HOJE NO
"PÚBLICO"
Projecto cria plástico biodegradável adaptado à agricultura em Portugal
O agricultor ficou maravilhado. “Isto é mágico, o plástico desaparece. É um milagre”, disse à investigadora.
O “milagre” é um produto
biodegradável, feito de amido de milho, que pode ser uma alternativa aos
plásticos cada vez mais em voga na agricultura em Portugal e no mundo. É
o resultado de um projecto de investigação e inovação financiado pela
Comissão Europeia, liderado por uma empresa portuguesa, e cujos
resultados foram apresentados esta semana.
O uso de plásticos na
agricultura tem crescido de tal forma, que já há um termo novo para
designar a combinação de ambos: plasticultura. Além de cobrirem estufas,
embalarem fardos ou acomodarem plantas em viveiros, os plásticos são
cada vez mais empregues directamente no solo, para proteger determinadas
culturas. É uma forma de isolar as plantas de ervas daninhas e de
controlar a humidade e a temperatura, aumentando a produtividade.
Mas
uma vez utilizado, o plástico – normalmente feito de polietileno, um
derivado do petróleo – torna-se um problema. A melhor hipótese é
reciclá-lo. Mas muitas vezes é enterrado no solo ou mesmo queimado.
“O
plástico biodegradável é a solução do futuro”, afirma Paulo Azevedo,
coordenador do projecto e director-geral da Silvex, empresa de Benavente
que fabrica filmes plásticos e que lidera a iniciativa. A empresa
desenvolveu um produto próprio, a partir de uma matéria-prima já
existente no mercado, à base de amido de milho.
O plástico é
aplicado sobre as culturas e, depois da colheita, misturado à terra,
acaba por decompor-se ao longo de alguns meses, digerido por
microorganismos. “É incorporado no solo, junto com o que resta das
culturas. Não há qualquer impacto ambiental”, afirma a investigadora
Elisabeth Duarte, do Instituto Superior de Agronomia, uma das entidades
que também participaram do projecto.
A existência de um filme
plástico biodegradável para a agricultura não é novidade em si. “A
novidade é que tentámos adaptá-lo às condições de Portugal e Espanha”,
diz Elisabeth Duarte. Não só há diferenças óbvias de clima entre pontos
distintos da Europa, como a composição do solo é muito variável –
normalmente com mais matéria orgânica no Norte e menos no Sul.
No
projecto Agrobiofilm, foram estudadas várias formulações para o plástico
e o produto foi aplicado em ensaios experimentais ao longo de três
anos, em culturas de melão, morango e pimento, com resultados
satisfatórios. Também foi testado em vinhas, que revelaram crescer mais
depressa, se plantadas com o filme biodegradável do que em solo nu.
Um
dos objectivos centrais do projecto é quebrar as barreiras comerciais
ao plástico biodegradável, que responde actualmente por apenas 1% do
total utilizado na agricultura. “Até agora, não se conseguiu impor,
porque está pouco divulgado”, diz Paulo Azevedo. Um dos problemas é o
preço, dado que as matérias-primas são mais caras do que o petróleo. O
director-geral da Silvex chama a atenção, porém, para a existência de
uma comparticipação de um terço dos custos com os plásticos
biodegradáveis, numa linha de apoio europeia dirigida a organizações de
produtores.
O projecto Agrobiofilm envolveu também empresas,
instituições de investigação e agricultores da Noruega, França, Espanha e
Dinamarca. “É o primeiro projecto de grande dimensão a nível mundial
nessa área”, diz Paulo Azevedo.
* INTELIGÊNCIA PORTUGUESA!
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