Rui Filipe de Menezes Moreira
As candidaturas de Luís Filipe Menezes e de Rui
Moreira à Câmara do Porto são um excelente indício de que as coisas vão
mexer mais na cidade. Não porque haja mais dinheiro mas porque ambos
são empreendedores e radicalmente diferentes de Rui Rio.
É até
extraordinário que o atual presidente da Câmara seja o patrono moral da
candidatura de Rui Moreira. 'Geneticamente', Moreira é mais parecido com
Menezes - por muito que a fação Rio imagine Moreira discípulo do atual
presidente...
Quem conhece o presidente da Associação Comercial do
Porto sabe o 'mundo' que ele pode trazer ao Porto e o que já fez pela
região - o combate voluntarioso contra o aeroporto da Ota é o melhor
exemplo disso. Mas falta que muitas mais pessoas tenham a noção de quem
ele é, além de estar por conhecer se o seu traço aristocrático atrai ou
afasta eleitores. E quanto mais político quiser parecer (como ontem, por
exemplo, no teleponto), menos independente e espontâneo ficará aos
olhos dos eleitores. Ou seja, um político novo num formato velho.
Em
oposição, é impossível não se reconhecer a mudança de Gaia em apenas
uma década. No entanto, muitos eleitores terão de esquecer que é no
partido do Governo que terão de votar (e a tentação do voto de protesto
contra Passos Coelho será enorme...). Vão conseguir pôr a cruz no PSD e
ver depois o seu voto instrumentalizado por Relvas e companhia em noite
eleitoral como sinal de vitória? A derrota de Fernando Gomes, pelo PS,
em 2001, mostra os grandes riscos do candidato laranja.
Os
projetos de cidade de Moreira e Menezes vão ajudar o Porto a aproveitar o
grande fator de mudança dos últimos anos: o acréscimo de turistas
trazido pelas low-cost e o 'boom' de revitalização comercial e
alojamento na Baixa. Mas o grande desafio é o de transformar a Invicta
numa metrópole com prestígio além-fronteiras, capaz de captar marcas que
invistam, e massa cinzenta que aqui queira trabalhar. Isso é muito
diferente de fazer dela uma cidadezinha economicamente anacrónica onde
pontifica um circuito automóvel que custa 2,1 milhões de cada vez aos
contribuintes e é o maior emblema da obra intangível realizada em 12
anos. Infelizmente neste ponto, Menezes, Moreira e até Manuel Pizarro
(PS) são iguais: acham bem este exorbitante epifenómeno 'kitsch' de
velocidade urbana, símbolo da idade das trevas ambientais que lhe está
subjacente. Infelizmente, este legado de Rio é uma nódoa difícil de
lavar junto de políticos à caça de voto.
Nem tudo foi mau com Rui
Rio, obviamente. A requalificação dos bairros da cidade, bem como a
decisão arrojada e certeira de demolir o Bairro de São João de Deus,
foram boas mas não esconderam o essencial desta década: as camadas mais
pobres da população precisam de emprego e de um projeto de vida.
Obviamente, numa conjuntura económica como esta, não é a Câmara,
sozinha, que pode fazer algo contra o desemprego da cidade. E isso é
verdade, hoje. Mas há dez anos, não ter acreditado na cultura como saída
empreendedora de uma nova geração é o maior erro histórico dos anos
Rio.
No final desta corrida, independentemente de tudo o que
acontecer, teremos Menezes e/ou Moreira na Câmara, ou os dois. É uma
esperança nova. Por muito veneno que imensos interesses possam instalar
entre ambos, seria uma pena que esta eleição não resultasse numa
extraordinária nova força para o Porto.
P.S.: A decisão de ontem
do Tribunal Cível de Lisboa de impedir Fernando Seara de se candidatar à
Câmara da capital tem os fundamentos certos para resolver a dúvida
sobre todos os candidatos (Menezes incluído). O juiz, ao invocar
essencialmente o artigo 118 da Constituição que menciona o princípio da
renovação política (e já não apenas a querela do presidente 'de/da'
Câmara), lança uma nova questão para o Tribunal Constitucional dirimir:
pode ser constitucional uma lei do Parlamento que impede mais de três
mandatos dos presidentes de câmara e deixa de fora dessa limitação os
líderes dos governos regionais dos Açores e Madeira ou o
primeiro-ministro? Diz a Constituição: "Ninguém pode exercer a título
vitalício qualquer cargo político de âmbito nacional, regional ou
local.". Qual o fundamento para limitar apenas o poder executivo
autárquico?
21/03/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário