05/06/2013

JOSÉ MENDES

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Do falhanço e do sucesso

1. Foi esta semana apresentado o estudo "25 Anos de Portugal Europeu", coordenado pelo antigo ministro da Economia Augusto Mateus, cuja conclusão global foi a de que este quarto de século de integração na União Europeia foi um semifalhanço. Em boa hora nos é dado a conhecer este diagnóstico, para que a preparação do próximo Quadro Estratégico Comum possa reconhecer os erros do passado e incorporar uma visão mais sustentável para o futuro. 

A frieza dos números revela que, nos últimos 25 anos, Portugal recebeu 9 milhões de euros por dia em fundos comunitários. São cerca de 80 mil milhões, que, ao contrário do atual resgate (de valor semelhante), nos foram entregues a fundo perdido. Apesar de uma indiscutível melhoria nas condições de vida dos portugueses, a utilização de todo este dinheiro resultou apenas numa frágil convergência em termos do PIB per capita, deixando-nos ainda muito abaixo da média europeia e com desequilíbrios regionais inaceitáveis.

A inexistência de uma visão para o futuro de Portugal fez com que as (pseudo)políticas de desenvolvimento tenham sido, nestes anos, um exercício de afetação e execução de dinheiros europeus em que a estratégia era condicionada pelas "etiquetas" associadas a cada rubrica dos fundos. Este percurso foi excecionalmente agravado pela inadequada estrutura da administração do território, a qual permitiu que a escala de reivindicação e aplicação de parte significativa dos fundos de coesão fosse o município.

Dispersaram-se assim os recursos em milhares de microprojetos, tantas e tantas vezes redundantes, sem que se tenham percebido apostas de competitividade fortemente ancoradas nas assinaturas de competências existentes ou mobilizáveis nas grandes regiões do território.

É por tudo isto que fico preocupado perante estas tentativas desajeitadas, pouco democráticas e inconstitucionais de criar comunidades de municípios que não têm a escala necessária para alavancar regiões e que resultam de convicções de governantes mais ou menos ignorantes que não se dignam sequer fazer qualquer estudo que suporte as suas propostas. Perante a insistência da maioria que nos governa, que parece querer ainda viabilizar o modelo Relvas, eu contraponho um desafio que tem tanto de atual como de necessário: cumpra-se a Constituição, abra-se o debate da regionalização, encontre-se um modelo democrático e financeiramente compatível com as possibilidades do país. Aquilo que tivemos até hoje não serve, como muito bem demonstra o estudo de Augusto Mateus.
Se não for dada esta oportunidade ao país, a História julgará a atual "elite" política como a mais incompetente e antipatriótica de que há memória em muitas e muitas décadas.

2. É um dos jornais mais antigos publicados em Portugal, mas é, acima de tudo, o periódico que mais persegue a vida de todos os dias que pulsa em diversos pontos do país e que nos estrutura enquanto sociedade. Numa altura em que os media atravessam uma crise gravíssima, o "Jornal de Notícias" aqui está a comemorar 125 anos com a solidez de um percurso marcante, sublinhando diariamente que a notícia está onde a vida acontece e merece ser ampliada.

Com a sua Redação central no Porto, o JN tem forçosamente uma política editorial que valoriza os acontecimentos que decorrem no Norte do país. E com isso equilibra um trabalho jornalístico que, em Portugal, se centraliza cada vez mais em Lisboa.

Em fevereiro deste ano, o JN reforçou a sua Redação em algumas capitais de distrito (onde tem já delegações e correspondentes). Com esta iniciativa, aumentou a noticiabilidade dessas regiões, comprovando-se que há muitos acontecimentos que merecem ser noticiados, muitas 'estórias' que têm de ser contadas e muitas fontes de informação que devem ser ouvidas. Nas páginas deste jornal, deparamo-nos com importantes relatos noticiosos que, ao terem eco num jornal nacional de grande expansão, entram num processo de 'agenda-setting', sendo depois ampliados noutros órgãos de Comunicação Social, ganhando grande notoriedade pública. Faz-se serviço público no JN. Parabéns.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/06/13

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