HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"
Deficientes têm de avisar CP 48h
antes de viajarem
Horário em que estas pessoas podem recorrer aos serviços da transportadora também é limitado.
As pessoas com deficiência motora têm de avisar a CP
com 48 horas de antecedência quando pretendem andar de comboio e não
podem viajar a qualquer hora do dia. Marisa Lino, uma mulher de 29 anos
residente em Alverca, denuncia a situação.
Marisa
sofre de artrogripose múltipla congénita, uma doença rara que lhe
atrofia as extremidades do corpo, pernas e braços, obrigando-a a
deslocar-se numa cadeira de rodas. Como vive em Alverca, e porque mora
próximo da estação, a mulher elegeu o comboio como o seu transporte
público de eleição, sempre que precisa de se deslocar a Lisboa.
Contudo, isso obriga a um planeamento das deslocações
com pelo menos 48 horas de antecedência. E mesmo assim, nem sempre é
garantido que realize a viagem sem problemas: Marisa já ficou esquecida
numa carruagem.
"Já tive duas situações em que os
revisores esqueceram-se de me fazer sair do comboio. Uma das vezes era
para sair em Entrecampos, fui parar a Benfica, duas paragens à frente,
noutra cheguei a Alverca e foi por segundos que não voltei para Sintra",
contou à agência Lusa.
SITUAÇÃO DE INJUSTIÇA
Segundo
Marisa, as situações foram prontamente resolvidas, mas decidiu mesmo
assim reclamar junto da CP. Posteriormente, um revisor da
empresa deixou-lhe uma mensagem no seu mural de Facebook, criticando a
sua postura e aconselhando-a a ter apoio psicológico por ter um
"problema mental".
Em nome do revisor, o Sindicato
Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante explicou que a atitude
daquele funcionário da CP foi resultado da frustração sentida por
entender que está a fazer o melhor trabalho possível e não compreender
as reclamações apresentadas por Marisa.
Para Luís
Bravo, do sindicato, a mensagem do revisor "é o desabafar de uma
situação de injustiça", sublinhando que a utente "teve sempre toda a
atenção" por parte dos revisores e funcionários das bilheteiras.
"Estes
trabalhadores estão diariamente disponíveis para ajudar e não
compreendem o descontentamento da Marisa face ao serviço da CP", apontou
o sindicalista.
Segundo a CP, a mensagem deixada
pelo revisor "está a ser alvo de averiguação interna" e "caso se
comprove violação de dever laboral, serão retiradas as devidas
consequências".
IMPOSSIVEL VIAJAR DEPOIS DAS 20H30
A
30 de setembro, Marisa fez um pedido junto da CP para, a 7 de outubro,
poder ir a Lisboa assistir a uma aula de dança adaptada.
"A
hora de ida de Alverca para Entrecampos marquei para por volta das três
e tal da tarde. O regresso marquei para as 20h37. No dia seguinte,
recebi a resposta por e-mail e foi-me negado essa viagem. Não pude
viajar depois das 20h30 da noite", informou a mulher.
Segundo
a própria, a explicação por parte da CP é que depois das 20h30 as
bilheteiras estão fechadas e não há ninguém para colocar a rampa que
possibilita o acesso ao comboio das pessoas em cadeiras de rodas. Marisa
refere que o facto de não poder andar de comboio à noite limita as
possibilidades de encontrar um novo emprego, de fazer uma formação ou
até mesmo de sair à noite com os amigos.
De acordo
com a empresa, não é possível prestar este serviço a todas as horas
porque está dependente das "disponibilidades humanas e materiais" da CP.
Foi ainda explicado que os recursos humanos não são iguais em todas as
estações e que, por isso, há estações onde o serviço funciona até às
23h30. Contudo, há outras em que o "horário tem outras limitações".
Marisa
Lino tem, assim, alguns desejos que gostava de ver cumpridos: poder
viajar depois das 20h30, não ter de organizar a vida com 48 horas de
antecedência e receber um pedido de desculpas pelos inconvenientes
causados pela transportadora.
* Afinal a CP não está ao serviço do cidadão, porque um cidadão deficiente, que devia ser mais considerado, não pode frequentar um curso nocturno, porque um cidadão deficiente tem de prever por exemplo, que um amigo ou familiar vai morrer dois dias depois porque 48 horas antes tem de avisar a CP que vai ao velório, este país democrático está recheado de ditadoreszecos.
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