Crianças
preconceito
Um polícia grego concluiu que os ciganos não têm filhos louros, logo, a criança foi raptada. Batia certo.
A semana foi arrasadora para os preconceitos dominantes nas sociedades europeias.
Abriu
com o vergonhoso ato da polícia francesa, decidido pelo presidente
socialista Hollande, de intercetar uma criança num autocarro escolar e
expulsá-la para o Kosovo, dando uma facada brutal no mito de que a
esquerda é a dona da moral, da integração, do respeito pelos direitos de
cidadania. A França rebelou-se indignada e as ruas encheram-se de
protestos. Ainda este caso não arrefecera, e eis que um polícia grego
produz um raciocínio digno de Sherlock Holmes. Encontra uma família
cigana com uma criança loura e conclui que os ciganos não têm filhos
louros, logo, a criança foi raptada. Batia certo.
A
Maddie, a mais conhecida das crianças louras desaparecidas, também fora
raptada, e o aviso internacional foi claro: os ciganos raptaram uma
criança cuja origem deveria ser o centro ou norte da Europa, porque era
loura. Esta nova inditosa criança heroína, fonte de compaixão europeia,
estimulou outras polícias, e na Irlanda surge mais um caso.
Outra
família cigana com uma criança loura. E toma! A miúda retirada de
imediato à família, com muitos protestos à mistura, e toca de fazer
testes de ADN para saber de onde esta teria sido raptada.
A
Europa voltou-se então para as desculpas e explicações. A esquerda
francesa atarantada, sem perceber os seus preconceitos, explicando mal e
porcamente os problemas da exclusão e da imigração, as relações com as
minorias e as perseguições xenófobas. E para agravar a situação, as
crianças louras eram, afinal, histórias mal contadas.
A
irlandesa era mesmo filha dos ciganos; a grega não viera do norte rico
da Europa, mas fora entregue à nascença por uma família búlgara ainda
mais miserável do que os miseráveis ciganos gregos. Falhava assim um bom
motivo para escarrar em cima da etnia cigana os grandes males europeus,
todos projetados nesta imensa compaixão pelas crianças louras raptadas,
roubadas, espoliadas por esses ladrões de culturas sempre em
peregrinação.
Destas histórias repugnantes de
preconceitos, fica apenas um sabor ácido de desconforto e de confronto
com o que de pior existe na natureza humana. Há tanto caminho para
andar, Santo Deus!
Professor universitário
Professor universitário
IN "CORREIO DA MANHÃ"
27/10/13
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