HOJE NO
" JORNAL DE NEGÓCIOS"
Autoridades suecas ponderam
forçar famílias a amortizar créditos
para reduzirem dívida
O endividamento privado na Suécia está a atingir níveis “preocupantes”, pelo que as autoridades estão a preparar medidas que evitem problemas no sistema financeiro. Actualmente, considerando que a maioria das famílias paga apenas juros no início do contrato, o tempo médio de liquidação dos empréstimos é de 140 anos, e o endividamento é superior em 170% do rendimento disponível.
ECONOMIA DESCARRILADA |
Os níveis de endividamento das famílias
suecas são dos mais elevados da Europa. Actualmente, o valor dos
empréstimos contraídos excede em 170% o valor do rendimento disponível e
as autoridades estimam que em 2015 o valor da dívida privada aumente
para 177%.
Entre 2004 e 2008, o ritmo financiamento era de 10% ao ano. Com a
introdução de medidas mais restritas na concessão de crédito, o ritmo de
crescimento diminuiu para 4,5% no último ano. Porém, governantes e
entidades reguladoras estão novamente preocupados, uma vez que o ritmo
de endividamento dos suecos está a acelerar novamente. Em Julho, a
contracção de empréstimos aumentou 4,8%, depois de em Junho e Maio já
ter crescido 4,6%.
Desde 2000, o preço das habitações na Suécia duplicou e existe o
receio de que se esteja a formar uma bolha no sector imobiliário. Os
valores do endividamento privado acarretam também sérios riscos para os
bancos, cujo valor dos activos excede em quatro vezes o tamanho da
economia sueca.
Um relatório, divulgado em Março, elaborado pela Autoridade de
Supervisão Financeira (FSA, na sigla inglesa) sueca mostra que, tendo em
consideração os actuais níveis de amortização, se estes fossem
mantidos, as famílias demorariam, em média, cerca de 140 anos para pagar
os empréstimos. Isto devido ao tipo de contratos de crédito celebrados,
já que a maior das famílias opta por começar a pagar apenas juros no
início dos contratos, só posteriormente começa a amortizar a dívida.
A Bloomberg explica que apenas 40% dos cidadãos que contraíram
empréstimos, e cuja dívida é inferior a 75% do valor do imóvel, estão a
amortizar os seus créditos.
Em causa está o facto de, na Suécia, ser muito recorrente as
famílias optarem pela carência de capital no início dos contratos de
crédito. Ou seja, nos primeiros tempos não amortizam capital, pagam
apenas juros. Desta forma, muitos cidadãos optam por adiar a
amortização para fases tardias da vida. E é este contexto que eleva para
140 anos o tempo médio de liquidação de um contrato de crédito à
habitação.
O regulador tem introduzido regras mais apertadas para evitar
problemas no sistema financeiro. Em Outubro de 2010, a FSA introduziu
uma cláusula para a contracção de empréstimos, que dita que os bancos
não podem financiar mais de 85% da avaliação da propriedade a adquirir.
Porém, com os níveis do endividamento privado as autoridades e o
Governo ponderam introduzir medidas adicionais para impedir que os
níveis de dívida continuem a aumentar. Uma das medidas que está a ser
analisada é a amortização obrigatória.
“Se os níveis de endividamento continuarem a aumentar, para níveis já
verificados, teremos de fazer alguma coisa”, indica o director-geral da
FSA, Martin Andersson, citado pela Bloomberg. “Amortização [dos
empréstimos] é o passo mais natural”, acrescenta ainda Martin Anderson.
Ainda assim, não se compromete com a introdução de uma medida deste
género.
Apesar de o Governo sueco afirmar “estar preparado para introduzir
medidas adicionais caso as já adoptadas não tenham os efeitos
esperados”, o Executivo indicou anteriormente que a amortização
obrigatória não é a melhor medida para travar os níveis de
endividamento. “Temos de encontrar uma maneira que não cause uma mudança
abrupta no mercado, uma vez que poderia ter impactos no consumo e no
crescimento económico”, disse esta terça-feira o ministro de Mercados
Financeiros, Peter Norman, citado pela Reuters.
No último mês, o Executivo sueco revelou uma estratégia para reforçar
as regras de capital dos bancos, sendo que as entidades bancárias
suecas são das que já estão sujeitas às regras mais rígidas. De acordo
com o governador do Riksbank, o banco central do país, a nova estratégia
vai “ajudar a criar um melhor potencial para reduzir os riscos
associados com os elevados níveis de endividamento das famílias”. Um
sistema financeiro com o tamanho do sistema sueco deixou o país
“vulnerável” a choques financeiros, indicou o ministro de Mercados
Financeiros.
Apesar de o Governo considerar que a amortização obrigatória não é a
medida mais indicada a implementar a possibilidade continua em cima da
mesa, uma vez que, como indicou Peter Norman, a decisão final cabe à FSA
e não ao Governo.
* SOS SUÉCIA.
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