HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Teodora Cardoso:
"A troika é muito pior do
que os mercados"
A economista Teodora Cardoso considerou hoje que
os mercados deram demasiado crédito a Portugal e criticou o excessivo
optimismo da troika no plano de resgate para o país, considerando que em
muitos aspectos a troika é pior que os mercados.
"Antes, os mercados faziam todos os
possíveis para nos financiarem. Agora, quem nos financia é a troika
[Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário
Internacional]. A troika é muito pior do que os mercados, em vários
sentidos", afirmou a responsável, que preside ao Conselho de Finanças
Públicas.
Teodora Cardoso lançou esta opinião no decorrer da sua intervenção no
Fórum das Políticas Públicas, promovido pelo Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa.
Já à margem do evento, questionada pelos jornalistas sobre esta
afirmação, Teodora Cardoso afirmou que "há irracionalidade dos dois
lados. Os mercados acharam que a dívida ia ser paga e deixaram-na chegar
a níveis injustificáveis. A troika teve uma visão de muito curto prazo
e, por isso, não fez a pressão necessária para avançarem outras reformas
em Portugal".
Segundo a economista, até ao início da crise da dívida na Europa, "os
mercados faziam todos os possíveis" para financiar Portugal, até porque
"os mercados financiavam-se facilmente através do sistema que esteve na
origem da crise de 2007".
Mas, a partir dessa data, "tudo isso foi ao ar", sublinhou, frisando
que "os países reagiram à crise de forma diferente, porque também tinham
condições diferentes".
Teodora Cardoso salientou que "dentro da União Europeia, houve países
muito afectados pela crise e outros que não. Nem é preciso falar da
Alemanha. No norte da Europa, devido à crise dos anos 90, os países
tinham limitado o endividamento e resistiram melhor ao impacto da
crise".
Ainda assim, na sua opinião, "não se pode dizer que tudo isto é uma desgraça vinda do exterior".
E a saída da crise está nas mãos dos portugueses, defendeu: "As
medidas de carácter institucional não podem ser definidas pela troika.
Nem sequer tem o conhecimento suficiente para isso sobre o país e sobre a
sociedade portuguesa. Estas políticas têm que ser assumidas pelo
próprio país".
Para tal, defendeu que "é preciso um pacto de regime para os temas
profundos", já que as mesmas só são legitimadas "por uma maioria
qualificada".
E acrescentou: "Não é possível que o principal partido da oposição,
seja o PS, como agora, ou o PSD, diga que são necessárias reformas
quando está no poder e as critique quando está na oposição".
Teodora Cardoso disse ainda que "as crises de balanço, como a actual,
nunca se resolvem rapidamente", prolongando as dificuldades vividas
pelos portugueses.
"Se não mudarmos de caminho, não conseguimos convencer os
investidores a financiarem-nos. Onde é que vamos poder buscar
financiamento? Agora, termos acesso a financiamento apenas para
regressarmos ao sistema anterior e continuarmos a acumular dívida está
fora de questão", salientou.
"As soluções têm que partir de uma reformulação do quadro
institucional da política económica e tem que ser feita por nós e não
pela 'troika'. A 'troika' não sabe, nem tem que saber. Uma reformulação
desta natureza tem que ser consensual dentro do país para funcionar",
considerou.
A responsável reforçou que Portugal está actualmente numa
encruzilhada: "Podemos optar entre ter uma crise muito prolongada, sem
alterar nada de fundo, ou reconhecer a realidade e procurar corrigi-la.
Nessa altura poderemos recuperar o acesso ao investimento".
E concluiu: "O investimento é a chave da saída da crise. Mas esse
investimento não pode ter por base o aumento da dívida. Os investidores
têm que acreditar que vale a pena investir em Portugal. Há aqui a
possibilidade de encurtar a crise. Ao reconhecer as suas razões e ao
alterá-las, ganharemos a credibilidade dos investidores".
* Há já algum tempo que prestamos muita atenção às afirmações desta senhora, ao contrário do governo prima pela coerência.
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