18/03/2013

LÍLIA BERNARDES

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Apertem os cintos. 
O piloto sumiu

O PSD/M precisa de um estudo para escolher o caminho? Qual caminho? Comprem um "olho de boi"

É o caos no plateau. Uma fita das antigas. O realizador não consegue que os actores cumpram o guião. Ele próprio baralha-se nas ordens. As falas são atropeladas. Ninguém se entende. A linguagem é rasteirinha. A parvoice pegada toma conta dos actores principais e dos figurantes e instala-se a bagunça. O problema é que a produção custa ao erário público 5 milhões de euros. E todos os anos abrem-se os cordões à bolsa para mais um ano de gags. Para rir? Não. Para chorar de vergonha pela falta de qualidade do filme. 

Não, não é ficção. Foi a Assembleia Legislativa da Madeira durante três dias. A moção de confiança apresentada pelo governo regional leva-nos a uma pergunta: para quê? Qual é a consequência real desta iniciativa? Paródia. Alberto João Jardim, que há muito tempo, mesmo muito, não tem um rasgo de génio, escolhe a via mais fácil e medíocre: transformar estes encontros em palhaçadas e tem um alinhado, o PTP de José Manuel Coelho. O "idiota útil" que os social-democratas tanto gostam. Ou acham que somos todos parvos? Aquela troca de galhardetes - Coelho oferece um fato de prisioneiro, Jardim retribui com um retrato de burro - só interessa ao partido da maioria. O deputado Coelho ainda não percebeu, ou faz que não percebe, os efeitos do ruído dos actos que protagoniza. 

Por outro lado, Jardim desrespeita o parlamento. Não só porque se está nas tintas para o regimento, como a sua ausência nos debates das duas moções de censura (da autoria do PTP e do PS) revelam que se está nas tintas para todo o resto. Isso já sabíamos.
Uma coisa é certa: no parlamento da Madeira é impossível discutir com elevação seja o que for. Uma coisa arrasta a outra e o resultado final é a desgraça total. A Assembleia Legislativa desnivelou há muito tempo. Bateu no fundo. Pior imagem é impossível. Mas o PSD Madeira é o único responsável porque foi quem impôs este registo anarca ao ritmo da malcriação, do insulto, e do pouco respeito pela convivência democrática. 

Um Presidente da Assembleia não pode acicatar os ânimos, não pode despedir-se dos deputados dizendo-lhes: " amanhã há mais do mesmo". Pois há. Miguel Mendonça perdeu a mão. Nem sequer os seus pares o respeitam. Esta loucura coletiva alastrou-se ao ponto do deputado do PCP, Edgar Silva, gritar para a Mesa, "cale-me aquele velho". Aquele "velho" era Jardim. Tudo isto é deprimente. Angustiante. Não é democracia. É outra coisa qualquer. Infelizmente catalogada, à moda da Madeira. 

Esta Madeira que agoniza lentamente. Lembro-me sempre daquela mulher à porta de uma farmácia, na altura em que os descontos na medicamentação estavam suspensos, dizer a chorar: "o dr. Alberto prometeu que cuidava de nós". Não preciso explicar o significado da palavra "cuidar". Cuida-se dos nossos pais, dos nossos filhos, dos nossos amigos. Cuida-se de nós. Alberto João Jardim, o "cuidador dos impossíveis", não mediu as consequências. As reacções a este tipo de comportamento de caudilho é fácil de analisar. 

Quando o coletivo percebe que, afinal, foi abandonado, que não lhe disseram toda a verdade, que o dinheiro esgotou, decepciona-se para depois sentir-se traído, revoltar-se e bater com a porta. Pior fica quando percebe que o comandante não sabe para onde leva o navio porque teimosamente continua no mesmo sítio, ou seja, posiciona o leme como se ainda estivesse a navegar em mar calmo quando, afinal, a levadia entrou para ficar e já levou os mastros. Neste turbilhão, nem sequer o partido que suporta a maioria escapa. Anda tudo à deriva. O PSD/M precisa de um estudo para escolher o caminho? Sejamos mais francos. Qual caminho? Sair do beco em que se meteu juntamente com a governação atabolhoada? Comprem um "olho de boi". Mas o feixe de luz vai bater numa muralha qualquer de betão. 

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
15/03/13

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