25/10/2013

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 HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"

A quinta de luxo no Dão
 que seduz reis e milionários

A Quinta de Lemos, na região do Dão, é o quartel-general do grupo Abyss & Habidecor. Fundada por Celso de Lemos, recebe clientes de todo o lado. É ali que mostra as melhores toalhas do mundo e um vinho de excelência.

Barack Obama, Putin, Ronaldo e membros da realeza já experimentaram os tecidos de algodão, linho e cachemira produzidos nas duas fábricas portuguesas - uma em Tondela e outra em Mundão - de Celso de Lemos, o fundador da Quinta de Lemos, em Viseu. Ali, entre as Serras da Estrela e do Caramulo, em pleno Dão, escondem-se outros tesouros: um vinho que ambiciona ser o melhor do mundo, três suites luxuosas e um heliporto para receber clientes famosos.
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A quinta é o melhor cartão-de-visita para mostrar o que de bom ali se faz. As toalhas conquistaram fama e até o prestigiado Wall Street Journal descreveu-as como as melhores do mundo. Aliás, os artigos da Abyss & Habidecor, marca do grupo da família Lemos, são famosos em todo o mundo. No Harrods, em Londres, ou no Bloomingdale's, em Nova Iorque, podem encontrar-se lençóis de cama, robes e tapetes de casa de banho com selo português. Os hotéis de luxo Burj Al Arab, no Dubai, ou o Grand Hyatt, em Hong Kong, também foram seduzidos pela marca. Pierre de Lemos - filho do empresário português - diz mesmo que a Abyss & Habidecor "é a Hermès da casa de banho".

Mas para atingir esta notoriedade foi preciso desbravar caminho.
Um regresso às origens
Celso de Lemos é o nome do empreendedor. Nasceu em Viseu, filho de um maquinista e de uma vendedora de artigos têxteis no mercado local, e partilhou a sua infância e juventude com mais seis irmãos. Conta Pierre de Lemos que o seu avô "faleceu muito jovem" e foi a avó Georgina que educou "no rigor" os sete filhos. Fê-los industriais, arquitectos e professores e "deu-lhes os princípios da vida, que ainda hoje perduram".

"A minha avó dizia que para receber é preciso dar, dar muito. E nos negócios o que conta é o ser humano, é criar uma relação", recorda Pierre de Lemos. O pai, que em Viseu "não era o primeiro da classe", na juventude jogou no Sporting e, por essa altura, teve que definir o seu rumo. Conseguiu ‘escapar' à tropa e a mãe aconselhou-o a ir para a Bélgica, onde tirou o curso de engenharia química e iniciou-se no comércio de artigos têxteis produzidos nas grandes fábricas do Norte de Portugal. Tinha cerca de 30 anos quando percebeu que havia um nicho de mercado que podia ser explorado: a alta qualidade. Pôs os pés a caminho de Viseu, porque Portugal está-lhe na alma, e fundou numa cave a Abyss & Habidecor. No início contava apenas com Isabela - que só recentemente se reformou - e Aníbal como trabalhadores. A empresa foi crescendo, sempre com o objectivo de produzir qualidade e não quantidade.

O segredo da qualidade? "É tudo feito à mão, com as melhores matérias-primas, algodão do Egipto - não é qualquer algodão, é o Giza 70, um dos melhores do mundo - cachemira da Mongólia, seda da Ásia e linho - e não queremos ir por outro caminho". São as 200 pessoas que actualmente emprega o grupo, que trabalham o artigo desde o fio até à entrega ao cliente final. Pierre Lemos destaca ainda que uma das características das unidades é a flexibilidade.

"Fazemos todos os artigos à medida que o cliente quiser e personalizamos o produto ao máximo, desde a cor até protecções contra frio ou calor extremo", salienta.

Pierre garante que o "grupo é autónomo, os investimentos são feitos com capital próprio, tem um chefe e uma equipa" e "nunca despediram ninguém". A Abyss & Habidecor exporta 85% da sua produção e é nos Estados Unidos que tem o seu principal mercado (vale 30%). Mas é possível que em breve Inglaterra dispute essa primazia. A Abyss tem desde Abril um espaço de 35 metros quadrados no Harrod's e "já ocupa o primeiro lugar nas vendas de artigos de casa de banho. É a primeira marca a ultrapassar as outras em tão pouco tempo", diz com orgulho. A Abyss teve que esperar para conseguir um bom espaço no Harrods, mas o sucesso bateu logo à porta pois a "marca é conhecida em todo o mundo".

