HOJE NO
"i"
Partidos travam candidaturas independentes às eleições legislativas
Petição reuniu mais de 6 mil assinaturas e conta com o apoio de Campos e Cunha, Henrique Neto e Ribeiro e Castro. AR debate o assunto
E se o movimento Que Se Lixe a Troika quisesse concorrer às
eleições legislativas de 2015? Não podia. Pelo menos não como movimento,
tinha de se constituir como partido e só então podia formalizar a sua
candidatura. Em Portugal, o artigo 151.o da Constituição estabelece que
só os partidos políticos podem concorrer às eleições legislativas. Farto
da “falta de alternativas” no sistema político português, um grupo de
jovens lançou uma petição online para mudar este artigo e abrir a
eleição a movimentos independentes. Em menos de quatro meses conseguiram
reunir mais de 6 mil assinaturas e a proposta vai ser discutida no
parlamento, mas o mais certo é esbarrar nas reservas dos partidos.
A ideia da petição online para mudar o artigo 151.o (ao lado, em
amarelo) começou numa conversa informal entre antigos colegas
universitários. “A verdade é que existe muita contestação, mas é preciso
passar à prática e mudar coisas mais objectivas”, sublinhou Bruno
Martins, o primeiro signatário da petição e integrante do Movimento
Independente para a Representatividade Eleitoral (MIRE), que no passado
dia 14 de Fevereiro entregou a petição na Assembleia da República, em
declarações ao i. Com 35 anos e a trabalhar em Angola, Bruno Martins
considera que neste momento, no sistema político português, “há falta de
alternativas”, e essa foi a principal razão para o grupo de cerca de 15
amigos lançar a petição.
A iniciativa foi crescendo principalmente através das redes sociais e o
número de signatários passado pouco tempo do lançamento da petição
online surpreendeu Bruno Martins. “Temos um grupo no Facebook, mas o
MIRE nunca teve reuniões nem nada disso. O movimento não é estruturado,
acontece tudo através das redes sociais”, assegurou Martins.
Notáveis apoiam
A iniciativa chamou a atenção de
deputados e outras figuras políticas. Entre os 6285 signatários
encontram-se nomes como Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças,
Henrique Neto, antigo deputado e dirigente socialista (ver P&R) e
José Ribeiro e Castro, deputado e ex-líder do CDS. “De forma geral, sou
aberto a candidaturas independentes. Os sistema democrático ganha em ser
aberto”, afirmou ao i o deputado centrista, que se preocupa há muito
com o descontentamento e o afastamento progressivo da população
portuguesa do sistema político. “Há 20 anos que se fala em mudar as leis
eleitorais. Como foi possível chegarmos a isto? Aumentou o
descontentamento e ao mesmo tempo a aspiração a reformas bem dirigidas,
que aumentem a qualidade da decisão política e do controlo por parte dos
eleitores”, alertou Ribeiro e Castro.
A alteração deste artigo envolveria sempre uma revisão constitucional.
Para o MIRE, mais que apressar uma revisão da Constituição, a ideia é
“marcar a agenda política”. “A mensagem da petição passou pela
simplicidade da ideia. É difícil ser contra esta ideia, embora haja quem
desconfie”, diz Bruno Dias.
Partidos desconfiam
Os partidos garantem que estão
abertos à discussão, mas olham com reservas para a possibilidade de
perderem o exclusivo nas candidaturas ao parlamento. A deputada
social--democrata Maria Paula Cardoso entende que as candidaturas
independentes se “esgotam na causa” que defendem e “têm dificuldade em
apresentar um programa de continuidade”, mas garante que vai aproveitar a
oportunidade para “propor a reflexão” dentro do PSD.
O vice-presidente da bancada do PS Mota Andrade não se opõe a esta
mudança, mas receia a instrumentalização das legislativas para
candidaturas de quem foi afastado pelos seus partidos. Apesar disso,
o PS é o partido que manifesta mais abertura para acabar com o monopólio
dos partidos. José Junqueiro diz que não conhece ainda a petição, mas
concorda com “o princípio do alargamento da participação democrática”.
Já os comunistas não simpatizam com a ideia. “Quem concorre deve
fazê-lo com base num programa de governo e é isso que torna os partidos
estruturas responsabilizáveis”, disse o deputado António Filipe na
audição parlamentar aos autores da petição. O assunto vai ser discutido
em breve no parlamento, mas o mais certo é os partidos não concretizarem
a pretensão destes cidadãos.
* São precisas ideias novas na casa das leis que neste momento mais parece um covil de interesses.
Os partidos com assento parlamentar defendem interesses corporativos e têm muito medo da existência de deputados verdadeiramente independentes, livres do jugo da obediência servil partidária.
É urgente uma lei que permita a existência de círculos uninominais.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário