Natal é quando
a Popota quiser
Já não podemos dar nada como garantido. Nem mesmo que o Natal se
comemora a 25 de dezembro. No passado dia 1 de novembro, o presidente
venezuelano Nicolás Maduro decretou a chegada do Natal, alegando que a
sua antecipação era a melhor vacina para qualquer coisa que queiram
inventar, nomeadamente tumultos e violência. Em Portugal, o Natal também
já chegou. E quem tiver dúvidas, pode dirigir-se ao centro comercial
mais próximo.
Antecipar estados de graça é útil para adormecer os sentidos. Para
nos fazer esquecer as agruras da vida e focarmo-nos no que julgamos
ainda ter de positivo. Mas não faz desaparecer os problemas. Aliás, a
situação financeira que o País atravessa comprova isso mesmo.
Porventura, ao longo dos últimos anos, tivemos demasiado Natal.
Sabemos que os problemas do País não se resolvem com pensos rápidos, e
muito menos por se adiarem soluções. São necessárias reformas profundas
e uma contenção à qual poucos de nós estávamos habituados. E, não nos
podemos dar ao luxo de desfocar a nossa atenção. Aliás, porque a
utilização de manobras de diversão há muito que é comum em cenários de
guerra, mas tem-se tornado ainda mais frequente no desvio da atenção da
opinião pública sobre assuntos que ( a alguém) não interessa debater.
Todos utilizamos esta estratégia, e quando dirigida a nós, habitualmente
mordemos o isco. E pior, mobilizamos meios para lidar com ela.
O atual governo, como tantos outros antes dele, tem sido vítima, mas
também a tem aproveitado. E, nesta confusão, todos perdemos a noção do
que é essencial.
A falta de medicamentos nas farmácias continua a ser um problema que
afecta não só o seu funcionamento diário, mas principalmente a saúde da
população. Não vão haver mais vacinas para a gripe nas farmácias. O
número de falências e penhoras no sector continua a aumentar, chegando
agora a mais de 361 farmácias. Em certas regiões, continua a persistir
um problema crónico relacionado com a falta de médicos de família, como
ilustrado pelo movimento dos cidadãos de Salvaterra de Magos. Há
profissionais de saúde acusados de desviar utentes do sector público
para o privado. Há uma alegada falta de enfermeiros nas unidades de
saúde. É a situação atual do nosso país... onde o Natal chegou mais
cedo.
Entretanto, o Ministério da Saúde implementou legislação para
monitorizar uma lista de medicamentos limitada, após várias diligências
no terreno. Iniciou uma investigação sobre as causas da falta de vacinas
nas farmácias. Abriu concursos públicos para a abertura de 14 novas
farmácias. Implementou sistemas de controlo da entrada e permanência dos
profissionais nas unidades de saúde.
São pensos rápidos. Quando sabemos que o Ministério também tem uma
linha estratégica para a Saúde. O reforço dos cuidados primários, a
reestruturação da rede hospitalar, a valorização da cadeia do
medicamento, o aumento da eficiência através da disseminação de sistemas
electrónicos de partilha e transmissão de dados, com subsequente
eliminação do desperdício... O diagnóstico está feito e grande parte das
intervenções estão identificadas. Aliás, temos tido notáveis grupos de
trabalho a deliberar sobre estas matérias.
Ora os pensos rápidos não podem desviar os recursos necessários para a
implementação do essencial. Ou pior ainda, servirem para pensarmos –
Governo, profissionais, cidadãos – que já não precisamos de soluções
permanentes.
O Natal pode até ter começado cedo, mas não vai durar para sempre...
Farmacêutica
IN "i"
14/11/13
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