HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Qual o papel da Cultura na Economia?
A Salsa pode explicar
"O inferno são os outros". “Gostaria que esta
fosse uma citação de um economista, mas não.” É de Jean-Paul Sartre,
escritor e filósofo existencialista. Da Cultura, portanto, salienta José
Tavares, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.
A
Economia é uma ciência, e como tal tem um método. Como centra o seu
estudo no indivíduo, convencionou-se chamar-lhe “individualismo
metodológico.” O princípio afasta, numa análise superficial, a
disciplina da cultura. Pode dizer-se que se encontram nos “antípodas”
uma da outra, explica José Tavares, professor de Economia da
Universidade Nova de Lisboa. Mas um olhar atento vislumbra diversos
pontos de contacto.
Foi isso que o académico procurou demonstrar, na apresentação que fez durante a conferência "Perspectivas para a Cultura no Quadro Estratégico Europeu". Como ciência social, a economia procura responder aos problemas do indivíduo. O primeiro de seis é a relação com “os outros”.
“Este é um problema com que a economia lida com muita modéstia porque
é muito difícil ponderar valores inter-subjectivos”, explicou José
Tavares. Refere a citação: "o inferno são os outros". “Eu gostaria que
esta fosse uma citação de um economista, mas não.” É de Jean-Paul
Sartre, escritor e filósofo existencialista. Da Cultura, portanto.
Um segundo problema para o qual a economia procura solução é “o
tempo”. Por ser escasso, é, por definição, uma temática a tratar com
economia. E a Cultura também se relaciona com o tempo.
“Muito do que valorizamos na Cultura é algo que nos é legado por
pessoas com as quais nunca convivemos. Isso é valorizado porque a sua
obra sobreviveu ao tempo. Há produtos culturais que não podemos avaliar
pelo seu impacto, pelo resultado imediato.”
“O colectivo”, é o terceiro problema. “Todos percebemos que há um
ênfase individualista” na ciência económica. Mas, ao longo dos últimos
50 anos, tem havido uma procura para “integrar comportamentos colectivos
que não podem ser entendidos com uma atenção ao indivíduo.”
“Aqui, também, a ligação com a cultura é óbvia”, prossegue José
Tavares. “A promoção e consumo de cultura têm elementos colectivos,
elementos de grupo, de herança e de legado para o futuro que não são
possíveis de pensar de forma individualista.”
Salsa produz felicidade.
Cultura produz felicidade
Por outro lado, as preferências do indivíduo: É o quarto problema e
diz-nos, ao contrário do que se pensa, que “a economia não se preocupa
tanto com dinheiro e produção”. Preocupa-se, antes, com as preferências.
Sem fazer “nenhum julgamento de valor” entre o que é possível produzir e
aquilo que se produz de facto. “O que as pessoas querem é aquilo que
nos deve guiar [aos economistas]. O juízo da economia é: o que devemos
fazer para chegar onde as pessoas querem.”
Na cultura, acontece o mesmo: “não nos devemos preocupar com ela
apenas porque tem um impacto no produto, no emprego ou no valor
acrescentado.” Até porque o benefício chega, muitas vezes, em forma de
bem-estar, difícil de mensurar.
Ainda assim, existe quem se dedique a medir a felicidade e, de um
estudo citado por José Tavares, observam-se dois factos: não existe
nenhum país mais rico e menos feliz do que Portugal e há muitos países
que, com menos recursos, são mais felizes.
“Nenhum país que tenha mais rendimento é tão pouco feliz como nós. No
entanto, entre os países com menor rendimento há muitos com maior
felicidade. Muitos economistas chamam a isto ‘Salsa effect’”, ou "efeito
Salsa". A cultura deve, portanto, ser produtora de felicidade e não só
de produto.
Um quinto problema que a economia procura solucionar é encontrar o
equilíbrio. A intersecção que permite retirar o máximo de bem-estar, dos
compromissos que é necessário fazer.
“Ao contrário da cultura, que procura ruptura, diferenciações,
mudanças, choques, críticas, etc., a economia tem uma obsessão do
equilíbrio”, diz o professor. Contudo, também aqui tem havido uma
convergência com a cultura. “Cada vez mais, se estuda respostas a
desequilíbrios e a forma como os desequilíbrios levam a oportunidades
melhores”, referiu, lembrando que vários economistas têm discutido como
encontrar oportunidades na crise.
A racionalidade é o último dos problemas abordados pelo economista.
“Há vários tipos de racionalidade e todos são legítimos. A racionalidade
cartesiana, matemática, não resolve problemas sociais ou do colectivo.
Já a racionalidade que envolve as emoções, as percepções do outro
chamada inteligência emocional, é muito importante socialmente”. A
economia começa a considerar estes diferentes tipos de racionalidade e,
dessa forma, aproxima-se da cultura.
* Mas, professor, como se resolve o problema num país que tem um governo de nabos, o chamado "nabo efect" ???
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