HOJE NO
"PÚBLICO"
PGR de Angola condena “violação do segredo justiça” em Portugal
A Procuradoria-Geral (PGR) de Angola classificou hoje como
“despudorada” e “desavergonhada” a forma como o segredo de justiça é
“sistematicamente” violado em Portugal em casos relativos a “honrados”
cidadãos angolanos.
ESTES SÃO HONRADOS |
O protesto “veemente” foi feito num comunicado enviado à agência Lusa em Luanda e refere-se à publicação pelo semanário Expresso
de uma notícia sobre a investigação que o Ministério Público de
Portugal abriu contra o procurador-geral de Angola, João Maria Sousa,
por alegada “suspeita de fraude e branqueamento de capitais”.
A
PGR angolana classifica a notícia como “vexatória” e considera que peca
por “falta de ética, profissionalismo e objectividade por parte de quem
violou o segredo de justiça e de quem, de má-fé, a veiculou”.
A
“falta de ética, profissionalismo e objectividade” invocadas pela PGR
angolana assentam na difusão da notícia sem se ter em conta “a lesão de
bens jurídicos constitucionalmente protegidos” em Portugal e Angola,
“não menos importantes do que o direito de informar”.
Por
considerar que não se pode manter “indiferente perante tão lastimável
situação”, a PGR angolana, “em defesa do bom-nome da República de
Angola, enquanto Estado independente e soberano, do Ministério Público e
de todos os magistrados angolanos”, expõe a sua versão dos factos no
comunicado, com quatro páginas.
CASAS DE GENTE HONRADA |
Assim, a PGR angolana considera
que a “Averiguação Preventiva” em curso na Direcção Central de
Investigação e Acção Penal (DCIAP), do Ministério Público português,
constitui “um procedimento administrativo normal”, instaurado contra
qualquer pessoa que receba valores através de transferência bancária.
Esse
procedimento, que não significa que o visado seja autor de qualquer
infracção criminal, visa apurar a legalidade, acrescenta o comunicado,
relativamente aos factos noticiados pelo Expresso, que João
Maria de Sousa é accionista de um grupo empresarial que integra diversas
sociedades, confirmando ter sido feita, em Novembro de 2011, uma
transferência correspondente a 70 mil euros, para uma conta titulada
pelo PGR angolano no Banco Santander Totta, em Lisboa.
Mais à frente, assegura-se no comunicado que o jornalista e o semanário Expresso vão ser chamados a provar a alegação de que quatro milhões de euros terão sido entregues a João Maria de Sousa.
“O articulista do jornal Expresso
ultrapassou os limites do permitido em jornalismo, ao escrever,
caluniosamente, que 4 milhões de euros foram recuperados e entregues a
João Maria de Sousa, o que, por ser uma grosseira mentira, eivada de
má-fé, o articulista e o jornal Expresso serão, a seu tempo,
chamados a provar tais afirmações”, relacionadas com transferências
ilícitas “por meio de burlas ocorridas no Banco Nacional de Angola”,
descobertas em 2009 e cujo inquérito corre no DCIAP em Portugal.
A
concluir o comunicado, a PGR angolana afirma ficar a aguardar que o
DCIAP faça uso dos instrumentos legais previstos na cooperação jurídica
entre Portugal e Angola, “para obter das autoridades angolanas e do
próprio visado os documentos e esclarecimentos de que necessita para
instruir a publicitada Averiguação Preventiva”.
PARADOXO=CRIME |
Nessa altura,
conclui, “dará luz à verdade dos factos e colocará fim às apressadas
conclusões tiradas neste episódio por gente mal-intencionada que
entregou para divulgação na imprensa informações sobre factos referentes
a um processo regido pelo segredo de justiça”.
No domingo, o Jornal de Angola, em editorial, também já fazia várias críticas a Portugal.
Sem nunca fazer referência à notícia do semanário Expresso
sobre uma investigação ao procurador-geral da República angolano João
Maria de Sousa, por fraude fiscal e branqueamento de capitais, o
director do único diário angolano, José Ribeiro, critica as instituições
portuguesas, como a Procuradoria-Geral da República (PGR), duvida da
boa vontade de Portugal nas relações bilaterais com Angola, queixa-se de
uma “perseguição aos interesses angolanos” e aponta o alvo ao ministro
de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que esteve
recentemente numa visita a Luanda, antes de deixar a porta aberta a um
entendimento.
“Por continuar ainda hoje, décadas depois da
independência, a perseguição aos interesses de Angola em Portugal, soa
mal e gera muita desconfiança quando vem a Luanda um ministro do Governo
de Lisboa afiançar que a amizade entre Portugal e Angola continua de pé
e os investimentos angolanos são ‘bem-vindos’ em Portugal. Já começamos
a acreditar que isso não é sincero”, escreve José Ribeiro no texto
intitulado Portugal e Jonas Savimbi.
Mais: o
editorialista acusa a imprensa e as instituições em Portugal de
favorecerem a UNITA do defunto líder Jonas Savimbi e de prejudicarem os
representantes do Governo de Angola. “Nunca a Procuradoria-Geral da
República portuguesa ou os serviços de banditismo investigaram os
traficantes e criminosos que circulavam livremente em Portugal”,
escreve, depois de acusar os dirigentes da UNITA de andarem “décadas por
Lisboa a traficar armas e diamantes”.
O PÚBLICO tentou sem êxito
obter um comentário do ministro Paulo Portas este domingo. Num contacto
no sábado, a assessora de imprensa da PGR não confirmou nem desmentiu
qualquer investigação a João Maria de Sousa que, segundo a edição do Expresso,
seria suspeito de transferir 93 mil dólares de uma empresa offshore
para uma conta do Santander Totta em Portugal, através de uma conta do
Banco Comercial Português das Ilhas Caimão. O semanário dizia ainda que o
ministro Paulo Portas tem dado especial atenção a estas investigações,
para impedir o reacender de um conflito diplomático entre Lisboa e
Luanda.
* Os portugueses conhecem bem os "honrados" cidadãos angolanos intimamente ligados a "honrados" cidadãos portugueses.
- Sr PGR de Angola, vá-se catar.
.
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