Do falhanço e do sucesso
1. Foi esta semana apresentado o estudo "25 Anos de Portugal Europeu",
coordenado pelo antigo ministro da Economia Augusto Mateus, cuja
conclusão global foi a de que este quarto de século de integração na
União Europeia foi um semifalhanço. Em boa hora nos é dado a conhecer
este diagnóstico, para que a preparação do próximo Quadro Estratégico
Comum possa reconhecer os erros do passado e incorporar uma visão mais
sustentável para o futuro.
A frieza dos números revela que, nos últimos 25 anos, Portugal
recebeu 9 milhões de euros por dia em fundos comunitários. São cerca de
80 mil milhões, que, ao contrário do atual resgate (de valor
semelhante), nos foram entregues a fundo perdido. Apesar de uma
indiscutível melhoria nas condições de vida dos portugueses, a
utilização de todo este dinheiro resultou apenas numa frágil
convergência em termos do PIB per capita, deixando-nos ainda muito
abaixo da média europeia e com desequilíbrios regionais inaceitáveis.
A
inexistência de uma visão para o futuro de Portugal fez com que as
(pseudo)políticas de desenvolvimento tenham sido, nestes anos, um
exercício de afetação e execução de dinheiros europeus em que a
estratégia era condicionada pelas "etiquetas" associadas a cada rubrica
dos fundos. Este percurso foi excecionalmente agravado pela inadequada
estrutura da administração do território, a qual permitiu que a escala
de reivindicação e aplicação de parte significativa dos fundos de coesão
fosse o município.
Dispersaram-se assim os recursos em milhares de
microprojetos, tantas e tantas vezes redundantes, sem que se tenham
percebido apostas de competitividade fortemente ancoradas nas
assinaturas de competências existentes ou mobilizáveis nas grandes
regiões do território.
É por tudo isto que fico preocupado perante
estas tentativas desajeitadas, pouco democráticas e inconstitucionais
de criar comunidades de municípios que não têm a escala necessária para
alavancar regiões e que resultam de convicções de governantes mais ou
menos ignorantes que não se dignam sequer fazer qualquer estudo que
suporte as suas propostas. Perante a insistência da maioria que nos
governa, que parece querer ainda viabilizar o modelo Relvas, eu
contraponho um desafio que tem tanto de atual como de necessário:
cumpra-se a Constituição, abra-se o debate da regionalização,
encontre-se um modelo democrático e financeiramente compatível com as
possibilidades do país. Aquilo que tivemos até hoje não serve, como
muito bem demonstra o estudo de Augusto Mateus.
Se não for dada
esta oportunidade ao país, a História julgará a atual "elite" política
como a mais incompetente e antipatriótica de que há memória em muitas e
muitas décadas.
2. É um dos jornais mais antigos publicados em
Portugal, mas é, acima de tudo, o periódico que mais persegue a vida de
todos os dias que pulsa em diversos pontos do país e que nos estrutura
enquanto sociedade. Numa altura em que os media atravessam uma crise
gravíssima, o "Jornal de Notícias" aqui está a comemorar 125 anos com a
solidez de um percurso marcante, sublinhando diariamente que a notícia
está onde a vida acontece e merece ser ampliada.
Com a sua
Redação central no Porto, o JN tem forçosamente uma política editorial
que valoriza os acontecimentos que decorrem no Norte do país. E com isso
equilibra um trabalho jornalístico que, em Portugal, se centraliza cada
vez mais em Lisboa.
Em fevereiro deste ano, o JN reforçou a sua
Redação em algumas capitais de distrito (onde tem já delegações e
correspondentes). Com esta iniciativa, aumentou a noticiabilidade dessas
regiões, comprovando-se que há muitos acontecimentos que merecem ser
noticiados, muitas 'estórias' que têm de ser contadas e muitas fontes de
informação que devem ser ouvidas. Nas páginas deste jornal,
deparamo-nos com importantes relatos noticiosos que, ao terem eco num
jornal nacional de grande expansão, entram num processo de
'agenda-setting', sendo depois ampliados noutros órgãos de Comunicação
Social, ganhando grande notoriedade pública. Faz-se serviço público no
JN. Parabéns.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/06/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário