ESTA SEMANA NO
"SOL"
Escolas geridas por privados
dão polémica
A Suécia, o país apontado como modelo para a concessão de escolas a
privados prevista no guião da reforma do Estado, enfrenta sérios
problemas: em Maio, a JB Education, a empresa que mais escolas públicas
gere, abriu falência e deixou 10 mil alunos sem saber onde prosseguir os
estudos.
O acontecimento caiu como uma bomba, com o líder da oposição
a dizer que a Educação da Suécia tornou-se um “faroeste”. Apesar de não
estar em causa abandonar por completo o modelo de escolas públicas
geridas por privados que se iniciou em 1992, estalou a polémica no único
país da OCDE em que a Educação é 100% financiada pelo Estado. E promete
ser um dos temas quentes das legislativas em 2014.
Como as
escolas são financiadas em função do número de alunos que conseguem
captar, os opositores deste sistema na Suécia acusam as escolas de
inflacionar as notas dos alunos, não os chumbando mesmo quando não sabem
as matérias. A oposição, sustentada em relatórios da OCDE, diz que o
sistema levou à diminuição dos salários dos professores, que passaram
também a ser menos qualificados.
“Este modelo levou, na Suécia, à
fragmentação da rede, à criação de guetos educacionais em nome da
identidade dos projectos e à degradação dos resultados globais do
sistema sueco em testes internacionais” como o PISA, aponta Paulo
Guinote.
O tema também é quente no Reino Unido, onde em Julho o
jornal The Independent denunciou os planos do ministro da Educação de
permitir às escolas públicas geridas por privados transformarem-se em
empresas com fins lucrativos e de converter todas as 30 mil escolas de
Inglaterra em academies (colégios geridos por privados). Neste momento,
apenas um em cada quatro estudantes ingleses frequenta uma destas
escolas – o que corresponde a cerca de três mil estabelecimentos, um
número considerado insuficiente pelo Governo, que vê nesta abertura ao
lucro uma forma de atrair mais privados.
Tudo por regulamentar
Pouco
se sabe sobre o modelo que o vice-primeiro-ministro Paulo Portas
anunciou. E o Ministério da Educação e Ciência (MEC) deixou sem resposta
todas as perguntas do SOL.
No entanto, o anunciado abre portas a
que sejam concessionadas escolas a privados, através de concurso
público. “Podem ser associações de professores, podem ser cooperativas.
Falta saber como será regulamentado”, admite Rodrigo Queiroz e Melo da
Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo.
A
inspiração pode vir do modelo criado na Florida (EUA), no início dos
anos 90, as chamadas charter schools. E o princípio passa por uma gestão
privada de escolas da rede pública, com total autonomia pedagógica e
curricular, que funcionam em concorrência. De resto, é normal nos
Estados Unidos – onde o modelo difere bastante de estado para estado –
as escolas irem fechando por falta de procura, abrindo-se novas mais
atractivas.
“Só as escolas com competência sobrevivem, pois
aquelas que não são capazes de se afirmar com uma proposta educativa de
qualidade são preteridas pelas famílias”, explica Fernando Adão da
Fonseca do Fórum para a Liberdade de Educação.
Adão da Fonseca
defende que isso melhora o ensino porque há “uma maior pressão para que
as escolas sejam inovadoras”. E aumenta as possibilidade de todos,
independentemente do seu poder económico, poderem escolher as escolas
dos seus filhos. Refere ainda que, nos países em que este modelo existe,
as escolas “têm mostrado ser capazes de prestar serviços educativos de
qualidade com menos custos do que os das escolas estatais tradicionais”.
Adalmiro
da Fonseca, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e
Escolas Pública, não concorda e dá como exemplo os casos denunciados
esta semana pela TVI. A reportagem recuperou o estudo encomendado pela
ex-ministra Isabel Alçada para mostrar que há escolas privadas
financiadas pelo Estado que são mais caras do que as públicas. “Isto é
um ataque à escola pública”.
Paulo Guinote também vê riscos nesta
operação. “O Estado não deve alienar a prestação de serviços públicos a
privados”, defende, explicando que estes modelos precisam de um órgão
regulador forte. “Por cá, nunca se ouviu falar em qualquer escola
fechada por não cumprir os termos do contrato de associação, até porque
esse contrato é vago e limita-se a algumas condições de funcionamento”.
O modelo
Em que países há escolas públicas geridas por privados?
Suécia,
Holanda, Bélgica, França, Espanha, Estados Unidos, África do Sul, Perú e
Chile são apenas alguns exemplos, mas os modelos variam muito.
Como funcionam essas escolas?
Têm
total autonomia pedagógica, curricular e de gestão. Podem escolher os
seus programas e cursos e contratar docentes livremente.
É possível as escolas seleccionarem os alunos?
Em
alguns países, é possível seleccionar alunos. Noutros, são usados
critérios como a morada e em muitos há sorteio para escolher os que
entram.
Que vantagens tem este modelo?
As escolas passam a poder diferenciar-se e competem entre si para serem as melhores. Os custos podem baixar.
Que riscos comporta?
É necessário grande controlo do Estado para assegurar uma boa gestão financeira e bons resultados académicos.
Qual é a grande diferença entre estas escolas e os contratos de associação?
Pouca.
Até agora, o Estado só assinava contratos de associação com colégios
privados nas zonas onde não havia cobertura da rede pública. A lei mudou
e isso – que na realidade já não acontecia – deixou de ser critério.
Além disso, o novo Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo deixa
cair o «paralelismo pedagógico”, fazendo com que todos os colégios
possam definir livremente o seu projecto educativo.
* Nem com este tipo de informação, que o ministério sabe muito antes de ser noticiado, a "cratinice" recua.
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