-me ser a idade recomendável para a iniciação nos prazeres do sexo. Não só porque o sexo é bom, mas também porque é benéfico para a nossa saúde física e mental. De acordo com um estudo de uma equipa da Universidade de Michigan, recentemente publicado na "Science", o sexo regular é um dos segredos para ter uma vida longa e saudável.

E não podemos perder de vista a questão da qualidade. É consensual entre os gurus da Gestão que só após dez mil horas de treino se atinge o patamar da excelência em qualquer atividade. O que me leva a pensar se não seria boa ideia seguir o exemplo dos ingleses e recalibrar para os 15 anos a idade do consentimento. Inglês aos seis anos, telemóvel aos dez e sexo aos 15. O que é que acham?

 IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/01/14

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