21/12/2013

CARLA HILÁRIO QUEVEDO

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O meu reino 
por uma app

A ideia de aproximar o telefone do que nos interessa e deste modo preguiçoso obtermos a informação que queremos fascina-me

Quando há dias se falou de cozinhados natalícios, alguém sugeriu que devia haver uma app para saber quando é que o peru está pronto. Não sei se deva introduzir a questão, mas a partir de que momento começámos a comer peru no Natal? Mas voltemos ao que interessa. Com a app do peru, bastaria abrir o forno, aproximar o iPhone a uma distância segura, e logo a máquina dizia quanto tempo ainda faltava para o bicho estar no ponto. A ideia não parece tão estapafúrdia quanto o famoso iToilet, imaginado por George Costanza, na série Seinfeld, que usaria o GPS para indicar as casas de banho limpas próximas em qualquer parte do mundo. Curiosamente é a iToilet que existe, mas só se pode usar em São Paulo. Há uma iToiletFinder, mas temos de ir à Nova Zelândia. 

A app do peru, exoticamente imaginada por geeks portugueses, terá de ter em conta o mesmo mecanismo de catalogação que existe noutras aplicações, e assim incluir inúmeras variantes de peso e tamanho de perus. Talvez tudo se resuma, porém, a um cronómetro mais sofisticado com um aspecto shazamesco, mas que não passa de uma versão da App Cookit (0,89€), que tem a vantagem de nos permitir controlar vários tempos de cozedura ao mesmo tempo. Seja como for, a ideia de aproximar o telefone do que nos interessa e deste modo preguiçoso obtermos a informação que queremos fascina-me tanto quanto um truque de cartas impressiona uma criança. E porquê parar nos perus? Porque não inventar um Shazam das emoções humanas, por exemplo? No dia do lançamento da iLie, um detector de mentiras incorporado no telefone, até os fanáticos da transparência vão querer falar de privacidade. 

Mas até lá falemos de coisas boas. Duas, que entretanto descobri e que ando a explorar com entusiasmo. Uma é a app do "Times Literary Supplement" e a outra é a app do "Barrington Atlas of the Greek and Roman World", ambas concebidas para o iPad. Sobre a primeira, chamo a atenção para a excelente ideia do TLS por ocasião do seu lançamento. Durante o mês de Dezembro, o TLS oferece um iPad por semana à pessoa que melhor resumir a crítica a um livro num tweet de 140 caracteres. É com orgulho que anuncio que na semana passada ganhou Maria José Oliveira, portuguesa, com um tweet delicioso sobre "Green Hills of Africa", de Hemingway: "In the tall grass of the savannah, he saw an adjective. He aimed his rifle and shot it. Rain fell." Se quiser participar, não se esqueça de usar a hashtag #TLSAPP. Se tivermos em conta os milhares de participações, o concurso é um sucesso. Se metade tiver assinado uma subscrição do jornal, a ideia terá sido de arromba. Não sei os números, mas fui uma das novas assinantes. A app tem as imagens que faltavam na versão Kindle e junta a cada crítica uma etiqueta delicada, com pormenores de preço, etc., do livro recenseado. Daqui até haver um link demoníaco para a Amazon é um passinho. 

A outra app é dirigida a alunos e professores de Humanidades, aos que gostam de mapas e àqueles que querem ver por onde certas pessoas andavam em tempos antigos. Chama-se Barrington Atlas of the Greek and Roman World e merece os 17,99€ que custa. É uma obra colossal da Princeton University Press, onde tenciono passar o Natal e o fim de ano. Não tenham pena de mim. 

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21/12/13


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