ONTEM NO
"PÚBLICO"
Pelo menos 22 mulheres foram mortas desde o início do ano
Observatório de Mulheres Assassinadas vê com preocupação notícias
de 20 casos de violência de género apenas no primeiro semestre. Neste
fim-de-semana, duas mulheres foram mortas pelos respectivos maridos.
Amélia e Alzira foram as últimas a entrar na lista do Observatório de
Mulheres Assassinadas. Terão sucumbido sábado à fúria dos maridos.
Neste ano, pelo menos 22 mulheres foram notícia por terem sido mortas
por um homem com quem mantinham ou tinham mantido uma relação íntima.
Tal como em 2012, o número deste tipo de homicídios ameaça este ano ser
elevado.
No início da tarde de
sábado, em Alhos Vedros, na Moita, terá sido atacada Amélia: a mulher,
de 49 anos, terá sido esfaqueda pelo marido, de 60 anos. Convencido de
que a deixara morta em casa, ele terá ido a um café contar o que acabara
de fazer. Ela morreu a caminho do Hospital do Barreiro.
Horas
depois, Alzira, nas Caldas da Rainha, terá sido agredida pelo marido: o
homem, de 49 anos, ter-lhe-á batido com uma pedra na cabeça e te-la-á
asfixiado com um lençol. Morta a mulher, de 42 anos, o agressor terá
telefonado para o 122 e aguardado.
Só no primeiro semestre deste
ano, o Observatório de Mulheres Assassinadas, um grupo de trabalho da
organização feminista UMAR, que passa a imprensa nacional a pente fino
em busca de notícias desta natureza, contou 20 casos. Com as duas
ocorrências desde fim-de-semana, passa a 22. O número “nada augura de
bom”, no entender de Elisabete Brasil, responsável pelo referido grupo.
Em 2012, no final do primeiro semestre também contabilizava 20 casos e
esse ano acabou por fechar com 40.
“Este é um ano de grande
preocupação”, comentou hoje à tarde a jurista, numa curta conversa
telefónica. “Os meses de Verão são terríveis.” A experiência mostra-lhe
que nos meses de Julho, Agosto e Setembro tende a haver mais crimes de
homicídio – tentado ou consumado. São meses de férias, as pessoas têm
tendência a passar mais tempo juntas, lembra.
Podem agudizar-se os
conflitos dentro dos casais. E as vítimas podem ter maior dificuldade
em recorrer a estruturas de apoio. Muitas vezes, o homicídio é
antecedido por episódios de violência. Não raras vezes, há registo de
denúncias apresentadas às autoridades. E tudo isso, avisa, deve servir
de alerta.
O número de mortes tem oscilado muito nos últimos anos.
Em 2011, por exemplo, no final de Junho tinham sido noticiadas 11
mortes e o ano terminou com 24. Indo mais atrás: a primeira metade do
ano responde por 15 de 43 casos de 2010 e por 12 dos 29 casos de 2009.
Daqui se depreende que não há uma evolução contínua, apesar do
investimento na prevenção da violência doméstica e na protecção de
mulheres e crianças.
Embora não existam estudos sobre os efeitos
da crise financeira e económica, “neste contexto torna-se mais difícil
que as pessoas saiam das relações complicadas em que estão”, diz João
Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. “Mas
muitas vezes o medo de destruir o núcleo familiar ou de perder os filhos
é superior e as pessoas retraem-se.”
Alzira, a mulher morta nas
Caldas da Rainha, estava doente. Estaria a recuperar de um cancro.
Passava grande parte dos dias dentro de casa. O marido também lá estava.
Estava desempregado. Outrora motorista de pesados, estava agora
reduzido a serviços ocasionais de construção civil.
O Relatório
Anual de Segurança Interna relativo a 2012 diz que a criminalidade geral
baixou 2,3% no ano passado em comparação com 2011, o que equivale a
menos 9461 participações feitas às polícias. Um decréscimo significativo
registou-se ao nível da criminalidade mais grave e violenta, que baixou
7,8% face a 2011. Apesar disso, em 2012 contabilizaram-se mais 32
homicídios do que no ano anterior, num total de 149. Destes, 37 foram
homicídios conjugais, tendo os crimes de violência doméstica registado
um decréscimo de 10% em todo o território nacional.
* Uma notícia de ontem sobre uma tragédia diária, a violência doméstica. Os autores dos crimes não podem ser contemplados com penas menores, ou a justiça cairá na rua.
Portugal é um país de brandos costumes, porra????
.
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