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As campanhas já
não são o que
eram (2)
Em tempo de tomadas de posse, tomo a palavra para, em tom de fecho, voltar ao tema das últimas eleições.
Dizia em artigo anterior que as campanhas já não são o que eram.
Nem podem ser. Mais do que nunca, o que conta é o candidato, a sua
forma de pensar, a sua postura e atitude. Sobretudo, a sua capacidade de
entender os cidadãos, a cidade, a região e o país.
Essencial, a
seguir, é ter uma estratégia, os alicerces invisíveis que irão sustentar
toda a campanha. E, aqui, como em muitas áreas, o que parece ter que
mudar é o ângulo de visão. As estratégias vistas a partir das estruturas
partidárias são como visões – aquário. Tudo parece ser coerente dentro
da redoma onde membros da mesma espécie coabitam em circuito fechado
mas, se olharem para o mundo exterior, não conseguem ver com nitidez.
Nem sequer ouvir o que dizem do outro lado. Se saírem do aquário e
cruzarem a sua visão com o lado de fora, a visão tende a ser mais
nítida. O que muda então é o lugar de onde avistamos: há que sair da
redoma e ver com os olhos dos cidadãos. Há que juntar a experiência dos
políticos à experiência de quem vive no epicentro das questões. Há,
enfim, que desformatar. Pensar fora da caixa.
A partir daqui, é a
disciplina de seguir o guião, mantendo a coerência e a autenticidade.
Mas, isso não basta. É preciso desenhar a táctica de jogo, a estratégia
de campanha. Saber quando e como intervir. Antecipar. Prolongar. Ou,
simplesmente, até deixar passar a bola. Sempre com o guião estratégico
como pano de fundo. Para evitar descarrilamentos e para controlar os achamentos, muito abundantes nestes campeonatos.
Ao
nível da comunicação, já foi aqui referido que as redes sociais
assumiram um papel de destaque numa sociedade de cidadãos mais
participativos. Poderosos, arriscaria a dizer pois, entrando em sintonia
com o candidato, passam para o lado de dentro da campanha, sendo, eles
próprios, os criadores e propagadores da mensagem, nas suas redes
informais. Mas, se já estiver a pensar que tudo isto se passa nas redes
sociais, desengane-se. Há vida para além do Facebook.
Por muito
actuais que as estratégias de comunicação digitais e interactivas possam
parecer, também têm que prever que nem todos estamos ligados aos ecrãs.
Há a vida real, das ruas, dos escritórios, dos encontros entre amigos e
do correio que chega a casa. Por aí, também se passa a campanha,
através dos velhinhos meios tradicionais, como os jornais de campanha,
os hinos, os folhetos e os debates. Porque as campanhas têm que ser
inclusivas.
O que mais pode estar a mudar? A equipa que rodeia o
candidato. A começar pelo director de campanha, verdadeiro maestro, com
uma missão de elevada complexidade. A ele cabe conduzir uma
multiplicidade de intérpretes e gerir uma infinidade de situações até ao
fim, com batuta firme e olhar atento à pauta inicial. Também aqui,
creio que as últimas eleições dão que pensar. Deve o director de
campanha ter o olhar do político ou o olhar do cidadão? Deve ser da
confiança do partido ou, sobretudo, ser uma pessoa da sociedade civil,
da confiança do candidato? Voltamos à história do aquário. É uma questão
de visão.
Investigadora na Universidade do Minho e directora da b+ comunicação
IN "PÚBLICO"
29/10/13
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