Precisa-se: evangelizador
De acordo com os jornais italianos, é provável que o próximo Papa venha de um país do Terceiro Mundo. Cardeais portugueses podem finalmente sonhar
Percebemos que um líder
religioso é, de facto, inspirador quando as suas atitudes infundem
esperança até nos incréus. É o que acontece com Bento XVI, cuja
resignação traz um pouco de ânimo não só a ateus como eu mas, pareceme, a
portugueses de todos os credos.
Em primeiro lugar, há a questão da sucessão. De acordo com os
jornais italianos, é provável que o próximo Papa venha de um país do
Terceiro Mundo. Os cardeais portugueses podem finalmente sonhar. Será
desta? A hipótese de haver um português como chefe de Estado de um país
rico é muito rara, e excelente para Portugal embora péssima para o país
em questão, como a história parece indicar.
Em segundo lugar, é muito importante não esquecer que o Papa é um
exemplo a seguir por todos os católicos. Ora, Bento XVI acaba de
renunciar ao seu cargo por se sentir cansado e fisicamente fraco.
Portanto, a pergunta que todos fazemos, com uma ansiedade muito devota,
é: será Vítor Gaspar católico? Deus queira que sim. Gaspar também parece
cansado. Ninguém tem olheiras tão fundas se anda a descansar o
suficiente.
E aparenta estar fisicamente fraco.
É manifesto que lhe custa falar. Aquele tom pausado é o mesmo com
que, nos filmes, os moribundos dão recados importantes aos amigos e à
família. Nas mesmas condições, o Papa renunciou.
É certo que Vítor Gaspar tem o auxílio da troika, ao passo que o
Papa tem o auxílio de Deus. Concedo que o ajudante do ministro é
ligeiramente mais poderoso.
Mas, ainda assim, os casos são muito semelhantes. Se Gaspar fosse
católico, creio que não teria outro remédio senão seguir as pisadas do
Santo Padre.
Aquilo de que Portugal precisa é de um pregador persuasivo. Um
homem que, munido de uma bíblia ou duas, vá evangelizar para o
Ministério das Finanças como durante os descobrimentos outros sacerdotes
iam evangelizar para o Brasil. Sabendo que irá provavelmente encontrar
mais selvagens do que os seus antepassados encontraram em terras de Vera
Cruz. Sabendo que o espera uma tarefa muito difícil, porque Vítor
Gaspar já tem religião conhecida: professa uma fé absolutamente cega nos
mercados, e por isso talvez tivesse de começar por ser politeísta. O
pregador terá de ser alguém suficientemente versado em economia para se
fazer entender junto de Vítor Gaspar, e suficientemente devoto para o
converter ao catolicismo. Convinha que fosse ao mesmo tempo um
economista experimentado e um fanático religioso.
Nunca pensei dizer isto, mas Portugal precisa de João César das Neves.
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