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Porta-guião
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
05/11/13
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Porta-guião
A palavra "guião" pode significar pessoa ou
estandarte que segue à frente das tropas numa batalha, ou, mais
recentemente, roteiro, argumento. Em rigor, o "guião da reforma do
estado" (GRE) corresponde ao primeiro.
Portas e o GRE, respectivamente,
são os protagonistas deste filme negro de acção governamental. Mas a
metáfora é imparável. O Porta(s)-guião deste Governo simula que o
segura, o estandarte é brandido sem crença das tropas e a batalha
(eleitoral) que o justifica está a ano e meio de se travar.
Resta o significado do argumento, embora os actores tenham decidido
fazer greve da sua aplicação no filme que protagonizam e vinculá-lo em
jeito de guia de marcha para o próximo que se segue. Um derradeiro acto
de rendição e desespero deste governo, que procura apagar os prejuízos
da crise que agravou, inculpar o veto responsável dos opositores e
sobreviver eleitoralmente ao falhanço da sua capacidade reformista. A
audácia não tem limites: o documento parece feito de "cola de gabinete",
desprovido de orientações políticas tecnicamente contextualizadas e
imbuído de contradições e armadilhas retóricas estendidas à oposição, e
aos cidadãos. Exemplos: diz-se "aberto", mas só se dirige aos partidos e
parceiros sociais; afirma o "gradualismo", mas quer "mudar de modelo"
de estado; acusa a necessidade de se pensar no "produto", mas defende
que a redução do défice é o "único caminho" para dar esperança aos
portugueses.
Mais, omite-se o pai político do "estado pós-burocrático" (David
Cameron) e o pai jurídico do "estado simples" (Cass Sunstein), sem
conhecer dos pressupostos ideológicos antagónicos de ambos.
O documento
não resiste, por último, a uma análise de conteúdo típica de um "GRE":
redução/reduzir aparecem 50 vezes, financismos 47, espesa/défice/dívida
70, porém, motivar, esperança ou igualdade, apenas uma vez! Pior, não há
qualquer menção a liderança, estado-empreendedor, bem-estar ou
co-produção de serviços públicos, imperativos de um estado sustentável e
"confiável". Concluindo, a "boa governação" é, mais do que nunca, um
desígnio soberano de reforma do nosso Estado.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
05/11/13
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