12/07/2013

HELENA GARRIDO

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A educação como
arma também na banca

Lentamente, demasiado lentamente, os governos começam a regulamentar a actividade bancária reconhecendo que foi ali que se situou o epicentro do terramoto que abalou a vida de milhões de pessoas.

A mais recente notícia é que a Associação Europeia de Bancos (EBA) vai ter uma base de dados com os registos de responsáveis da banca, para evitar que andem a cruzar as fronteiras depois de já terem lançado para a desgraça outros países.

Além das medidas que estão a ser adoptadas, é preciso que as autoridades combatam o desconhecimento que ainda existe sobre o funcionamento dos bancos. E isso passa por uma campanha mas também por integrar nas escolas matérias financeiras. A educação é a mais eficaz arma contra quem quer explorar os ignorantes.

O caso do Anglo Irish, com gravações de conversas datadas de 2008 e que estão a ser divulgadas pelo jornal irlandês "Irish Independent", mostra que os responsáveis do banco conheciam a verdadeira dimensão do problema e enganaram propositadamente as autoridades. E estas são revelações que apontam para a urgente necessidade de se alterarem as regras do jogo na banca, não cedendo à chantagem de que mais regulamentação significará menos crédito à economia porque se exige mais capital e se conduz a menos rentabilidade.

Nas gravações que o 'Irish Independent' está a revelar percebe-se que construíram uma estratégia para envolver o Estado, designadamente o banco central, escondendo deliberadamente as perdas. O que se entende do que ouve passa por uma estratégia em que se minimizam os recursos que se diz necessitar para depois condicionar as futuras decisões do banco central e do Estado. Chega-se ao ponto de ouvir um dos responsáveis dizer que se o banco for nacionalizado tanto melhor, porque não perdem os lugares.

Os riscos excessivos que os bancos correram têm de ser combatidos e só o podem ser com a cooperação entre países, especialmente no espaço do euro, mas também com uma campanha que ensine as pessoas a escolherem os seus bancos.

É toda uma política de combate à iliteracia financeira que tem de ser desenhada, para que os governos possam de facto aplicar as medidas que estão desenhadas, desde a responsabilização dos depositantes, a regras mais exigentes para os bancos e informação mais rigorosa sobre quem os dirige.

Quando um depositante perceber que só tem de ter medo do seu banco quando ele lhe oferecer vantagens muito acima do que consegue a concorrência poucos terão incentivos para correr riscos excessivos. Os casos que ocorreram na banca portuguesa, do BPN ao BPP, passando pelo próprio BCP, mostram bem que, a coberto do que diziam ser uma gestão mais eficiente, acabaram por correr riscos excessivos.

Todas as novas regras que se apliquem à banca têm de premiar quem faz uma gestão prudente dos depósitos assim como de todos os outros recursos que a instituição tem, como os empréstimos obrigacionistas e o dinheiro dos accionistas. E para premiar a gestão prudente é preciso contar com consumidores informados.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/07/13

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