Certo é que para além de equipar suites de hotéis de luxo, os produtos da Abyss estão à venda em 25 lojas dentro dos melhores ‘department stores' do mundo. Para além do já citados Harrods e Bloomingdale´s, a Abyss & Habidecor marca presença no ABC de Nova Iorque, no Harvey Nichols do Dubai ou no Lane Crawford de Hong Kong. Espanha, Itália, Bélgica ou França são outros dos destinos dos têxteis. Em Portugal, os artigos podem ser encontrados no El Corte Inglés ou no espaço Paris, em Lisboa.

Para o futuro, a empresa definiu um objectivo: reduzir dos actuais 1500 clientes para 500. "Queremos facturar mais com menos clientes, queremos melhores clientes, melhorar ainda mais a relação com os clientes", diz Pierre.

HELIPORTO PARA OS CLIENTES
Com o negócio dos têxteis em velocidade cruzeiro, Celso de Lemos quis também homenagear o pai, que sempre esteve apreciou muito o cultivo da terra. O empresário decidiu comprar uma propriedade de cinco hectares em Passos de Silgueiros, no Dão, circunscrita pelas serras da Estrela, Caramulo, Buçaco e Nave. A Quinta de Lemos foi crescendo lentamente, ano após ano, e hoje são 50 hectares com 25 de vinha, três mil pés de olival, cinco colmeias e uma horta.


As primeiras garrafas de vinho tinto Quinta de Lemos saíram para o mercado em 2008, após um período de cinco anos de envelhecimento. Como explica o enólogo Hugo Chavez, a quinta tem uma capacidade de produção de 500 mil garrafas anuais, "mas só produzimos 100 mil, na vindima 75% das uvas são atiradas à terra". "Nós queremos ser dos melhores . O objectivo é a qualidade e mais dia, menos dia vai dar resultado", garante. 

Os vinhos Quinta de Lemos já receberam variadíssimas distinções, ainda este ano no ‘International Wine Challenge' - concurso de prestígio internacional - o vinho Dona Georgina 2005 foi distinguido com a ‘Gold Medal, Portuguese Red Trophy e Dão Trophy' e com o prémio James Rogers Trophy 2013, tendo ficado nomeado com um dos cinco melhores vinhos do mundo. Na Quinta de Lemos são produzidas sete referências de vinhos, com destaque para os tintos. Contudo, e porque a tendência mundial exige, também fazem brancos e pensam plantar brevemente mais dois hectares de uva branca. O primeiro branco irá para o mercado em 2014.

"É um trabalho de formiga", diz Pierre de Lemos. A Quinta de Lemos quer vender essencialmente em garrafeiras e restaurantes, onde seja possível explicar ao consumidor o vinho, as castas e como o acompanhar. Os vinhos estão à venda em Portugal, Bélgica, Suíça, Áustria, Inglaterra. "Nós produzimos 100 mil garrafas e queremos partilhá-las com 20 países, cinco mil em cada país", confidencia.

Como é desígnio de Celso de Lemos, a Quinta de Lemos é um instrumento para "promover o Dão, promover Portugal, toda a gente conhece Bordéus, Champagne, mas pouca gente conhece o Dão. Isto é um investimento que só vai beneficiar a futura geração", salienta Pierre de Lemos.

E quanto já gastaram? O investimento na propriedade não é revelado, mas Pierre de Lemos admite que foram bem mais de 10 milhões de euros. Ainda agora, finalizaram um novo projecto na quinta, um edifício no cimo de uma colina e encostado à pedra granítica típica da região. O empreendimento alberga um restaurante - sob o comando do chef Daniel Rocha - que abrirá ao público, sujeito a reserva, no início do ano, três luxuosos quartos onde imperam esculturas de Paulo Neves, um ‘show room' dos têxteis da Abyss e em breve uma garrafeira. E a pensar nos clientes internacionais que vêm fazer negócios com a empresa têxtil construíram um heliporto.

Até porque a Quinta de Lemos "é uma carta de visita", "é para partilhar com os amigos, com os clientes ligados ao têxtil e ao vinho, para trabalhar e descansar em Portugal e ficar com uma boa memória do País, é esse o objectivo", adianta. Ainda há duas semanas lá estiveram agentes do Harrods e uma delegação dos Estados Unidos.

Com 65 anos, Celso de Lemos, o mentor de todos estes projectos, continua em grande actividade, sempre dentro do avião a dar seguimento aos negócios. Os seus três filhos têm também já papéis relevantes no grupo e já asseguraram a terceira geração. São nove pequenos que vão ver o Dão crescer no mundo.

* Um sucesso português.

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