A educação como
arma também na banca
Lentamente, demasiado lentamente, os
governos começam a regulamentar a actividade bancária reconhecendo que
foi ali que se situou o epicentro do terramoto que abalou a vida de
milhões de pessoas.
A mais recente notícia é que a Associação Europeia de Bancos
(EBA) vai ter uma base de dados com os registos de responsáveis da
banca, para evitar que andem a cruzar as fronteiras depois de já terem
lançado para a desgraça outros países.
Além das medidas que estão a ser adoptadas, é preciso que as
autoridades combatam o desconhecimento que ainda existe sobre o
funcionamento dos bancos. E isso passa por uma campanha mas também por
integrar nas escolas matérias financeiras. A educação é a mais eficaz
arma contra quem quer explorar os ignorantes.
O caso do Anglo Irish, com gravações de conversas datadas de 2008
e que estão a ser divulgadas pelo jornal irlandês "Irish Independent",
mostra que os responsáveis do banco conheciam a verdadeira dimensão do
problema e enganaram propositadamente as autoridades. E estas são
revelações que apontam para a urgente necessidade de se alterarem as
regras do jogo na banca, não cedendo à chantagem de que mais
regulamentação significará menos crédito à economia porque se exige mais
capital e se conduz a menos rentabilidade.
Nas gravações que o 'Irish Independent' está a revelar percebe-se
que construíram uma estratégia para envolver o Estado, designadamente o
banco central, escondendo deliberadamente as perdas. O que se entende
do que ouve passa por uma estratégia em que se minimizam os recursos que
se diz necessitar para depois condicionar as futuras decisões do banco
central e do Estado. Chega-se ao ponto de ouvir um dos responsáveis
dizer que se o banco for nacionalizado tanto melhor, porque não perdem
os lugares.
Os riscos excessivos que os bancos correram têm de ser combatidos
e só o podem ser com a cooperação entre países, especialmente no espaço
do euro, mas também com uma campanha que ensine as pessoas a escolherem
os seus bancos.
É toda uma política de combate à iliteracia financeira que tem de
ser desenhada, para que os governos possam de facto aplicar as medidas
que estão desenhadas, desde a responsabilização dos depositantes, a
regras mais exigentes para os bancos e informação mais rigorosa sobre
quem os dirige.
Quando um depositante perceber que só tem de ter medo do seu
banco quando ele lhe oferecer vantagens muito acima do que consegue a
concorrência poucos terão incentivos para correr riscos excessivos. Os
casos que ocorreram na banca portuguesa, do BPN ao BPP, passando pelo
próprio BCP, mostram bem que, a coberto do que diziam ser uma gestão
mais eficiente, acabaram por correr riscos excessivos.
Todas as novas regras que se apliquem à banca têm de premiar quem
faz uma gestão prudente dos depósitos assim como de todos os outros
recursos que a instituição tem, como os empréstimos obrigacionistas e o
dinheiro dos accionistas. E para premiar a gestão prudente é preciso
contar com consumidores informados.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/07/13
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