05/11/2013

SARA BALONAS


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As campanhas já 
não são o que 
eram (2)

Em tempo de tomadas de posse, tomo a palavra para, em tom de fecho, voltar ao tema das últimas eleições.

Dizia em artigo anterior que as campanhas já não são o que eram. Nem podem ser. Mais do que nunca, o que conta é o candidato, a sua forma de pensar, a sua postura e atitude. Sobretudo, a sua capacidade de entender os cidadãos, a cidade, a região e o país.
Essencial, a seguir, é ter uma estratégia, os alicerces invisíveis que irão sustentar toda a campanha. E, aqui, como em muitas áreas, o que parece ter que mudar é o ângulo de visão. As estratégias vistas a partir das estruturas partidárias são como visões – aquário. Tudo parece ser coerente dentro da redoma onde membros da mesma espécie coabitam em circuito fechado mas, se olharem para o mundo exterior, não conseguem ver com nitidez. Nem sequer ouvir o que dizem do outro lado. Se saírem do aquário e cruzarem a sua visão com o lado de fora, a visão tende a ser mais nítida. O que muda então é o lugar de onde avistamos: há que sair da redoma e ver com os olhos dos cidadãos. Há que juntar a experiência dos políticos à experiência de quem vive no epicentro das questões. Há, enfim, que desformatar. Pensar fora da caixa.

A partir daqui, é a disciplina de seguir o guião, mantendo a coerência e a autenticidade. Mas, isso não basta. É preciso desenhar a táctica de jogo, a estratégia de campanha. Saber quando e como intervir. Antecipar. Prolongar. Ou, simplesmente, até deixar passar a bola. Sempre com o guião estratégico como pano de fundo. Para evitar descarrilamentos e para controlar os achamentos, muito abundantes nestes campeonatos.

Ao nível da comunicação, já foi aqui referido que as redes sociais assumiram um papel de destaque numa sociedade de cidadãos mais participativos. Poderosos, arriscaria a dizer pois, entrando em sintonia com o candidato, passam para o lado de dentro da campanha, sendo, eles próprios, os criadores e propagadores da mensagem, nas suas redes informais. Mas, se já estiver a pensar que tudo isto se passa nas redes sociais, desengane-se. Há vida para além do Facebook.

Por muito actuais que as estratégias de comunicação digitais e interactivas possam parecer, também têm que prever que nem todos estamos ligados aos ecrãs. Há a vida real, das ruas, dos escritórios, dos encontros entre amigos e do correio que chega a casa. Por aí, também se passa a campanha, através dos velhinhos meios tradicionais, como os jornais de campanha, os hinos, os folhetos e os debates. Porque as campanhas têm que ser inclusivas.

O que mais pode estar a mudar? A equipa que rodeia o candidato. A começar pelo director de campanha, verdadeiro maestro, com uma missão de elevada complexidade. A ele cabe conduzir uma multiplicidade de intérpretes e gerir uma infinidade de situações até ao fim, com batuta firme e olhar atento à pauta inicial. Também aqui, creio que as últimas eleições dão que pensar. Deve o director de campanha ter o olhar do político ou o olhar do cidadão? Deve ser da confiança do partido ou, sobretudo, ser uma pessoa da sociedade civil, da confiança do candidato? Voltamos à história do aquário. É uma questão de visão.


Investigadora na Universidade do Minho e directora da b+ comunicação

 IN "PÚBLICO"
29/10/13


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