HOJE NO
" JORNAL DE NEGÓCIOS"
Reestruturação da administração
da Santa Sé pode passar pelo fecho
do Banco do Vaticano
Quando assumiu a liderança do Vaticano, o Papa Francisco afirmou que
queria que a Igreja Católica fosse um modelo de honestidade e
austeridade. Uma “igreja pobre para os pobres”. Uma das maiores tarefas
será limpar a imagem da entidade bancária do prelado de Roma.
Um dos maiores testes do novo líder da
Igreja Católica será o que Francisco irá fazer com o Banco do Vaticano,
que há mais de 30 anos tem estado, alegadamente, envolvido em
actividades ilegais e necessita de uma reforma. A tarefa passa por
limpar a imagem do banco, conhecido como Instituto para as Obras de
Religião (IOR).
No último ano, um grupo de trabalho europeu, que investiga lavagem de
dinheiro, revelou que a entidade bancária falhou no cumprimento das
normas de combate aos crimes financeiros.
A reforma do IOR é uma das prioridades do Papa Francisco, mas deve
ainda demorar algum tempo e provavelmente só será feita, segundo a
Reuters, depois da substituição do actual Secretário de Estado do
Vaticano, o cardeal Tarciscio Bertone, que esteve envolvido no escândalo
de fuga de informação confidencial sobre a Santa Sé, conhecido como
“Vatileaks”.
As opiniões dentro da Igreja de Roma dividem-se quanto ao futuro do
banco. “Certamente, se o Papa quiser, pode fechar o IOR”, afirmou um
oficial do Vaticano ligado ao banco, cita a Reuters. Já um outro
oficial, que quis manter o anonimato, considera que é mais provável que
banco sofra uma “séria reestruturação” em vez de encerrar. “Mas não
excluo nada, incluindo o fecho do banco. O Papa Francisco tem feito
coisas surpreendentes todos os dias”, refere o segundo oficial do
Vaticano.
Contudo, as duas figuras acreditam, que numa primeira fase, Francisco
vai instituir um comité de aconselhamento para as mudanças na estrutura
financeira do Vaticano.
“A IOR não é uma parte essencial do ministério da Santa Sé”,
considerou o Cardeal nigeriano John Onaiyekan numa entrevista
televisiva, antes da eleição do novo Papa. “A IOR não é fundamental, não
é sacramental, não é parte do dogma”, acrescenta.
Em 2011, o IOR tinha aproximadamente 21 mil clientes, 63% dos quais
eram membros do clero, 33 mil contas e geria 8,2 mil milhões de dólares
em activos. Antes de abdicar, Bento XVI deixou Ernst von Freyberg aos
comandos do banco. O advogado alemão sucedeu a Gotti Tedeschi, que foi
despedido em Maio de 2012 por alegada oposição às normas de
transparência que o Vaticano pretendia adoptar.
Em Julho de 2012, o Conselho Europeu recomendou à Santa Sé, no
primeiro relatório de avaliação ao prelado de Roma, que reforçasse e
clarificasse o campo de actuação e supervisão, considerando que “há
falta de clareza sobre o papel, responsabilidade, autoridade,
competência e independência da Autoridade Financeira (FIA), enquanto
supervisor do ‘offshore’”. O relatório apontava ainda para que as 46
organizações não-governamentais que actuavam no Vaticano fossem
obrigadas a apresentar contas à FIA.
O Vaticano adoptou, em Abril de 2011, pela primeira vez, legislação
com o objectivo de travar a lavagem de capital, depois das várias
suspeitas sobre a actuação do IOR. Porém, a Comissão Europeia e a OCDE
consideraram o enquadramento legal insuficiente, tendo sido revisto
posteriormente.
O Banco do Vaticano faz parte da “lista negra”, elaborada pelos
Estados Unidos, dos países susceptíveis a operações de lavagem de
dinheiro e financiamento de terrorismo.
A procuradoria-geral de Roma segue de perto o IOR por alegadas
violações da lei. Em 2010, o banco foi investigado pela justiça italiana
sob a suspeita de lavagem de dinheiro.
* Chamar banco a uma "lavandaria" é mesmo um eufemismo.
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