O filme em rodagem
O princípio do
ano parece ter trazido a expectativa de grandes novidades para 2013, o
ano que deve testar de vez a fiabilidade dos orçamentos de Vítor Gaspar,
assistir à polémica escolha das medidas para o corte de 4 mil milhões
que o Governo pretende fazer na dimensão do apoio social e, até,
referendar a saúde política de muitos protagonistas nas eleições locais
de outubro.
Nas duas áreas políticas principais, o nervosismo cresce de forma evidente.
O
PSD e o CDS mantêm a tensão que atingiu o auge no folhetim da TSU e
prosseguiu com o ataque aos reformados, a quem Portas tinha jurado
defender.
No PS já há quem, finalmente, olhe com apetite o lugar de António José Seguro.
O filme, que de filme se trata, para melhor compreensão, podia ter a seguinte sequência.
Cena 1
[Na área política da coligação no poder] António Pires de Lima, homem
importante do CDS, defende que o primeiro-ministro deve identificar e
demitir o responsável pelas fugas de informação para a imprensa de temas
como o relatório do FMI. Fala em "deslealdade política grave" e afirma:
"Eu não creio que uma tão rara, infeliz e tola forma de comunicar com
os portugueses temas tão importantes seja vontade do senhor
primeiro-ministro." Pois, na verdade, não é Pedro Passos Coelho o
responsável pelo comunicação - quem será? Mistério.
Cena 2
Paulo Portas toma um pequeno-almoço com Miguel Relvas mas ainda não é
desta que parece disposto a dar o aval do CDS a uma última versão da
privatização da RTP. O dossier, que como se sabe começou com a certeza
do PSD numa privatização a 100%, encolheu para uma venda parcial, com
uma eventual concessão de serviço público ao comprador minoritário que
pode ser inconstitucional. Um enorme sapo que Portas resiste a engolir.
Já basta o que bastou.
Cena 3 Pedro Passos
Coelho, ontem mesmo, no debate quinzenal na Assembleia da República,
afirma: "Este Governo só não concluirá o seu mandato se os partidos do
Governo não quiserem." Para bom entendedor.
Cena 4
[E agora na área do principal partido da oposição, o PS] António Costa,
presidente da Câmara de Lisboa, considera, em habitual programa
televisivo, que a direção do seu partido, o PS, está "diminuída" dada a
sua má relação com o passado recente da liderança de José Sócrates.
Segundo ele, "não se pode fingir que o passado não existe". António
Costa bem sabe do que fala.
Cena 5 Carlos César,
ex-presidente dos Açores, e Augusto Santos Silva, ministro de Sócrates,
também se pronunciam no sentido de António Costa: em resumo, a liderança
- que vai ter de ser apreciada este ano pelos militantes - é fraca. Ora
aqui está uma curiosa coincidência. A política é dada a estas coisas.
Cena 6
Marques Mendes, querendo ajudar quem lhe vai fornecendo "material" para
afrontar o anterior monopólio noticioso de Marcelo Rebelo de Sousa,
intromete-se fora da sua área natural e desvenda: "Há sondagens dentro
do PS que dão António Costa como favorito dos portugueses." Não se sabe,
mas, partindo do princípio de que o estudo exista, admite-se que sejam
os mesmos portugueses que, se pudessem ter votado no PSD, teriam
preferido Manuela Ferreira Leite ao homem que acabou por ser
primeiro-ministro. O povo é assim, tem lógicas que os militantes
desconhecem.
Cena 7 António José Seguro, sem
referir nunca explicitamente a palavra eleições, dá um passo mais
alargado. No futuro, quando chegar a hora, quer "uma maioria absoluta",
coisa que até hoje só Sócrates conseguiu. Nem Mário Soares. Ou seja, o
líder socialista vai engrossando a voz.
O filme ainda está em
plena rodagem. Seguir-se-ão rapidamente vários outros episódios.
Aparecerão outros protagonistas, sobretudo em cenas menores. Com uma
certeza: Passos Coelho, que afinal de contas nunca apontou a qualquer
português o caminho do estrangeiro, vai ter de lidar em 2013 com
adversidades escritas nas estrelas e o lugar de Seguro, de repente,
tornou-se bastante apetecido. Vá lá saber-se porquê.
Por
sorte, num momento importante da história do País, o consenso social tem
sido defendido por homens responsáveis como Silva Peneda, João Proença,
António Saraiva, João Vieira Lopes. Se este precioso ativo está em
risco de ser delapidado isso é única e exclusiva culpa do Governo, que
deveria empenhar-se em corrigir erros, e afrontas, recentes.
Enganar-se-á quem pense que basta ter uma maioria no Parlamento e um
acordo com a 'troika'. Este último aviso foi Francisco Balsemão,
insuspeito de ser do contra, quem o fez.
Director
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS
19/01/13
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