HOJE NO
"PÚBLICO"
Prédio de Cassiano Branco demolido em violação do projecto aprovado
Câmara condicionou obra à manutenção da fachada e embargou-a na terça-feira. O prédio já estava praticamente demolido.
A história voltou a repetir-se: um edifício com valor patrimonial, cuja
demolição integral a Câmara de Lisboa proibira, impondo a manutenção da
fachada, foi quase todo abaixo antes de a fiscalização actuar.
Na terça-feira, duas semanas depois de o blogue do Fórum Cidadania tornar público o início da demolição, e um dia depois de ali ter sido escrito que os três pisos superiores do prédio já tinham sido destruídos, o vice-presidente da câmara, Manuel Salgado, mandou embargar as obras. "Desconformidade com o projecto aprovado" foi o motivo da decisão, informou ontem o Gabinete de Comunicação da Câmara, em resposta ao PÚBLICO.
Na terça-feira, duas semanas depois de o blogue do Fórum Cidadania tornar público o início da demolição, e um dia depois de ali ter sido escrito que os três pisos superiores do prédio já tinham sido destruídos, o vice-presidente da câmara, Manuel Salgado, mandou embargar as obras. "Desconformidade com o projecto aprovado" foi o motivo da decisão, informou ontem o Gabinete de Comunicação da Câmara, em resposta ao PÚBLICO.
Construído nos anos 30 no gaveto da Av. Almirante Reis com a Praça João
do Rio, perto do Areeiro, o imóvel de habitação colectiva que o
arquitecto Cassiano Branco projectou e está inscrito no Inventário
Municipal do Património encontrava-se devoluto há vários anos. A empresa
proprietária (Hotel do Aeroporto, Actividades Hoteleiras, SA) é
presidida pelo anterior grão-mestre adjunto do Grande Oriente Lusitano
(2005-2011), o gestor António Justino Alves Ribeiro.
O PÚBLICO tentou ontem contactar o responsável pela sociedade, mas não
conseguiu localizá-lo. A Hotel do Aeroporto tem sede numa moradia
classificada como imóvel de interesse público, projectada por Porfírio
Pardal Monteiro e situada no n.º 290 da Av. 5 de Outubro, junto às
antigas instalações da RTP. No mesmo edifício, ao qual foi atribuído o
Prémio Valmor de 1930 e é conhecido como Moradia António Bravo, está
também sediada uma empresa denominada Residências Sénior do Areeiro -
Instalações para Idosos, SA, igualmente dirigida por António Justino
Alves Ribeiro.
De acordo com o blogue noticioso O Corvo, os proprietários do edifício
da Av. Almirante Reis já em 2006 tinham apresentado à câmara um projecto
para a construção de um hotel, prevendo então a demolição integral do
imóvel.
O pedido foi indeferido, mas, em 2009, viria a ser aprovado pela
autarquia (com 13 votos a favor e três abstenções) um outro projecto com
a mesma finalidade hoteleira, que contempla a demolição integral do
interior e a construção de um piso suplementar, em mansarda. A proposta
de aprovação, assinada por Manuel Salgado, impôs, contudo, a "manutenção
das fachadas principais" pela empresa.
O hotel então viabilizado terá seis pisos acima do solo (como tinha o
projecto de Cassiano Branco), mais o piso amansardado na zona da
cobertura e três pisos subterrâneos.Desde essa altura, porém, o prédio,
cujas janelas e portas estavam emparedadas há vários anos e tinha grande
parte das paredes cobertas por graffiti, não foi objecto de qualquer intervenção, acentuando-se a sua degradação.
Em Julho de 2010, segundo consta do aviso afixado no estaleiro, o
vereador Manuel Salgado aprovou formalmente o início dos trabalhos, mas o
alvará de obras só foi emitido, a pedido dos proprietários, a 24 de
Abril deste ano, tendo a demolição começado pouco depois.
Tal como aconteceu há alguns meses num outro importante conjunto
arquitectónico existente na Av. Duque de Loulé e cuja licença de obras
obrigava a manter as fachadas e parte dos interiores, a fiscalização
camarária só interveio na Almirante Reis quando a destruição já era
irreversível. No primeiro caso nem chegou a haver embargo. No prédio de
Cassiano Branco, Manuel Salgado mandou parar a demolição quando só
restavam dois pisos em pé.
* Um embargo de fachada, não se acredita que na CML ninguém soubesse da destruição que estava a ser feita. Quem é o responsável do desleixo municipal?
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