HOJE NO
" DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Virginia López diz que é preciso
. reivindicar mais justiça
A
jornalista espanhola Virginia López, autora do livro "Impunidade",
sobre os "escândalos" que a Justiça portuguesa deixou prescrever ou não
resolveu, disse que os cidadãos têm de ser mais reivindicativos.
"O
espanhol é muito mais reivindicativo que o português e se calhar o
português tem de ser mais reivindicativo com a democracia e com a
Justiça e exigir (...). Se os 40 anos que passaram tiveram estes 15
grandes escândalos e que tiveram este desfecho, têm de pensar como vão
ser os próximos 40 anos de democracia em Portugal", disse à Lusa a
correspondente do jornal El Mundo e da Cadena Ser em Portugal, onde
reside há mais de dez anos.
O livro "Impunidade" reúne 15 grandes casos mediáticos desde a década de 1980 até 2013.
O
livro recorda os casos Camarate; Fax de Macau; Hemofílicos de Évora;
Saco Azul (Fátima Felgueiras); Moderna; Casa Pia; Freeport; Apito
Dourado; Portucale; Isaltino de Morais;
Sócrates-Independente/Relvas-Lusófona; Submarinos; Operação Furacão; BPN
e Face Oculta.
"A ideia fundamental do livro é compilar os casos
com a perspetiva de alguém que os vê de fora. Alguns, acompanhei-os como
jornalista, outros não, porque ainda não vivia em Portugal. No fundo,
quis recordar e fazer o trabalho de casa para quem lê o livro", afirmou a
jornalista.
Viginia López sublinhou que em Portugal "a memória é
curta em relação à Justiça" e que, por isso, os diversos casos não
devem cair no esquecimento, destacando o caso dos 150 hemofílicos
contaminados com o vírus da SIDA (página 55) e que "atingiu a
ex-ministra da Saúde Leonor Beleza".
"O caso dos hemofílicos
impressiona-me por ser um drama. Já estamos muito habituados em ouvir
falar de evasão fiscal, offshores, fraudes, tráfico de influências, mas o
caso dos hemofílicos impressionou-me, porque os crimes têm quase todos
alegadamente que ver com dinheiro. No caso dos hemofílicos perdemos
vidas e o caso prescreveu. Quem perde é a democracia, porque se a
democracia é para melhorar a vida das pessoas falhou completamente",
referiu Virginia López.
"Mais recentemente impressiona-me a
lentidão. Por exemplo, o caso dos Submarinos. Temos a Alemanha, porque
era uma empresa alemã, e na Alemanha houve uma resolução e em Portugal
não há resolução e depois ouvimos as explicações do Ministério Público a
dizer que não tem meios para investigar e isso é o que mais me custa",
afirmou a correspondente do El Mundo.
No caso dos Submarinos
(página 214) a autora refere que o que se torna efetivamente necessário
esclarecer é se por detrás do contrato assinado pelo então ministro da
Defesa durante o Governo de José Manuel Durão Barroso, Paulo Portas,
existiu algum tipo de situação menos clara, leia-se "'alegados subornos,
corrupção ou contrapartidas falsas'".
Destacando a importância
da imprensa, Virgina López afirmou que em Portugal os casos começam por
ser muito escandalosos quando aparecem na comunicação social, "os
portugueses levam as mãos à cabeça" e "comenta-se tudo nos cafés".
"Depois
há arguidos, o Ministério Público faz acusações, há julgamentos e, no
fim, algumas vezes, acaba-se em absolvição ou em prescrição ou em pena
suspensa, ou em falta de prova", disse a jornalista, que na conclusão do
livro "Impunidade" (página 265) sublinha aquilo que diz ser o
sentimento dos cidadãos em relação à Justiça.
"Os portugueses ao
longo da democracia, foram testemunhas de tantos escândalos relacionados
com políticos que são cada vez mais desconfiados, colocando todos no
mesmo saco, convencidos que os políticos, façam o que fizerem, são
intocáveis e que a justiça não é para eles ...".
O livro "Impunidade" (editora Esfera dos Livros, 301 páginas) vai ser apresentado em Lisboa, na quarta-feira.
* Um livro para ler sobre a amarga justiça portuguesa
.
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