02/04/2013

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HOJE NO
" JORNAL DE NEGÓCIOS"

Reestruturação da administração 
da Santa Sé pode passar pelo fecho 
do Banco do Vaticano

 Quando assumiu a liderança do Vaticano, o Papa Francisco afirmou que queria que a Igreja Católica fosse um modelo de honestidade e austeridade. Uma “igreja pobre para os pobres”. Uma das maiores tarefas será limpar a imagem da entidade bancária do prelado de Roma.
Um dos maiores testes do novo líder da Igreja Católica será o que Francisco irá fazer com o Banco do Vaticano, que há mais de 30 anos tem estado, alegadamente, envolvido em actividades ilegais e necessita de uma reforma. A tarefa passa por limpar a imagem do banco, conhecido como Instituto para as Obras de Religião (IOR).

No último ano, um grupo de trabalho europeu, que investiga lavagem de dinheiro, revelou que a entidade bancária falhou no cumprimento das normas de combate aos crimes financeiros.

A reforma do IOR é uma das prioridades do Papa Francisco, mas deve ainda demorar algum tempo e provavelmente só será feita, segundo a Reuters, depois da substituição do actual Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarciscio Bertone, que esteve envolvido no escândalo de fuga de informação confidencial sobre a Santa Sé, conhecido como “Vatileaks”.

As opiniões dentro da Igreja de Roma dividem-se quanto ao futuro do banco. “Certamente, se o Papa quiser, pode fechar o IOR”, afirmou um oficial do Vaticano ligado ao banco, cita a Reuters. Já um outro oficial, que quis manter o anonimato, considera que é mais provável que banco sofra uma “séria reestruturação” em vez de encerrar. “Mas não excluo nada, incluindo o fecho do banco. O Papa Francisco tem feito coisas surpreendentes todos os dias”, refere o segundo oficial do Vaticano.

Contudo, as duas figuras acreditam, que numa primeira fase, Francisco vai instituir um comité de aconselhamento para as mudanças na estrutura financeira do Vaticano.

“A IOR não é uma parte essencial do ministério da Santa Sé”, considerou o Cardeal nigeriano John Onaiyekan numa entrevista televisiva, antes da eleição do novo Papa. “A IOR não é fundamental, não é sacramental, não é parte do dogma”, acrescenta.

Em 2011, o IOR tinha aproximadamente 21 mil clientes, 63% dos quais eram membros do clero, 33 mil contas e geria 8,2 mil milhões de dólares em activos. Antes de abdicar, Bento XVI deixou Ernst von Freyberg aos comandos do banco. O advogado alemão sucedeu a Gotti Tedeschi, que foi despedido em Maio de 2012 por alegada oposição às normas de transparência que o Vaticano pretendia adoptar.

Em Julho de 2012, o Conselho Europeu recomendou à Santa Sé, no primeiro relatório de avaliação ao prelado de Roma, que reforçasse e clarificasse o campo de actuação e supervisão, considerando que “há falta de clareza sobre o papel, responsabilidade, autoridade, competência e independência da Autoridade Financeira (FIA), enquanto supervisor do ‘offshore’”. O relatório apontava ainda para que as 46 organizações não-governamentais que actuavam no Vaticano fossem obrigadas a apresentar contas à FIA.

O Vaticano adoptou, em Abril de 2011, pela primeira vez, legislação com o objectivo de travar a lavagem de capital, depois das várias suspeitas sobre a actuação do IOR. Porém, a Comissão Europeia e a OCDE consideraram o enquadramento legal insuficiente, tendo sido revisto posteriormente.

O Banco do Vaticano faz parte da “lista negra”, elaborada pelos Estados Unidos, dos países susceptíveis a operações de lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo.

A procuradoria-geral de Roma segue de perto o IOR por alegadas violações da lei. Em 2010, o banco foi investigado pela justiça italiana sob a suspeita de lavagem de dinheiro.

* Chamar banco a uma "lavandaria" é mesmo um eufemismo.

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